quarta-feira, 18 de junho de 2008

Lembra dele? Redondo, o 'Príncipe de Madri' é fã de Paulo Roberto Falcão


Ex-volante pede o fim das comparações entre Pelé e Maradona e relembra momentos históricos com as camisa de Real Madrid, Milan e Argentina

Fernando Redondo foi daqueles jogadores acima da rivalidade entre Brasil e Argentina. À frente do seu tempo dentro e fora de campo, ficou marcado por seu estilo elegante de atuar e por opiniões fortes. No Brasil, conquistou admiradores, assim como o contemporâneo Gabriel Batistua. Já na Espanha fez mais do que isso, foi eternizado, se tornou príncipe, o 'Príncipe de Madri', alcunha que o acompanha até os dias de hoje. Eleito o 13º maior jogador da história merengue em eleição com os torcedores, conquistou duas Ligas dos Campeões pela equipe espanhola, após um jejum de 32 anos.

De estilo clássico, Fernando Redondo é considerado um dos melhores volantes da década de 90
Da Espanha seguiu para o Milan, com o prestígio de ser um dos maiores volantes da década, mas uma série de lesões no joelho impediu que Redondo deixasse marcada com grandes atuações sua passagem com a camisa rossonera, apesar dos títulos. Entre Madri e Milão uma polêmica: deixou de disputar a Copa do Mundo de 1998 por não aceitar a ordem de Daniel Passarela para que cortasse o cabelo.

Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, por telefone, Fernando Redondo relembrou os momentos bons e ruins da carreira, garantiu não se arrepender de nada e vibrou com a informação que tinha se tornado um dos maiores do Real Madrid. Ah, e claro, falou de Brasil, Argentina, Maradona, Pelé...

Como tem sido sua vida nestes quatros anos longes dos gramados? Segue no meio do futebol? - Não faço mais nada ligado ao futebol. A verdade é que não tenho vocação para ser treinador. Mas futebol será sempre uma paixão. Minha vida está em Madri e em Buenos Aires, e sempre assisto o futebol argentino, espanhol, italiano... Não tenho a intenção de voltar a trabalhar neste mundo. Estou desfrutando esta etapa da vida com a família. Depois de 17 anos, posso passar mais tempo em casa, com a família e os amigos. Tenho negócios com meu pai em Buenos Aires. Você tem noção da importância de ter sido eleito um dos maiores jogadores da história do Real Madrid (Redondo foi o 13º em eleição realizada com os torcedores do clube) ?

- Você me surpreendeu com esta notícia. Não sabia e realmente é uma satisfação. Ainda mais porque o Real teve grandes jogadores no passado, e ser reconhecido pelos torcedores me enche de prazer, mostra o carinho que eles têm por mim. Tive a sorte de ganhar a sétima Liga dos Campeões para o clube depois de 32 anos. Isso gerou um sentimento forte. É um honra. Depois de seis temporadas no Real, você ficou marcado pela jogada do gol decisivo contra o Manchester pelas quartas-de-final da Champions de 2000, quando 'deu' de presente para Raúl o gol que foi batizado como 'Gol de Redondo' (assista ao vídeo do lance). Foi o momento mais marcante com a camisa merengue (neste ano o clube foi campeão europeu e Redondo eleito o melhor jogador da competiçao)? - Todo o meu ciclo no Real foi coroado com mais esta etapa. Neste ano conquistamos a oitava Champions e me recordo bem desta partida. O Manchester não perdia há muito tempo em Old Trafford pela competição. Mesmo assim, todo o estádio nos aplaudiu de pé por esta vitória, o que não é freqüente. Se sente frustrado por não ter tido uma passagem de sucesso com a camisa do Milan? - Este foi o período mais difícil da minha carreira. Cheguei ao Milan já com a experiência de títulos europeus, e depois de uma semana lesionei o joelho e fiquei dois anos e meio sem jogar. Fiz três operações e não me sentia seguro. Se isso tivesse acontecido em Madrid seria diferente, pois já tinha dado muito ao clube, mas não ao Milan. Não foi fácil entrar no San Siro com a camisa do Milan só depois de tanto tempo. Ficou a satisfação pessoal de vencer os obstáculos e voltar a jogar. Ainda ganhamos mais uma Copa da Itália, um Scudetto e uma Champions. Participei pouco, mas foi igualmente enriquecedor. Qual sua relação com o futebol brasileiro? Tem algum carinho por clubes ou jogadores em especial?

