Perto de levar o Fla à decisão da Copa do Brasil, técnico diz que nunca abandonou o sonho de dirigir um grande clube, mas ainda não decidiu se continuará no cargo
Por Richard Souza
Rio de Janeiro
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Quarta-feira, 21h50m. Enquanto cerca de 60 mil pessoas estarão no Maracanã para assistir ao segundo jogo da semifinal entre Flamengo e Goiás, num quarto de uma casa no bairro do Leblon, na Zona Sul do Rio, Dona Elvira, de 89 anos, vai rezar à espera do espocar de fogos de artifício que anunciem a classificação rubro-negra para a decisão da Copa do Brasil. Mãe do técnico Jayme de Almeida, ela não precisa ver para crer.
- Ela nunca via meus jogos, nunca viu. Fica muito nervosa. Ela é muito católica, mineira. Ficava na igreja Santa Mônica, no Leblon, rezando. Saía da igreja e olhava para a cara dos porteiros dos prédios para saber se o Flamengo tinha vencido (risos). Agora ela não vê. Mas no Leblon quando sai gol do Flamengo é terrível. Ela ouve os fogos e sabe na hora – contou Jayme, orgulhoso.
Boa parte da família estará no estádio para apoiá-lo. Aos 60 anos, o ex-zagueiro e ex-auxiliar retoma a carreira de treinador de forma tardia, mas com vigor de principiante. Com o risco de rebaixamento no Brasileiro praticamente eliminado, tenta levar o Flamengo à final. Mesmo com o time em vantagem – pode até perder por 1 a 0 -, não permite que ninguém no clube dê a classificação como certa. Com mais da metade da vida ligada ao Rubro-Negro, aprendeu que cautela não faz mal.
- Eu acho que temos uma possibilidade enorme de chegarmos a uma final, com todo respeito ao Goiás. E se nós passarmos vai ser fantástico. A dificuldade que nós passamos, tudo que aconteceu no clube, toda aquela incerteza, a gente conseguiu reverter.
As reações do técnico Jayme de Almeida durante a entrevista (Foto: Editoria de arte / Globoesporte.com)
A reportagem do GLOBOESPORTE.COM almoçou com o treinador rubro-negro nesta segunda-feira, no Recreio dos Bandeiras, na Zona Oeste. Com expressão cansada, mas feliz pela vitória no último Fla-Flu, falou sobre tudo que o cerca nessa experiência que ele classifica como fantástica. A palavra, aliás, foi a que ele repetiu mais vezes na entrevista. Jayme é um técnico que valoriza o passado, mas se concentra no presente. Sobre futuro ele nem quer falar. Certo mesmo é que até 8 de dezembro será o comandante rubro-negro. A partir daí, vai pensar. Inclusive no que viveram Andrade e Carlinhos, interinos que assumiram o time, venceram no clube, mas que nunca conseguiram tirar da testa a expressão "técnico que só serviu para o Flamengo".
- Essa história é uma experiência que a gente vê, que infelizmente aconteceu com o Andrade, com o Carlinhos nem tanto, mas é uma coisa que a gente tem que pesar também. Aconteceu. E é uma coisa que já parei para pensar algumas vezes, não consigo entender a resposta. Mas é uma coisa que realmente me deixa muito triste com o esporte. Sinceramente. Um profissional da qualidade do Andrade não ter espaço no Brasil, nunca deram uma oportunidade, preocupa principalmente porque eu vejo a quantidade de treinadores que trocam de clube com uma facilidade impressionante e o currículo deles é muito inferior ao que o Andrade conquistou.
fonte: globo