sexta-feira, 16 de julho de 2010

Clube alagoano perde quase tudo em enchentes e abandona Série D

Sede do Murici foi destruída nos desastres na região e até o troféu do título estadual desapareceu. Clube luta para manter jogadores em atividade

Por Mayra Siqueira São Paulo

Foram 11 anos na espera para uma glória que acabou manchada por um desastre natural. A festa do Murici Futebol Clube durou pouco mais de um mês. As enchentes que devastaram diversas cidades no estado de Alagoas não perdoaram o pequeno município de Murici, onde nasceu o senador Renan Calheiros, e turvaram a única glória do time local, que acabara de sagrar-se campeão estadual pela primeira vez desde que estreou no torneio, em 1999.

enchente cidade murici alagoasAs enchentes destruíram cerca de 50% da cidade de Murici, em Alagoas (Foto: Divulgação Muriciweb)

- A sede do clube caiu. O estádio José Gomes da Costa está sendo utilizado para pouso e decolagem dos helicópteros do Exército, pois a cidade está servindo como ponto de distribuição de material, alimentos e ajuda para as outras cidades próximas – afirmou o dono do clube e também prefeito da cidade, Remi Calheiros, irmão de Renan.

O troféu de campeão desapareceu, e até hoje ninguém faz ideia do paradeiro dele"
Remi Calheiros

As palavras do político retratam apenas superficialmente a situação – não só da cidade, mas de um time que perdeu seu rumo. A equipe desistiu de disputar a Série D do Brasileirão no ano de 2010, e deu vaga ao CSA, devido ao estado de calamidade pública decretado pela Prefeitura e pelo Governo do Estado. A palavra de ordem é tentar manter a confiança, uma vez que o inédito título estadual garante a participação do Murici na Copa do Brasil de 2011. Porém, a cabeça de todos os moradores da cidade não pode ser outra, senão a necessidade de dar vida outra vez ao município, quase 50% destruído pelos alagamentos.

- A reestruturação é o foco. Disputar a Série D, buscando a classificação pra Série C até o final do ano, e começar a preparação pro Campeonato Alagoano de 2011 e a Copa do Brasil era a ideia. Agora, essa programação foi toda por água abaixo. Temos que reestruturar a cidade primeiro, para depois poder pensar nisso – acrescentou.

Consolo para o torcedor? Ainda não. Na confusão, até o principal símbolo da conquista do Campeonato Alagoano foi arrancada do clube.

- O troféu de campeão desapareceu, e até hoje ninguém faz ideia do paradeiro dele – acrescentou Remi Calheiros.

Jogadores do Murici comemoram título alagoanoJogadores comemoram o título alagoano. Troféu se perdeu nas enchentes. (Foto: Divulgação Site oficial do Murici)

Drama bate na porta dos jogadores

A tarefa de toda a família Calheiros, que há anos domina a política local, será árdua. Diante da situação catastrófica, todo o elenco acabou sofrendo as consequências e seguiu atrás de alternativas.

enchente cidade murici alagoasRuas de Murici alagadas (Foto: Divulgação Muriciweb)

- Tiveram jogadores que tiveram suas casas atingidas, inundadas. Chegaram até a ficar desabrigados por cerce de três dias. Alguns moravam na nossa sede, que está praticamente toda destruída. Como só teremos uma competição profissional a partir de janeiro, emprestamos a maioria dos jogadores. Sete deles estão no CSA (que substituiu o Murici na Série D). Só três atletas ainda não estão emprestados, seguem treinando com o pessoal das categorias de base, já que o estádio não pode ser utilizado. Estamos tentando colocá-los em outros clubes – disse.

Entre as más notícias que envolvem o clube, há a grande chance de que os jogadores acabem não retornando para o Murici. Porém, a esperança necessária para todas as vítimas da tragédia ganha voz na boca do prefeito e presidente do time, que prefere acreditar na fidelidade dos atletas.

- Todos os jogadores têm vínculo com o Murici. O contrato de empréstimo deles vai até novembro. Temos esperança e expectativa de que eles retornem – afirmou.

Para completar, Remi Calheiros fez questão de deixar um apelo à CBF:

- O Murici é o representante de Alagoas na Copa do Brasil (de 2011). Esperamos que tudo até lá volte à normalidade, mas faremos um apelo à CBF, para ver se ela pode nos ajudar. Perdemos todo o imobiliário do clube. Queremos ver como ela pode nos auxiliar – finalizou.
fonte: globo