- Falcão sempre foi minha referência quando era criança. Sempre gostei dele, tanto no Roma quanto na seleção. Flamengo e São Paulo também sempre me chamaram a atenção por tudo que representam. Admiro o futebol brasileiro em si, o estilo de jogo, e tive a sorte de ter grandes brasileiros como companheiros. Sou amigo de Leonardo, Serginho, Cafu, Dida, Roberto Carlos... Você foi preterido por Daniel Passarela na Copa de 98 por não ter aceitado cortar o cabelo. Foi a maior decepção da sua carreira? Se arrepende de não ter cedido?


Na vida temos que decidir de acordo com nossas convicções. Cada um é responsável por seu comportamento e pode ter o cabelo como quiser."
- Para todo argentino, jogar na seleção é o objetivo maior. Chegaria ao Mundial com muita experiência, por tudo que aconteceu em 94, a situação difícil com o Maradona, mas deixei de ser convocado não por uma questão futebolística. O Passarela tinha pensamentos que eu respeitava, mas não compartilhava. Foi muito duro pra mim, me cortou uma continuidade na equipe. Este episódio dividiu opiniões em todo o país. Eu, sinceramente, não guardo rancor. Foi difícil tomar a decisão e não me arrependo. Na vida temos que decidir de acordo com nossas convicções. Cada um é responsável por seu comportamento e pode ter o cabelo como quiser. Há 15 anos a seleção argentina não conquista um título (o último foi a Copa América de 1993). Qual a avaliação que você faz desta nova geração? Até onde podem chegar? - Estive nesta última conquista e estou esperançoso com esta geração de novos talentos. Temos Messi, Aguero, Gago e muitos outros que irão chegar ao Mundial mais maduros e com experiência internacional. Isso é importante em um torneio curto, sem possibilidade de derrota. Faremos uma grandíssima Copa e acredito que naturalmente seremos protagonistas. Você sempre foi considerado um volante de estilo clássico, objetivo e eficiente. Enxerga alguém no futebol argentino atual com características semelhantes? - Gago tem muitas virtudes. Penso que nesta posição o jogador tem que estar sempre se oferecendo para jogar. É importante participar da partida e unir qualidade na defesa e no ataque. Não pode fugir do jogo. Todo time atualmente joga com dois volantes e neste tipo de posição é importante ser moderno, saber recuperar a bola a iniciar bem uma jogada. A pergunta que não pode faltar: Pelé ou Maradona?


Este tipo de atleta, Maradona, Pelé, Di Stéfano, Cruyff, não deve ser comparado. Todos são grandes."
- Na minha opinião, Maradona. Foi quem eu pude ver e creio que foi o maior. Como argentino, me sinto orgulhoso por ele e toda a alegria que nos proporcionou. Mas é uma comparação que não é boa de se fazer. Sei que Pelé foi grande, só que não o vi jogar. Este tipo de atleta, Maradona, Pelé, Di Stéfano, Cruyff, não deve ser comparado. Todos são grandes. Você e Ronaldo têm trajetórias semelhantes, tanto pelos clubes que passaram quanto pelas contusões. Tem algum recado para o Fenômeno, que se recupera de mais uma cirurgia?

- É curioso. Saímos do Real para o Milan, tivemos as lesões. Sofri muito e sei o que ele está passando. É um craque e desejo muita força para que ele se recupere. Todo simpatizante do futebol sabe do talento dele, que, independentemente do país, desfruta de muito prestígio. É um jogador de potencia e qualidade. Espero que volte o mais rápido possível. Algum palpite para Brasil x Argentina? - Não gosto de fazer prognósticos. Seguramente será um boa partida, com nível de final de Copa do Mundo. Temos que desfrutar desses grandes jogadores que estarão em campo. Gostaria que todos pudessem jogar. Kaká e Ronaldinho. Que ganhe o melhor, e que seja a Argentina.

FONTE: GLOBO