Suspensos pelo Comitê de Ética da Fifa se defendem das acusações de suborno, mas 'doação' vira contradição após declarações de Hammam
Mohamed Bin Hammam, durante campanha para a presidência da Fifa (Foto: Reuters)
Joseph Blatter está eleito para mais um mandato à frente da Fifa, mas as acusações envolvendo a entidade não acabam. Em matéria publicada neste domingo no diário "Newsday", de Trinidad e Tobago, Mohamed bin Hammam escreveu mais um capítulo de sua defesa contra a suspensão imposta pelo Comitê de Ética da Fifa. Ex-rival de Blatter na eleição à presidência, bin Hamman revelou que deu US$ 360 mil (cerca de R$ 566 mil) a Jack Warner, então vice-presidente da entidade máxima do futebol, para pagar viagem e hospedagem das delegações que participariam de uma conferência da União Caribenha de Futebol, realizada nos últimos dias 10 e 11 de maio, em Porto de Espanha.
Assim como bin Hammam, que presidia a Confederação Asiática de Futebol, Warner, que comandava a Concacaf, também encontra-se suspenso. Ambos foram acusados de comprarem votos e subornar pessoas para ajudar na campanha do primeiro contra Blatter. Agora, bin Hammam acusa Warner, uma vez que a empresa responsável pelas passagens e reservas foi a Simpaul Travel Services Limited, fundada por Warner e sua esposa, Maureen, em 1997. Em 2006 ambos passaram suas ações para Rose Campbell e Margaret Fletcher, que faziam parte da direção da empresa. Nos documentos recentes da companhia, registrados publicamente, no entanto, Warner, Maureen e os filhos Darryl and Daryan aparecem como diretores da Simpaul.
Em um relatório de quatro páginas enviado a Petrus Damaseb, chefe do Comitê de Ética da Fifa, bin Hammam afirma ter achado "correto e insistido em pagar", uma vez que a conferência era uma "situação extraordinária". A situação vai de encontro às declarações de Warner, que alegou ter recebido US$ 100 mil (aproximadamente R$ 158 mil) a menos. A diferença teria sido, segundo acusações de Chuck Blazer, secretário-geral da Concacaf, para subornar membros das delegações. De acordo com ele, representantes da União Caribenha de Futebol teriam recebido uma proposta de US$ 40 mil (R$ 63 mil) durante a conferência.
Antes de revelar ter gastado US$ 360 mil, bin Hammam negou as acusações de Blazer. Segundo ele, este foi avisado que a Fifa e Joseph Blatter foram notificados do valor exato das despesas para a realização da conferência com os membros da União Caribenha de Futebol, e que a entidade e seu presidente "não tinham nada a ver com isso". Mas Warner já havia declarado que o "Sr. bin Hamman nunca deu dinheiro aos países caribenhos, mas sim pago US$ 260 mil para acomodações e transporte. Esta é a norma".
Companhia de viagem com histórico de investigação
Jack Warner resolveu se pronunciar, mas optou por um tom mais ameno na crise (Foto: Getty Images)
Jack Warner e a sua família ficaram afastados da Simpaul Travel de março de 2006 a agosto de 2009, quando voltaram como diretores. Neste período, a empresa foi investigada pela Fifa após denúncia de que ingressos para a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, estavam sendo desviados para que fossem vendidos pela companhia. Warner foi posteriormente inocentado das acusações. Suspenso da presidência da Concacaf e da vice-presidência da Fifa, ele optou por não se pronunciar publicamente, mas sim apenas ao Comitê de Ética da entidade.
Em entrevista à Sky News, neste domingo, Warner resolveu se defender, mas sem entrar em detalhes. Também optou por não partir para o ataque.
- Quando todas as provas forem apresentadas, serei inocentado. Estou confiante. Meu advogados me orientaram a não dizer o que planejei (fazer), mas eu não aceitei um centavo. Não tenho por que temer. Um amigo foi conversar com a União Caribenha de Futebol, e aí aconteceu tudo isso. Meus advogados falarão mais em breve, mas garanto que minhas mãos estão limpas. Meus inimigos políticos estão tentando me derrubar, mas os deixem tentar. Eu posso ficar de cabeça erguida. Se chegar a hora de escolher entre a Fifa e vocês, meus eleitores, estou pronto para escolher.
Problemas com visto e mudança de planos
Bin Hammam teve de explicar por que decidiu não participar de uma reunião na Concacaf de 1º a 3 de maio, em Miami, nos EUA. Segundo o seu relatório, ele solicitou o visto de entrada nos Estados Unidos no início de abril, mas até o fim do mesmo mês ainda não havia sido expedido. Neste período, nos dias 30 de abril e 1º de maio, ele estava em Assunção, no Paraguai, para um congresso da Conmebol. A primeira informação é que o visto não havia saído por um erro administrativo, mas a embaixada americana na capital paraguaia ofereceu ajuda para resolver o problema. "Entretanto, o Sr. bin Hammam já havia mudado de planos e decidido participar da reunião extraordinária da União Caribenha de Futebol. Não haveria desvantagem alguma em sua escolha", diz o relatótio.
O então dirigente seguiu para Trinidad e Tobago, mas foi embora no dia 10 de maio, enquanto a conferência de dois dias ainda estava acontecendo. Bin Hammam nega qualquer tentativa de suborno estando ele presente ou não no país. Mas a suspensão pela suspeita de compra de votos atingiu a ele e Warner. A situação teve o agravante de os escritórios da União Caribenha ficarem no mesmo prédio da Concacaf na rua Edward, em Porto de Espanha. A Simpaul Travel, companhia de viagem da qual Warner é diretor, tem uma sala no mesmo local.
Crise na Fifa: entenda o caso
Nas últimas semanas, a Fifa enfrentou uma série de denúncias e escândalos. Primeiro foram as acusações de que quatro membros do comitê executivo da entidade, entre eles o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, teriam pedido favores para a escolha da Copa do Mundo de 2018. As denúncias foram averiguadas e, segundo a Fifa, os envolvidos foram inocentados.
Pouco tempo depois, foi a vez de Mohammed bin Hammam, presidente da Confederação Asiática de Futebol e ex-concorrente à presidência da Fifa, e do presidente da Concacaf e vice da Fifa, Jack Warner, serem acusados de comprarem votos e subornar pessoas para ajudar na campanha de Hammam. Ambos acabaram suspensos pelo comitê de ética da Fifa. Revoltado com a punição, Warner, que havia prometido dias antes da reunião do comitê revelar um “tsunami” de outros escândalos, disparou denúncias.
Primeiro, acusou Blatter de ter feito uma suposta doação de US$ 1 milhão (R$ 1,57 milhão) à Concacaf para, em troca, receber apoio na sua reeleição. Depois, revelou um e-mail enviado a ele por Jérome Valcke, secretário-geral da Fifa, no qual o dirigente fala que o Qatar comprou o direito de sediar a Copa de 2022.
Valcke negou veementemente as acusações e disse que foi mal interpretado. Blatter, por sua vez, convocou uma coletiva na última segunda-feira e, de forma evasiva, rebateu as denúncias dizendo que a Fifa não estava em crise (saiba mais no vídeo acima).
fonte: globo