Com muita experiência circense e dez anos de ginástica, Jacqueline Valente, do Rio Grande do Sul, mora na Cidade do México e se aventura na modalidade radical
Jacqueline Valente escala para saltar
(Foto: Romina Amato/Red Bull Content Pool )
Sem equipamento ou roupa especial. Nada de proteção. É apenas o seu corpo cortando o ar, descendo alturas de, no mínimo, 26m - equivalente a um prédio de oito andares - e perfurando a água como uma bala. Voando colada aos paredões rochosos, uma gaúcha de 28 anos chama a atenção com seu maiô verde, azul e amarelo. Jacqueline Valente é a primeira mulher do país a disputar o Mundial de salto sobre penhasco.
A competição feminina foi realizada pela primeira vez em 2014, com três etapas, em Fort Worth, no Texas, nos Estados Unidos; em Krajero, na Noruega; e em Yucatán, no México, onde a americana Rachelle Simpson sagrou-se campeã. Apesar de ficar longe do título tendo sido apenas a sétima colocada, Jacqueline já considera uma grande vitória sua presença no torneio. Afinal, vem do mundo das artes, mais precisamente do circo, e tem um passado como ginasta.
- Fiz ginástica olímpica por dez anos em Porto Alegre. Comecei a fazer shows de ginástica na Europa e entrei para o "Circo Dragone". Aprendi muitas outras disciplinas circenses, uma delas foi saltar de alturas. Fiz parte da criação do maior show aquático do mundo, chamado "The House of Dancing Water", criado e dirigido pelo ex-produtor do Cirque du Soleil, Franco Dragone. Antes, fazia parte de shows circenses em companhias menores - comentou.
Jacqueline Valente tem formação circense (Foto: Romina Amato/Red Bull Content Pool )
Jacqueline faz shows fora do Brasil há dez anos. Ela conta que nunca pensou que levaria a vida como artista circense. E, em junho deste ano, teve a oportunidade de dar um novo direcionamento à carreira, tornando-se a primeira mulher brasileira no Mundial de salto sobre penhasco. Entre os homens, Jose Wilker, Edivaldo Keda Moura e Jucelino Junior participaram da temporada como convidados.
Jacqueline Valente participou de inúmeras apresentações circenses (Foto: Reprodução/Facebook)
A atleta, aliás, lamenta o cancelamento da etapa de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, da competição, por conta de problemas com a rampa de saltos. Para ela, seria uma "sensação inexplicável" competir em seu próprio país.
- Fiquei bem triste quando fiquei sabendo que a etapa do Brasil foi cancelada, seria uma honra e, com certeza, uma sensação inexplicável de competir em casa, perto da família e amigos. E, claro, da torcida brasileira, que tenho a certeza que faria a maior festa. Fico esperançosa de competir em casa, quem sabe, no próximo ano ou até mesmo como exibição do esporte nas Olimpíadas (do Rio de Janeiro, em 2016) - disse.
Gaúcha é primeira brasileira na modalidade
(Foto: Romina Amato/Red Bull Content Pool )
Atualmente, Jacqueline mora na Cidade do México. Ela treina exaustivamente de segunda-feira a sábado nas instalações oferecidas pelo Comitê Olímpico Mexicano, onde, pela primeira vez, faz atividades com um técnico de saltos ornamentais em busca do aprimoramento na transição de ginasta a saltadora. Casada com um polonês que também faz apresentações circenses, a brasileira tenta se especializar na modalidade, que, além da disputa esportiva, proporciona belíssimas imagens em locais paradisíacos. Apesar da experiência com alturas no circo, ela garante que o medo é seu companheiro nas performances.
- O medo sempre está junto a mim, não importa a quantidade de vezes que faço o mesmo salto, sempre parece que é a primeira vez. O esporte requer muito treinamento, concentração, disciplina e uma certa coragem - concluiu a saltadora, que, no futuro, espera que a modalidade se popularize entre os brasileiros.
Salto de Jacqueline (de preto) em progressão (Foto: Romina Amato/Red Bull Content Pool )
O salto sobre penhasco para competição é uma variação dos saltos ornamentais olímpicos. Contudo, de acordo com o site oficial do patrocinador do Mundial, a história do esporte remete ao século XVIII, quando o rei Kahekili, úlimo monarca de Maui, saltou de Kaunolu, a uma altura de 19m, e entrou pela água sem sofrer lesões. Por seus feitos regulares de voo das falésias, ele foi apelidado de "homem-pássaro" e, mais tarde, fez seus guerreiros pularem de penhascos para provar sua lealdade.
Jacqueline Valente competindo na etapa do México com maiô do Brasil (Foto: Romina Amato/Red Bull Content Pool)
Atleta esteve nas três etapas do Mundial de salto sobre penhasco feminino (Foto: Getty Images)FONTE: GLOBO
