Clube do interior de Alagoas será o primeiro adversário do Fla na Copa do Brasil e tem folha salarial 26 vezes menor que o salário de Ronaldinho Gaúcho
O dia 16 de fevereiro é aguardado com ansiedade por todos em Murici, Alagoas. Nesta data, o time local, que leva o nome da cidade, recebe o badalado Flamengo, provavelmente com Ronaldinho Gaúcho e companhia. A partida, no entanto, não será no município, localizado a 50 Km de Maceió. Com espaço para apenas 3 mil torcedores, o estádio José Gomes da Costa não tem como receber um jogo desse porte, e o confronto será realizado no Rei Pelé, na capital alagoana, embora a CBF não determine capacidade mínima para os estádios na primeira fase da Copa do Brasil.
A partida será uma das mais importantes da história do modesto Murici. Fundado em 1976, o clube nunca teve grande destaque nem mesmo no cenário estadual. Em 2010, a maior glória: o título alagoano, que garantiu a inédita vaga na Copa do Brasil.
E logo em sua estreia em competições nacionais, o adversário será o time de coração do presidente do clube, Geraldo Amorim. Torcedor fanático do rubro-negro carioca, o dirigente comemorou em especial um reforço do oponente.
- Torcedor apenas não, sou até sócio contribuinte. Só quem não gostou da contratação do Ronaldinho foram os torcedores dos adversários, que ficam dizendo isso e aquilo dele. Quem não gostaria de ter o Ronaldinho no seu time? - desafiou o dirigente.
Nem por isso, no entanto, Geraldo Amorim acha que o Flamengo terá vida fácil em Alagoas e promete deixar a emoção de lado no dia 16 de fevereiro.
- O Flamengo vai ganhar outros campeonatos. Tem que vencer o Brasileiro. Deixa a Copa do Brasil pra lá. Vai ter uma pedra no caminho logo no primeiro jogo. Já pensou o Murici, esse caçula da Copa do Brasil, eliminar o Flamengo com Ronaldinho e tudo? - imaginou, às gargalhadas.
Oportunidade financeira
coração de lado no dia 16 (Divulgação/Site Oficial)
Além da grande visibilidade, o confronto contra o Flamengo deve gerar um dinheiro muito bem vindo ao clube alagoano. Somente pela participação na primeira fase da Copa do Brasil, o Murici receberá cerca de R$ 80 mil. A renda da partida também é vista com bons olhos por Geraldo Amorim, que pretende aproveitar a 'Ronaldinhomania'.
- Ainda não decidimos o esquema de ingressos para a partida. Vamos nos reunir com a Federação Alagoense. Mas se o Ronaldinho vier, o preço vai ser um. Senão, devemos colocar um preço mais acessível. Usaremos toda a renda da partida para melhorias no nosso centro de treinamento - admitiu o dirigente.
O dinheiro, realmente, seria muito bem vindo ao Murici. Atualmente, o clube tem uma folha salarial de R$ 50 mil. Cerca de 26 vezes menos do que Ronaldinho receberá por mês no Flamengo. A arrecadação mensal do clube, com patrocínios e cota de TV, também beira aos R$ 50 mil.
- No Murici, é assando e comendo, como se diz por aqui - brincou o dirigente com a situação financeira do clube.
Jogo para elevar a autoestima da população
Além do aspecto financeiro, o jogo contra o Flamengo servirá para levar um pouco de alegria à população de Murici, que ainda se recupera de uma tragédia recente. Em julho do ano passado, uma enchente destruiu boa parte da cidade e deixou vários mortos e desabrigados. Na ocasião, até jogadores perderam suas casas. Depois disso, o antigo Centro de Murici virou deserto, o comércio local sofreu um forte baque, e várias casas, condenadas pela Defesa Civil, estão abandonadas.
Renir Calheiros, prefeito do município e dono do clube, acredita que a partida contra o Flamengo será importante para ajudar a cicatrizar a ferida.
- O jogo não será na cidade, mas estamos preparando alguns ônibus para levar os torcedores. A vida tem de seguir. A cidade está retomando sua rotina, e o futebol é mais um atrativo para levantar a autoestima da nossa população - disse o político botafoguense, que é irmão do senador alagoano Renan Calheiros.
Na esfera esportiva, a tragédia de julho de 2010 também atrapalhou o Murici. Com a cidade em estado de calamidade pública, o clube abriu mão da participação na Série D. O estádio José Gomes da Costa, inclusive, serviu com base do exército durante as enchentes.
Reencontro com R10
Ronaldinho (Foto: Divulgação/Site Oficial)
Segundo os próprios dirigentes, o elenco do Murici é modesto e não com conta atletas conhecidos. Mas um, diferentemente da maioria dos jogadores da Série A do futebol brasileiro, já teve a chance de enfrentar Ronaldinho. Trata-se do lateral-esquerdo Paulinho.
Um dos destaques do Murici, o ala, como o próprio se define, enfrentou o novo reforço rubro-negro em um amistoso beneficente entre Amigos do Ronaldinho e Seleção Paraense, em dezembro de 2009. Ele foi convidado pelo amigo Paulo Henrique Ganso - meia do Santos - a participar do jogo.
- Conheço o Ganso desde pequeno. Fizemos toda a base juntos no Paysandu - disse o paraense.
Em relação à partida, relembra que teve boa atuação nos 15 minutos que ficou em campo. Tanto que acabou convidado pelo treinador dos Amigos do Ronaldinho, Jair Pereira, para jogar no Itumbiara, de Goiás. Sobre o novo camisa 10 da Gávea, Paulinho elogia o craque, mas revela que não teve oportunidade de conversar com o meia.
- Estava começando a jogar profissionalmente. Foi muita alegria jogar contra o Ronaldinho. É um jogador muito diferenciado, e bota diferenciado nisso. Mas não falei com ele, estava cercado por muitos seguranças com cara de bravos - contou, aos risos.
fonte: globo