Bautista Ernesto Vecchio é dono de uma oficina no centro de Rosário. Primeiro treinador do craque no Newell’s se sente esquecido, abandonado
A oficina mecânica Vecchio, no centro de Rosário, existe há mais de quatro décadas. É tradicional, mas não dá a Bautista Ernesto Vecchio, de 58 anos, a vida que gostaria de ter. Até porque ele é uma das pessoas mais conhecidas da cidade. Pelo menos entre aqueles que são apaixonados por futebol. Tudo porque Vecchio foi o primeiro treinador de Messi, craque do Barcelona e da seleção argentina, no Newell’s Old Boys.
Vecchio e a parede cheia de recordações do trabalho como treinador da base do Newell's
Vecchio já tem 26 anos de Newell’s, mais especificamente nas Malvinas Argentinas, uma espécie de peneira das categorias de base do clube. O mecânico/treinador não sabe dizer ao certo quantos jogadores que passaram por ele são hoje profissionais, mas o número de títulos que conquistou está na ponta da língua: 38. E tudo isso sem ganhar sequer um centavo. Ele continua na ativa simplesmente por paixão ao futebol.
Leandro Canônico/GLOBOESPORTE.COM
Na oficina acanhada, Vecchio trabalha
- Trabalho de graça para o Newell’s. Esse serviço me toma tempo e me dá gastos, mas eu sou apaixonado pelo que faço. Pena que a minha oficina não me dá o retorno que eu gostaria de ter, mas a vida é assim mesmo. A minha paixão pelos meninos que trabalho é que me motiva a continuar – comentou o treinador, que em sua oficina tem apenas um assistente e muitos carros velhos para arrumar. O discurso até certo ponto resignado muda pouco depois, quando o assunto é Messi. Embora tenha orgulho de ter treinado o candidato a melhor jogador do mundo nesta temporada, Vecchio tem também um pouco de mágoa de “La Pulguita”. Tudo porque diz ter procurado o jogador e sua família diversas vezes para pedir uma oportunidade em Barcelona. O mecânico afirma nunca ter sido atendido. Sentiu-se ignorado. - É uma pena que os meninos esqueçam algumas coisas quando encontram sucesso e ficam famosos. Eu os procurei não para pedir dinheiro, eu quero apenas uma oportunidade de ir à Espanha para tentar trabalhar com as crianças lá. Mas paciência. Sou bastante conhecido por ter trabalhado com o Messi, mas continuo aqui nessa oficina – falou Vecchio, rindo, mas deixando transparecer mágoa.
Messi, agachado (penúltimo da esquerda para a direita) em time comandado por Vecchio
A admiração que tem por Messi é bem maior do que qualquer decepção. Fã do futebol do jogador do Barcelona, Vecchio não cansa de elogiá-lo. Mostra com orgulho a foto da equipe que dirigiu e tinha “La Pulguita” como titular e também um livro sobre a carreira de Lionel, que fica todo o tempo em cima de sua mesa. - O Maradona foi um grande jogador, é verdade, mas para mim o Messi é melhor que ele. Está acima. É mais objetivo, e tem um futebol mais vistoso – falou o técnico.
Leandro Canônico/GLOBOESPORTE.COM
Vecchio no escritório anexo à oficina
O escritório de Vecchio, cheio de marcas de graxa e com cheiro de óleo, é como se fosse um resumo de sua vida. Em meio aos calendários com imagens de mulheres nuas, tradicionais em borracharias e oficinas mecânicas, estão as fotos da maioria dos times com que foi campeão, também lembranças de seus filhos (um rapaz, do primeiro casamento, e duas meninas, do segundo) e as chaves dos carros que conserta. Embora não tenha tido as oportunidades que sonhava, Bautista Ernesto Vecchio é um patrimônio do futebol rosarino. E levando em conta o fato de ter trabalhado com o craque Messi podemos até dizer que é um personagem mundialmente importante.
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fonte: globo