sábado, 2 de julho de 2011

Perto de contratar Conca, Guangzhou quer ser o 'Chelsea asiático'

Bancado por empresa de construção, clube chinês superou amadorismo, se reergueu após esquema de manipulação e chegou a sonhar com Ronaldo

Por Fábio Lima Rio de Janeiro

O Guangzhou Evergrande, da China, está perto de confirmar a contratação do argentino Conca, do Fluminense, em uma negociação que surpreendeu o futebol brasileiro. A provável transferência é apenas mais um passo rumo ao sonho dos donos do clube chinês, que pretendem criar uma versão oriental do Chelsea, equipe inglesa controlada pelo bilionário russo Roman Abramovich e que já gastou fortunas investindo em jogadores renomados. Há dinheiro para isso, ambição e planejamento. Até mesmo um amistoso com o Real Madrid já está marcado para 3 de agosto, quando o time planeja entrar definitivamente para o cenário mundial.

Guangzhou Evergrande time conca china (Foto: Divulgação/ Site oficial)
Página inicial do site oficial: escudo foi modernizado para chamar a atenção (Foto: Divulgação/ Site oficial)

Em 2010, o empresário Anselmo Paiva chegou a Guangzhou desconfiado por saber que um de seus clientes, o atacante Muriqui (ex-Vasco, Atlético-MG e Avaí), estava prestes a se transferir para uma equipe da Segunda Divisão do futebol chinês. A desconfiança ganhou ares tragicômicos no encontro com o jovem presidente do Guangzhou Evergrande. Liu Yongzhuo, de 31 anos, recebeu o agente brasileiro com a seguinte afirmação:

- Em cinco anos eu pretendo transformar o Guangzhou no Chelsea asiático.

Na hora, Anselmo achou graça. Hoje, cerca de um ano depois daquele encontro, o time lidera a Primeira Divisão da China com 28 pontos (cinco a mais que o segundo colocado em 12 rodadas) e está seduzindo Conca com uma oferta de R$ 60 milhões em um período de 30 meses, o que tornaria o argentino no terceiro maior salário do futebol mundial.

- Na verdade, eles não esperavam subir imediatamente, mas quando viram que o sucesso foi imediato, aí mesmo que resolveram gastar - explicou o empresário.

Se realmente assinar contrato, o meia argentino encontrará um clube com dinheiro, que quis contratar Ronaldo e que vai enfrentar o poderoso Real Madrid em agosto. Ainda há uma torcida fiel, uma cidade que cresce a cada suspiro capitalista em território chinês e patrões que sonham em revolucionar o futebol. Um negócio da China.

O CLUBE

O Guangzhou Evergrande nunca conquistou um título de Primeira Divisão. Fundado em 1954, passou a maior parte de sua história na obscuridade, convivendo com rebaixamentos no amadorismo do futebol chinês. Já teve sete nomes e foi o primeiro clube a se profissionalizar, em 1993.

Guangzhou Evergrande time conca china (Foto: Divulgação/ Site oficial)
Muriqui: sucesso de vendas (Foto: Divulgação)

O momento mais dramático aconteceu em 2010. O time teve que jogar a Segundona como punição por ter pagado 200 mil yuans chineses (R$ 48,7 mil) para garantir uma vitória no campeonato de 2006 - o "investimento" não funcionou, já que a campanha daquele ano culminou com uma modesta nona posição.

Em fevereiro de 2010, o grupo Evergrande, conglomerado de investimentos no setor de construção civil, tomou posse do clube. Foram contratados alguns dos principais jogadores da seleção local, entre eles o meia Sun Xiang, o primeiro chinês a disputar uma partida de Liga dos Campeões da Europa na história (pelo PSV). O brasileiro Muriqui foi a cereja do bolo. Marcou 13 gols em 14 partidas e liderou a equipe de volta à elite.

O estádio Tianhe, casa do Guangzhou, foi remodelado para os Jogos Asiáticos de 2010 e está longe de ser um elefante branco. Com capacidade para 60 mil pessoas, costuma receber uma média de 40 a 50 mil torcedores por partida, competindo com o Urawa Reds, do Japão, como a instituição esportiva que mais atrai público na Ásia.

Para 2011, houve investimento em mais brasileiros: o meia Renato Cajá, ex-Botafogo, o atacante Cléo, ex-Partizan, da Sérvia, e o zagueiro Paulão, ex-Grêmio. O resultado é a liderança isolada da Liga Chinesa.

A estrutura ainda não segue o padrão das contratações. O clube não possui um bom centro de treinamento e o estilo de trabalho ainda lembra o período de amadorismo, apesar de o treinador, o sul-coreano Lee Jang-Soo, ter comandado as principais equipes da Coreia.

- O salário é alto, e recebo antes mesmo do dia do pagamento. Meu apartamento fica em um ótimo lugar, tenho um tradutor para português e ajuda para adaptação de minha esposa e filha. Mesmo sem centro de treinamento e sendo um pouco desorganizados, eles estão caminhando - disse Cajá ao GLOBOESPORTE.COM recentemente.

OS PATRÕES

Liu Yongzhuo, presidente do Guangzhou Evergrande e Emilio Butragueno, ex-jogador do Real Madrid (Foto: AP)
Yongzhuo divulga amistoso contra o Real (Foto: AP)

O Evergrande Real State Group tem como chefe o magnata Xu Jiayin, que está entre os 200 homens mais ricos do mundo, de acordo com a revista "Forbes".

- Quando ele aparece no estádio é uma coisa impressionante. Todos o reverenciam - destacou Anselmo Paiva.

Jiayin não interfere nos "assuntos futebolísticos". Para tomar conta dos negócios esportivos, o empresário escalou o membro mais jovem de sua diretoria. Liu Yongzhuo é um dos vice-presidentes do Grupo Evergrande e presidente do Guangzhou Evergrande e da equipe de vôlei da cidade.

A ambição é a característica mais forte de Yongzhuo. Uma de suas primeira ideias para o time era contratar um atacante apelidado de Fenômeno, que se aposentou recentemente.

- Ele chegou a me perguntar o quanto eu achava que ele iria gastar para trazer o Ronaldo. Não acreditei, mas hoje ele está provando que não estava brincando - lembrou Anselmo Paiva.

- O investimento que o clube está fazendo é algo inédito no futebol chinês. É uma revolução na forma como os clubes chineses tratam o futebol. Para nós brasileiros que estamos aqui isso é muito bom. Valoriza o nosso trabalho e nos dá visibilidade - completou Muriqui, que tem até máscaras e camisas personalizadas à venda no site oficial para os torcedores.

A CIDADE

Guangzhou é desconhecida mundialmente, mas é a terceira maior cidade da China. A vida na região é agitada, o que facilitará a adaptação de Conca.

- Parece São Paulo. Cidade grande, não tem muitas opções turísticas, mas tem muitos restaurantes. Há uma churrascaria brasileira lá e os chineses gostam mais que os brasileiros - brincou Paiva.

fonte: globo