quarta-feira, 17 de julho de 2013

Lembra Dele? Negrini foi herói do Galo em título contra Olimpia, em 92

Foi o jogo da minha vida', diz ex-meia, autor dos dois gols do título da Copa Conmebol. Ele aposta que o Galo será novamente campeão sobre paraguaios

Por Alexandre Alliatti
Belo Horizonte
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A coincidência atiça a memória de Negrini a cada minuto. Ele está em Belo Horizonte. Vê a torcida do Atlético-MG inflamada por causa de uma final. De uma final de torneio continental. De uma final de torneio continental contra um paraguaio. De uma final de torneio continental contra o Olimpia. É automático: ele volta no tempo. Volta para 1992, para 16 de setembro, para uma noite no Mineirão. Para a maior das noites dele como jogador de futebol. Para a noite em que ele, com dois gols, deu o título da Conmebol ao Galo. Protagonista há mais de duas décadas, hoje torcedor, o gaúcho da pequena cidade de Sananduva confia que o passado embalará o presente para o Atlético ser novamente campeão sobre o Olimpia - mas desta vez da Libertadores. Negrini tem 45 anos. Abandonou a bola há 11 para mudar radicalmente de área. Atualmente, cuida de uma distribuidora de bebidas e vê o carinho que tem pelo Galo passar para seu filho, Henrique, de 12 anos. O menino é maluco pelo Atlético. Não por acaso: foi o clube mais marcante da carreira do pai dele, um ex-jogador saudoso daqueles tempos de final contra o Olimpia, justamente contra o Olimpia.
- Dá uma saudade... E ainda mais com essa coincidência, de ir para uma final com o Olimpia. É muita coincidência. E uma coincidência boa, porque o Galo foi campeão. E tenho certeza de que consegue ser campeão de novo.
Lembranças de 1992
Negrini não era um jogador famoso. Em 1992, chegou ao Atlético-MG depois de defender Esportivo e São Luiz, no Rio Grande do Sul, e o Atlético-PR, de onde rumou para Belo Horizonte. Na capital mineira, aos poucos foi se integrando a um elenco de boa campanha na Copa Conmebol. O Galo eliminou o Fluminense na primeira fase (derrota de 2 a 1 no Rio de Janeiro e goleada de 5 a 1 em casa), passou pelo Junior Barranquilla nas quartas de final (2 a 2 na Colômbia e 3 a 0 no Mineirão) e bateu o El Nacional, do Equador, nas semifinais (1 a 0 fora, 2 a 0 em Minas). Aí surgiu a decisão contra o Olimpia. E Negrini foi decisivo.
O título foi conquistado no primeiro jogo. Mais de 60 mil atleticanos foram ao Mineirão em uma noite antecedida por forte temporal em Belo Horizonte. A cidade entrou em colapso, mas a torcida apoiou o time mesmo assim. E enfeitou o jogo dos sonhos de Negrini.
Negrini ex-jogador do Atlético-MG loja (Foto: Alexandre Alliatti)Negrini não quis ser técnico e tem uma distribuidora de bebidas em Belo Horizonte (Foto: Alexandre Alliatti)
- Eu lembro de tudo. Foi uma noite inesquecível. Vejo o Victor falando agora... você não dorme, cara. Você fica acordado relembrando tudo. Lembro de tudo, tudo, tudo. Foi o jogo da minha vida. E fui privilegiado fazendo dois gols. O que mais me marcou foi o segundo. O Aílton dividiu com o Goycochea, um goleiro de seleção argentina, e a bola sobrou um pouco além da marca do pênalti. Vi que tinham dois jogadores dentro do gol. Tive a tranquilidade de bater certinho, no ângulo. E aí fui para a Massa. O estádio estava lotadaço - lembra Negrini.
O segundo jogo foi complicado. A torcida do Olimpia pressionou, foi hostil. Até foguetes arremessou no campo, para intimidar os atletas brasileiros. A partida foi no estádio próprio do Decano, o Manuel Ferreira, mais acanhado do que o Defensores del Chaco. A pressão foi enorme. Mesmo assim, o Galo conseguiu controlar a partida. Com um time experiente, recheado por atletas como o goleiro João Leite, o lateral-direito Alfinete, o meia Moacir e o zagueiro Luís Eduardo, só levou um gol nos últimos minutos. Com a derrota de 1 a 0, foi campeão.
