Ao lembrar do 1º título da Copa América no exterior, ex-técnico reabre polêmica em série. Baixinho diz que Velho Lobo 'sempre teve que engoli-lo'
Por SporTV.com Rio de Janeiro e Brasília
As feridas causadas por antigas rusgas entre Romário e Zagallo parecem incuráveis. Às vésperas de mais uma edição da Copa América, mesmo aposentados do futebol, ambos trocaram farpas ao reviverem uma polêmica. O ex-técnico acusou o hoje deputado federal (PSB-RJ) de ter "forjado uma lesão" para não participar até o fim da goleada por 7 a 0 sobre o Peru, na semifinal da competição, em 1997. A reportagem do SporTV News, que dedicaria seu segundo capítulo da série "Conquistas da América" somente ao título que veio na Bolívia - o primeiro do Brasil na história da competição no exterior -, ouviu, então, a réplica do Baixinho, que não deixou por menos e, além de negar a afirmação, rebateu duramente o Velho Lobo.
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Alvo de críticas por seu trabalho, Zagallo comandou a equipe em vitórias convincentes nas primeiras fases - Costa Rica, México, Colômbia. Mas nem tudo andava perfeitamente. Segundo ele, o fato de seu camisa 11 ter deixado o campo alegando uma dor na coxa e estar "dando piques" menos de três dias depois, sempre o incomodou e o fez vetar por conta própria sua escalação.
- Nós estávamos ganhando por 5 a 0 quando pus o Edmundo. Na primeira bola que o Romário recebeu depois, sentiu uma fisgada e saiu. Três dias dias depois seria final. No primeiro dia, ele não fez praticamente nada. No segundo, já se mexeu e foi para o futevôlei, deu o ar da graça. No último, veio a parte física. Falei até para o (Luís Carlos) Prima, preparador físico: pega o Romário e faz um vai e vem de 30 metros para ver se ele suporta. Aí, fiquei comigo: não estou entendendo. Mas tive a convicção: ele forjou uma situação, porque quem sai como ele saiu, não poderia dar aqueles piques. Falei ao doutor Lídio (Toledo) que Romário não jogaria. Ele disse que eu não poderia fazer aquilo, mas respondi que, apesar de sermos cumpadres, ele é o médico e eu, o técnico - contou Zagallo.
Tive convicção de que ele forjou a contusão e falei para o doutor Lídio (Toledo): Romário não vai jogar. "
Zagallo
Em seu gabinete em Brasília, o Baixinho retrucou a acusação e garantiu que ele não estava mesmo em condições de atuar por 90 minutos. E não poupou ironias na hora de se referir à equipe de trabalho do ex-técnico, que, segundo ele, não por acaso o tirou de três momentos importantes da carreira.
- Primeiro, nunca forjei nada, nem pedi para não jogar, porque senão não seria o Romário que eu fui. E o Zagallo sempre teve essa coisa toda comigo na Seleção. Perdi a final da Copa América, a Copa do Mundo (em 1998) e as Olimpíadas (de Atlanta-1996). E nessas três estavam Zagallo, Américo Faria (coordenador) e Lídio Toledo. Ele pode até ter achado que me tirou da decisão, mas eu não tinha condições. Foi feito um treino no ginásio e eu senti um incômodo e pensei: "tá mais ou menos". Poderia entrar no esforço, ajudar, mas me conheço e não jogaria os 90 minutos - explicou o ex-atacante, que se mostrou magoado.
- Quando precisaram, eu ia lá e resolvia o problema. Quando precisei, nunca me deram essa força. Tanto é que tiveram que me convocar porque o povo quis e o presidente da CBF (Ricardo Teixeira) mandou, em 93. Como ele usa na frase dele, ele sempre me engoliu, teve de me aturar porque sempre fui o melhor, eu decidia - cravou.
Ironia até no bar
Após o corte da Copa de 1998, Romário lançou uma caricatura de Zagallo sentado no vaso sanitário em seu bar, no Rio de Janeiro, o que causou um mal estar e fez o Velho Lobo entrar com um processo na Justiça contra o Baixinho. Ao lado estava Zico, auxiliar naquela Seleção, segurando um rolo de papel higiênico. Tempos depois, as pazes foram feitas, mas as rusgas, ao que tudo indica, não foram apagadas para sempre.
Depois de uma década de trégua, Romário e Zagallo voltam às rusgas públicas (Foto: Arte/SporTV.com) - Sabiam que eu poderia ajudar, como ajudei em 93 (na classificação da Seleção para a Copa), quando ele veio chorar com a cabecinha no meu ombro. E em 94, quando disse que, depois do Pelé, eu era o melhor que ele já tinha visto. Talvez não assumam isso, porque nem todo mundo tem personalidade, mas essa é a verdade - completou o craque.
Desabafo do Velho Lobo no fim
Caso Romário à parte, com cinco triunfos em cinco partidas, inclusive na final sobre a anfitriã Bolívia na altitude por 3 a 1, Zagallo se recorda de seu desabafo em frente às câmeras, com o famoso "vocês vão ter me engolir!", após a confirmação da quinta Copa América do Brasil.
- Eu estava sendo perseguido, faziam muita onda contra a minha pessoa. Estavam querendo me derrubar e eu só podia esperar o último jogo, ganhando, para dar essa resposta que não estava premeditada. Aí, dei aquele grito, aquele berro - justificou ele, que ainda falou de detalhes da decisão, quando teve de tirar Edmundo após uma cotovelada em Cristaldo.
Ao ver sua cena novamente, o tetracampeão, aos 79 anos, mergulhou na nostalgia.
- Bom tempo. De 1997 a 2011... Se pudesse voltar tudo de novo...
Na última segunda-feira, o próprio Romário abriu a série Conquistas da América, falando sobre a vitória em 1989, exatamente 40 anos após o último título da competição. Ele marcou o gol do título e, junto a Bebeto, liderou a equipe. Na sequência das reportagens especiais do SporTV News, o técnico Vanderlei Luxemburgo falará sobre 1999, o atacante Adriano, sobre 2004 e o meia Elano, sobre 2007, os últimos títulos canarinhos.
fonte: globo