IMPÉRIO EM RISCO
Nascido na Vila Cruzeiro e coroado Imperador de Milão, Adriano chegou a valer 100 milhões de euros e virou o herdeiro do trono de Ronaldo na Seleção. Um ano e meio depois, seu mundo desabou. Conheça os dramas pessoais que roubaram da Internazionale e do Brasil uma das maiores promessas do planeta
"A intimação é falsa. Foi uma tentativa de extorsão". Bastou uma frase assim do empresário Gilmar Rinaldi para que o atacante Adriano e sua mãe, dona Rosilda, desabassem em lágrimas no escritório do advogado do jogador, no Rio de Janeiro. Não foi a primeira vez que o atleta da Inter de Milão chorou aliviando a tensão ou a angústia reprimidas, que têm provocado uma derrocada em sua carreira há pouco tão promissora. O veredicto é unânime entre colegas, assessores, jornalistas e amigos que convivem com Adriano: se hoje ele não é mais o Imperador da Inter nem tem assegurada a órfã camisa 9 da Seleção Brasileira, isso se deve aos inúmeros problemas fora de campo.
As lágrimas no escritório do advogado são o desfecho do último deles. Em julho deste ano, Adriano recebeu uma intimação para depor na Polícia Federal por suposto envolvimento com o tráfico – o documento, ao qual Placar teve acesso, é absolutamente convincente para um leigo. Nervoso, Adriano telefonou ao seu empresário, Gilmar Rinaldi, que pediu para ver a intimação. Seguiu-se o diálogo:
– Adriano, me conta, você fez alguma cagada ultimamente? – Não, cara, não fiz nada. Juro. – Eu preciso saber, é importante. Se tem algo, você tem que me contar. – Cara, você é como um pai para mim. Acha que eu ia mentir? Estou falando... Juro, não fiz nada errado!
Convencido, Gilmar procurou um conhecido na Polícia Federal de São Paulo que rapidamente percebeu tratar-se de uma farsa, graças a alguns detalhes. O principal: Delci Carlos Teixeira, que assinava a intimação como delegado, já era superintendente da PF. Hoje o caso corre sob sigilo, mas é certo que os estelionatários queriam extorquir Adriano: quando ele chegasse para prestar depoimento, alguém o chamaria de lado e exigiria dinheiro para "esquecer" o caso.
Mas por que com Adriano? Ter crescido na favela da Vila Cruzeiro é um bom motivo para ele ter sido o alvo do golpe. "Vários de seus amigos de infância foram assassinados", diz Gilmar Rinaldi. E assessores do atleta dizem que suas amizades lhe causam outros problemas. "Em cinco anos ele saiu da favela e virou Imperador de Milão. Eu via as coisas e pensava: isso não é vida normal, é Disneylândia para gente grande! Junte isso à falta de estrutura social dele. O cara passou a ter tudo que queria", afirma Flávio Pinto, amigo desde 1999, quando o conheceu no Mundial Sub-17. Gilmar concorda. Para ele, Adriano não suportou a brusca mudança e, bem pior, teve dois sérios problemas pessoais.
O primeiro deles foi a morte do pai, Almir Leite Ribeiro, no dia 3 de agosto de 2004. É verdade que Adriano estava prestes a iniciar a melhor temporada de sua carreira. Mas o fato é que o atacante demorou a sentir o baque. "Meu pai morreu em 2004, mas só depois eu senti. Não o vi morrer e, quando voltei à Itália depois do enterro, era como se ele estivesse vivo. Só depois, nas férias, quando voltei ao Brasil e ele não estava é que senti muita falta de ficar ao seu lado", disse Adriano em uma entrevista recente à Gazzetta dello Sport.
O segundo grande golpe foi a relação com Daniele Carvalho, mãe do filho do atacante, Adriano Júnior, que tem hoje pouco mais de 1 ano. O namoro começou em meados de 2005 e, pouco depois, ela já morava em Milão. Mas a relação desandou. Adriano quis que Daniele voltasse ao Brasil. Ela não queria. Eles se separaram, ela retornou e em junho de 2006 o filho nasceu.
Para alguns, a Inter também tem culpa na crise. Gilmar Rinaldi chegou a dizer à diretoria que dar privilégios a Adriano – como liberá-lo para ir ao Rio em outubro do ano passado – era um erro. E o prejuízo do clube é enorme: avaliado em 100 milhões de euros em 2005, hoje Adriano custaria em torno de 20 milhões. Na seleção, por méritos, chegou a ser alçado à mesma condição de Kaká e os Ronaldos. Hoje, embora ainda tenha as portas abertas com Dunga (não foi à Copa América por causa de lesão no joelho direito), está longe de ser uma certeza.
Na Placar de agosto: tudo sobre o lado boêmio do jogador; por que as baladas, na verdade, são o menor de seus problemas; entenda a timidez de Adriano e por que isso o fez perder uma pequena fortuna; saiba, também, que o atacante está animado para a próxima temporada. Será que o Imperador está de volta?