quarta-feira, 19 de março de 2014

'Foi loucura', diz presidente que foi ao Paraguai de carro contratar Cabañas

Irineu Alves, do Tanabi, diz que viajou 'sem saber de nada' e que projeto será igual ao de Túlio e Viola: 'Primeiro eu contratei, e agora vamos atrás de empresas'

Por 
Tanabi, SP
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O processo de contratação de Cabañas pelo Tanabi começou com uma loucura. Essa é a definição do presidente Irineu Alves Ferreira Filho para a sua viagem de carro até o Paraguai, que resultou no acerto com o atacante - fora do futebol há quatro anos, desde o tiro na cabeça. O clube disputará a quarta divisão do Campeonato Paulista a partir de abril. 
- Foi uma loucura a minha primeira viagem, fui para lá sem saber de nada. Vi a matéria no GloboEsporte.com e depois no Fantástico, da situação que ele passava, e naquele dia já comentei com um diretor em trazê-lo para cá. No fim de semana seguinte, fui com o diretor para a cidade paraguaia que vimos na matéria e lá iríamos procurar a padaria do pai dele - afirma o presidente Irineu. 
Sem saber falar espanhol e sem nenhum contato na cidade de Itaguá, Irineu foi para o Paraguai. O primeiro lugar de parada foi no clube onde Cabañas começou a carreira e estava treinando atualmente, o 12 de Outubro. Lá, um zelador do campo levou Irineu à casa onde morava a família de Cabañas. Mas o jogador não estava, por ter viajado para o Chile.
Irineu Alves, presidente do Tanabi (Foto: Marcos Lavezo)Irineu Alves, presidente do Tanabi (Foto: Marcos Lavezo)
- Conversei com o pai e a mãe, explicamos quais eram as nossas intenções. Eles ficaram desconfiados e não entendiam muito. Até porque ninguém conhecia nem o Tanabi. Mas aí mostramos matérias de jornais do clube e de que o Túlio Maravilha e o Viola já jogaram aqui, aí eles foram entendendo o que queríamos - diz o presidente. 
Quase uma semana depois, na sexta-feira passada, o pai de Cabañas entrou em contato com Irineu e disse que o filho tinha aceitado a proposta de jogar pelo Tanabi. No sábado, Irineu viajou novamente mais de mil quilômetros até a cidade de Itaguá para que o jogador assinasse o contrato com o clube.  
O Cabañas estava precisando de um auxílio. Não é só uma questão financeira, é uma questão de ajudar o ser  humano"
Irineu Alves, presidente do Tanabi
Cabañas assinou com o Tanabi por três meses, para fazer três partidas pelo clube. A primeira será no dia 6 de abril, contra o Olímpia, na estreia do Paulista. Depois enfrentará Fernandópolis e Barretos. Irineu explica que, se depois disso ele receber uma proposta mais vantajosa, pode deixar o clube. Caso contrário, o contrato será prorrogado. Cabañas chega no dia 1º de abril, volta para o Paraguai no dia seguinte para fazer um jogo beneficente e retorna para Tanabi. 
- Não vi ele jogando, mas aparentemente ele está bem. Não tinha noção de como estava a vida dele, mas chegando lá fiquei mais sensibilizado. Ele é um ídolo do Paraguai, na época dele na seleção ele era titular absoluto e agora está nesta situação. Ele estava precisando de um auxílio, não é só questão financeira, é uma questão de ajudar o ser humano - afirma o dirigente.
cabanas tanabi (Foto: Divulgação)Cabañas posa com a camisa de seu novo time (Foto: Divulgação)
Cabañas não joga desde janeiro de 2010, quando levou um tiro na cabeça em um bar quando jogava no América do México. Com o tiro, ele ficou fora da Copa do Mundo, perdeu dinheiro que havia conquistado e está em litígio com a ex-mulher. O paraguaio deverá ficar hospedado em um hotel em Tanabi e treinará com o time normalmente. 
Irineu não releva os valores da negociação e afirma que por enquanto o jogador ficará no clube por estes três meses, até para ser avaliado se realmente terá condições de voltar ao futebol. O dirigente diz que agora a meta é buscar parceiros e empresas que ajudem a bancar a vinda do paraguaio. 
- Eu já trouxe o Túlio e o Viola para cá. Os dois casos foram iguais ao do Cabañas. Primeiro eu contratei o jogador, e agora vamos atrás de empresas que queiram nos ajudar com este investimento. Por enquanto não temos nada, e estamos procurando, mas se deu certo até agora não tem por que dar errado com o Cabañas, já que a repercussão está sendo bem maior. 
Irineu Alves, presidente do Tanabi (Foto: Marcos Lavezo)Irineu Alves e Túlio Maravilha, que, na época (2012), buscava seus mil gols na carreira (Foto: Marcos Lavezo)


Irineu afirma que o jogador tem todos os exames que comprovam que ele está apto para jogar futebol, mas que também passará por uma bateria de exames na cidade para comprovar que o tiro na cabeça não será risco para atuar no estadual. O presidente afirma que, antes da contratação, pensou no lado humano de ajudar o atleta. 
– Sabia que iria unir o útil ao agradável, de ajudá-lo e também ajudar a divulgar o clube. Espero que ele jogue muito bem e se destaque. Hoje as pessoas no meio do futebol só pensam em dinheiro e se esquecem do lado humano. Ele estava lá no Paraguai, por que nenhum clube de lá o ajudou? Ele está a fim de jogar e tem condições. Eu quero mais é vê-lo jogando bem, e quem sabe um outro clube brasileiro não se interesse por ele. 
Irineu Alves, presidente do Tanabi (Foto: Marcos Lavezo)Viola e o irmão de Anderson Silva foram outras apostas de Irineu Alves no Tanabi (Foto: Marcos Lavezo)


Jornada dupla
Sem contar com muitos recursos, o presidente afirma que é um tipo de faz-tudo no Tanabi e decide desde as contratações até a compra de material de limpeza e de alimentação dos atletas. Irineu tem uma distribuidora de cigarros em São José do Rio Preto e, na parte da manhã, cuida dos assuntos da empresa e, de tarde, do clube que adotou. 
- Sempre gostei de futebol. Antes eu cuidava de um time amador em Rio Preto, e minha vontade era profissionalizá-lo, mas os valores eram inviáveis. Foi aí que apareceu a ideia de eu reativar o Tanabi, que estava parado. Foi muito difícil, o time estava cheio de dívidas, mas tudo que faço pelo clube não me incomoda - afirma. 
Aos poucos, Irineu foi arrumando o clube, criando as categorias de base e, no ano de 2012, conseguiu a primeira grande estrela: o atacante Túlio Maravilha. A intenção era ajudar o atacante a chegar aos mil gols. Depois, no ano passado, foi a vez de Viola.
- O mais difícil foi ganhar a confiança da cidade, principalmente dos empresários. Quando viram que eu estava tentando ajudar, a cidade abraçou o clube. Ainda falta muita coisa, mas estamos no caminho certo. O mais bacana é que agora todo mundo me pergunta quem é o próximo grande jogador que vou trazer para o clube - diz o presidente.
FONTE: GLOBO