'Esporte Espetacular' foi até Osório-RS para falar com os pais do atleta, treinador, amigos, advogado do acusado e tentar entender o motivo do crime
Com apenas 17 anos, Tairone Silva já era considerado um herói em Osório, cidade com cerca de 40 mil habitantes a 100km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Atleta do Grêmio Esportivo Sul-Brasileiro, o menino surgia como a mais nova promessa do boxe nacional, depois de ser bicampeão gaúcho, vencer o Torneio Internacional de Iquiqui (Chile), na categoria adulto, e deter o título brasileiro dos cadetes (14 a 16 anos até 75kg). Esperança de medalha para as Olimpíadas de 2016, o gaúcho já estava de passagem comprada para o Rio de Janeiro. Ele treinaria com a equipe da Marinha para os Jogos Mundiais Militares que acontecem no Brasil de 16 a 24 de julho.
O fim de uma carreira breve
Mas no último dia 11, a carreira de Tairone chegou ao fim. A poucos metros de casa, ele foi assassinado com dois tiros - um na perna e outro no ombro. O policial militar Alexandre Abe socorreu a vítima, mas depois confessou o crime. A defesa alega legítima defesa depois que Tairone teria tentado dar um soco e tirar a arma do policial. No entanto, a única testemunha do caso, que por medo preferiu não revelar seu nome, conta uma versão totalmente diferente:
- Eu vi tudo. O Tairone foi levar um colega até um pedaço mais adiante. No que ele estava voltando, a gente esperou ele na esquina para voltar para a escola. Aí, o cara, que estava no portão do acontecido, o chamou e ele continuou andando, não olhou. O cara continuou chamando, e o Tairone não olhou. Então, simplesmente, o cara pegou uma arma e atirou. O Tairone caiu no chão. Ele se aproximou um pouquinho mais dele no chão, viu que não estava morto e atirou para matar.
Qual o motivo do crime?
Tairone Silva no pódio (Foto: Reprodução/Tv Globo)
Com o laudo do Departamento Médico Legal nas mãos, o delegado responsável pelo caso, Celso Ferri, já descartou a hipótese de uma luta entre os dois - o que alega a defesa. A polícia trabalha com a ideia de o crime ter sido motivado por inveja, já que Tairone era motivo de orgulho por grande parte da população da pequena Osório. O que amigos e familiares querem entender é o motivo que realmente levou ao assassinato de um menino de 17 anos.
Um treinador com faro de boxe
"Garoto tímido, que falava pouco". Foi assim que o técnico de boxe Anildo Pereira, com Tairone desde os 13 anos, definiu seu pupilo. Ele conta que um dia alguns garotos apareceram em sua academia, um deles fez aulas durante uma semana e depois desapareceu. O treinador viu algo diferente no pequeno boxeador e fez o que não estava acostumado: "procurei saber onde ele morava e fui atrás dele". A principal lembrança que Anildo vai guardar? Ele mesmo reponde:
- Daquele garoto tímido, que falava pouco? Quando subia no ringue se transformava num leão. Na primeira semana que ele apareceu na academia, o apelidei de 'Mão de pedra'. A pancada dele, o direto, quando entrava derrubava até boi. É brincadeira...
Sonho de ser campeão mundial
Os pais de Tairone Silva (Foto:Reprodução/Tv Globo)
A mãe dona Cláudia estava em casa quando uma vizinha, por telefone, avisou que havia escutado tiros e tinha visto Tairone por perto. Foi só o tempo de sair correndo e ver o filho no chão, com o acusado sobre seu corpo. A dor e os gritos chamando o nome do filho encheram a rua. O crime encerrou não só uma carreira de sucesso, mas também uma promessa feita à mãe.
- 'Mãe, meu sonho é ser campeão mundial e eu vou conseguir. Ainda vou te dar a sua casa, mãe. Vou dar um carro para você e para o pai'. Com o pai desempregado, ele pegava o dinheirinho dele e pagava a luz, a água. Eu dizia, 'meu filho, deixa, faz o seu futuro. E ele: 'meu futuro são vocês, mãe'.
Carreira curta, legado longo
Apesar da curta carreira e dos títulos conquistados, Tairone já deixou bons frutos que podem ser vistos em Osório. A ascensão do menino chamou a atenção da prefeitura local, que comprou um ringue e materiais novos para a academia.
No ritmo e com a vontade que Tairone treinava, Anildo Pereira tinha certeza que o "Mão de pedra" se tornaria campeão mundial de sua categoria. Apesar de a previsão não ter mais chances de ser realizada, Anildo sabe que Tairone deixou um exemplo a ser seguido pelas novas gerações.
- O Tairone representa muito para nós. Ele virou um ídolo na cidade e deixou um legado. Porque eu acho que, se tem um criminoso famoso numa vila, as crianças vão querer ser traficantes. Agora, se tem um atleta, um herói, eles vão querer ser iguais a esse atleta. E ele estava sendo esse atleta. Andava pelas vilas aconselhando as crianças a praticar esporte para terem uma vida melhor - disse.
Hoje, o primo Vitor, de 15 anos, que luta na categoria até 57kg, é uma das apostas para tentar manter a estrela de Tairone Silva brilhando.
fonte: globo