Negrini Atletico x Olimpia 1992 Mineirao (Foto: Acervo Jornal Estado de Minas / Celcon Birro)Negrini, um leão na vitória do Galo sobre Olimpia, em 1992 (Foto: Acervo Jornal Estado de Minas / Celcon Birro)
A Copa Conmebol foi uma espécie de gênese da atual Sul-Americana. Um primeiro grupo de clubes avançava à Libertadores, enquanto seus concorrentes mais próximos nos campeonatos nacionais iam para a segunda competição de maior importância no continente. No torneio conquistado pelo Galo em 1992, também estavam o Grêmio, vice-campeão da Copa do Brasil de 1991, o Bragantino, vice do Brasileiro, e o Fluminense, quarto colocado no Nacional. O Atlético ficara em terceiro no Brasileirão do ano anterior.
Negrini sente falta de maior reconhecimento por aquele título. Acha que o próprio Galo deveria valorizar mais a conquista. Cita os casos de Inter e São Paulo, únicos brasileiros campeões da Sul-Americana, como exemplo.
- Eu acho que isso é um pouco culpa do Atlético. O Atlético, em si, não deu muito valor para a Conmebol. Deveria dar mais valor. O Inter fala que foi campeão de tudo. O São Paulo também valoriza. É uma competição que progrediu - opina.
O Atlético refletido no filho
Depois daqueles gols, Negrini ficou mais dois anos no Atlético-MG. Mas não teve grande sequência. Surgiram propostas de renovação de elenco, e ele aos poucos foi perdendo espaço. Acabou rumando para o Bahia. De lá, retornou ao Rio Grande do Sul, onde defendeu novamente o São Luiz e, por fim, o 15 de Novembro, de Campo Bom. Aí encerrou a carreira.
Negrini ex-jogador do Atlético-MG com o filho (Foto: Alexandre Alliatti)Henrique, 12 anos, filho de Negrino, é atleticano doente. O pai garante: é bom de bola (Foto: Alexandre Alliatti)
Em vez de seguir no futebol, o herói do título de 1992 radicalizou: trocou os campos por uma distribuidora de bebidas. Como a sogra já sabia lidar bem com o comércio, ele resolveu ser racional. Não quis se aventurar como treinador sem ter a certeza de que daria certo. Negrini tem saudade de sua terra natal, mas gosta de Belo Horizonte, onde mora com a esposa, Marcela, a sogra, Antônia, e os dois filhos: Henrique, de 12 anos, e Larissa, de 17. O menino, garante o pai, é bom de bola. E atleticano fanático.
- Meu filho é doente pelo Atlético. Ele me faz ver todos os jogos, ir no estádio. Por ser gaúcho, eu torcia e ainda torço pelo Grêmio, mas aqui em Minas torço muito pelo Atlético.
Ao observar o Galo atual, Negrini vê um novo clube: mais estruturado do que em 1992, com uma política de futebol mais clara. Por isso, confia na conquista do título da Libertadores.
- Eu já imaginava. O Galo oscilou no segundo turno do Brasileiro, mas manteve o time, trouxe bons jogadores, deu sequência. Não jogou bem contra o Tijuana e o Newell's Old Boys. Mas teve sorte. Sorte de campeão.
Ainda hoje, Negrini é reconhecido por torcedores do Atlético-MG, especialmente os mais antigos, como herói da conquista da Conmebol de 1992. Mas vivencia uma mudança. Com a coincidência de uma final contra o Olimpia, começa a ganhar o carinho das novas gerações.
- Até os mais novos estão me reconhecendo agora. Por causa da final, eles brincam comigo, dizem que estou aparecendo em tudo que é programa.
Atlético-MG e Olimpia começam a decidir a Libertadores da América nesta quarta-feira, no Paraguai. O segundo jogo é dia 24, em Belo Horizonte. Negrini pretende estar presente - e acompanhado do filho, fanático pelo time que o pai tornou campeão há 21 anos. Justamente contra o Olimpia...
FONTE: GLOBO