Na primeira entrevista como novo comandante do Cruzeiro, treinador solta pérolas e fala que ir para Minas é 'a cereja do bolo' de uma vitoriosa carreira
(Fotos: Washington Alves / VIPCOMM)
Joel Santana chegou animado ao seu novo clube. Na primeira entrevista como treinador do Cruzeiro, soltou diversas pérolas e, também, falou sério ao comentar o mais novo desafio da carreira de 30 anos à beira do gramado. Disse, por exemplo, que teve sorte ao ser o eleito pelo presidente Zezé Perrella para assumir a vaga de Cuca, mas ressaltou que o dirigente também teve sorte de tê-lo escolhido.
Joel Natalino de Santana, 62 anos, nasceu no dia 25 de dezembro - por isso o segundo nome, em homenagem à data. Ele ressaltou que comandar o Cruzeiro será a 'cereja do bolo' de uma carreira vitoriosa, durante a qual passou por diversos clubes, em várias regiões do país.
Depois de rodar por diversos estados, pela primeira vez vai trabalhar no futebol mineiro. Assinou contrato de seis meses com o Cruzeiro e chegou falando em conquistar uma vaga na Libertadores de maneira mais ambiciosa: conquistando o título do Campeonato Brasileiro, não apenas ficando no G-4.
Apesar da campanha ruim da equipe mineira no Brasileirão, confia em uma volta por cima. E, utilizando o bordão que ficou famoso com o filme 'Tropa de Elite', avisou: 'Agora o bicho vai pegar'.
Confira os principais trechos da entrevista de Joel Santana:
Experiência
Nunca deixei de trabalhar nos clubes por onde passei. Nâo é à toa que trabalhei quatro, cinco vezes em uns, três vezes em outros. Rodei o Brasil todo e algumas partes do mundo também. Minha vida é tão corrida que posso ter esquecido de colocar alguma coisa na mala. Mas vocês vão ter tempo para me conhecer melhor, saber quem sou eu, de onde eu vim.
Cereja do bolo
Conhecia quase tudo e, agora, vou completar um ciclo de ter trabalhado no Rio, em São Paulo, no Sul, no Nordeste. Agora é a cereja do bolo. Esse dia 20 vai ficar marcado. Sou feliz por estar aqui.
Time de cara nova?
Tenho de conversar com os jogadores primeiro. Futebol é igual a romance, você só sabe quando está nele. Via tudo de fora. Sei a maneira como eles jogam, vinha acompanhando, mas é preciso conversar. Vamos jogar com o que tivermos de melhor, pois queremos vencer. Vamos ter o primeiro contato com os jogadores. É difícil, pois são 30, e eles ficam desconfiados. Mas não temos tempo: é arregaçar as mangas e começar a trabalhar.
Prancheta
Tenho meus métodos, minhas manias, meus hábitos. Tenho a prancheta, faz parte da história. Como deixar de lado um objeto que me ajudou a ser campeão oito vezes? Então, só porque agora as coisas estão melhores vou colocá-la debaixo da gaveta? É ela que coloca comida lá em casa. Como vou chegar no vestiário se não tiver anotado tudo aquilo que vi em 45 minutos? Tenho que anotar.
Sem promessas
Não vim aqui para ser mais um, para jogar conversa fora. Não vou ficar falando, prometendo. Sou apenas um treinador à moda antiga. Não adianta vir para cá e prometer mundos e fundos para a torcida, mas o time jogar um futebol medíocre.
Realizações
Sou um homem realizado, já atingi meus objetivos. Não sairia da minha casa e mudaria de estado se não acreditasse no meu trabalho. Podeira ter ficado lá no Leblon (bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro), indo à praia, lendo jornal. E por falar nisso, engordei nesses três meses que passei de férias. Fiquei vendo tudo quanto é tipo de jogo. Mas não é a minha área. Minha área é dentro de campo, orientando jogadores.
Ajuda da torcida
É uma torcida que está acostumada a ser campeã. O Cruzeiro é um clube forte, era para estar disputando (a final da) Libertadores depois de amanhã (quarta-feira). Tenho que chegar aqui alegre, satisfeito, pois trabalho em uma grande empresa. Não estou aqui à toa, estou para buscar o melhor para esse clube, o melhor que eu posso fazer, claro que com ajuda do poder maior, que é o torcedor. E agora é que nós estamos precisando mesmo, pois estamos lá atrás, não estamos na pole position.
Energia boa
A vida renova-se todo dia. Só gosto de pensar em coisa boa, o que me machuca eu deleto. Estou começando uma nova vida, em um novo estado, em um novo clube. Só quero pensar em coisa boa. Não estou aqui para machucar minha saúde. A primeira coisa que fiz quando entrei foi colocar o pé no chão, para sentir a energia. É gratificante chegar aqui. E eu já cheguei. Agora, o bicho vai pegar!
Minas Gerais
Mineiro não fala muito. Isso é bom de negócio. Esse baixinho (aponta para o presidente Zezé Perrella) aqui é difícil de negociar. Mas é franco. Minas é boa terra, tem uma comida maravilhosa. Mas nem posso falar muito porque engordei. Adoro um torresmo. O doce aqui é maravilhoso.
Cara do time
Torcida quer luta, garra, sentimento. Tem dia que dá para ganhar na bola, tem dia que é na correria. Você não vai jogar bem 38 jogos. Tem dia que esse sacrifício é maior. Todo mundo que joga com o Cruzeiro vem com o pé atrás, porque é o Cruzeiro, que vai para Libertadores e luta para ser campeão. Tem sido assim nos ultimos quatro anos. Temos tudo para chegar.
(Foto: Marco Antônio Astoni / Globoesporte.com)
Papai Joel
Trato bem os jogadores, podem me chamar de Papai Joel mesmo! E eles vão ser cobrados. Quando me tratam assim, porque jogadores sabem como eu os trato, como filhos. Com meus filhos, quando tem coisa errada, não preciso dizer nada, só olhar. E com jogador vai ser assim.
Problemas no Cruzeiro
Se estivesse tudo direitinho aqui eu seria chamado? Vim para arrumar um quadro que está meio torto. E isso vai acontecer. Por isso que estou aqui. Por isso o presidente me chamou e me trouxe. E se eu não tivesse certeza do meu trabalho chegaria aqui feliz como cheguei? O time é bom, mas não sei o que está acontecendo. Tenho que conhecer a casa.
Artista principal
Não vim aqui para ser coadjuvante, vim para ser artista principal. Tenho seis meses para trabalhar e mostrar por que estou aqui. Se estiver legal vamos continuar.
Cara sortudo
Olhe para mim. Está vendo a felicidade? Se o presidente tocasse um sininho avisando que estava precisando de técnico, ia chover gente querendo trabalhar aqui. Mas ele me escolheu. Sorte minha. E dele também.
Sonho antigo do Cruzeiro
O presidente Zezé Perrella revelou, durante a entrevista que deu antes da apresentação do novo treinador, que a contratação de Joel Santana era o sonho antigo. Em 2007, era ele a primeira opção, mas a diretoria acabou trazendo Paulo Autuori para comandar a equipe naquele ano.
fonte: globo