sexta-feira, 17 de abril de 2015

Del Nero reprova bajulação e diz que gosta de críticas: “Não sou Deus”

Novo presidente da CBF analisa evolução da seleção principal, classifica trabalho de Gallo como “brilhante” e não crê em criação da liga de clubes no futuro

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Rio de Janeiro
Marco Polo del Nero (Foto: Bruno Domingos / Mowa Press)Marco Polo del Nero em sua primeira coletiva como presidente da CBF, nesta quinta-feira (Foto: Bruno Domingos / Mowa Press)
Em sua primeira entrevista coletiva como presidente da CBF, Marco Polo Del Nero afirmou mais de uma vez “não ser Deus”. Segundo o dirigente, ele assume o comando da entidade disposto a ouvir críticas e sugestões e ainda brincou de preferir os questionamentos de sua diretoria em detrimento às bajulações. Falou até mesmo da Medida Provisória 671, que propõe uma alternância de poder nas confederações, clubes e federações esportivas.
Temos que discutir. Na Fifa foi discutido esse tema e não ficou decidido nada tema. Vamos avançar e mais tarde vamos discutir. Quem sou eu para decidir. Não sou Deus. Não tenho vontade de ser professor. Temos que ouvir a sociedade que forma a família do futebol. A imprensa, os treinadores, os atletas, os presidentes de clubes. Todos aqueles que estão envolvidos. Quero administrar ouvindo, conversando. Gosto de sentir a opinião para decidir. Essa diretoria toda conjuga isso. É mais fácil administrar quando você ouve – afirmou.
Para o dirigente, as críticas são válidas para a evolução do trabalho.
- A vida é opinativa. São opiniões. Os críticos são a minoria. A maioria é favorável à minha maneira de trabalhar. Podem falar o que quiser. Quando falarem o que não devem, eu vou buscar o poder judiciário caso me sinta ofendido. Não gosto de diretor que fica me bajulando. Gosto de críticas. É assim que evoluímos. As coisas ruins que aparecem, nós vamos descartando, deixando de lado.
Del Nero também falou da situação do futebol brasileiro. O novo presidente analisou a seleção principal e de base. Classificou o trabalho de Alexandre Gallo de brilhante e deu a entender que o treinador ficará no comando da equipe olímpica até a disputa dos Jogos do Rio, em 2016.
- O Gallo é o técnico da seleção de base. Esperamos que faça uma belíssima competição agora. Teremos ainda o Pan-Americano, o Mundial e as Olimpíadas. Espero que ele seja feliz. Ele está fazendo um trabalho brilhante. Buscou garotos com menos de 20 anos que jogavam fora do país.
Marco Polo del Nero (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo.)Marco Polo, cercado por dirigentes após tomar posse na CBF (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
Em relação à equipe principal, Del Nero admitiu a tragédia na Copa do Mundo, mas exaltou o que tem sido feito pelo técnico Dunga e pelo coordenador de Seleções, Gilmar Rinaldi, após a competição disputada no Brasil.
- Quando falamos de 7 a 1, claro que ficou uma marca. Tivemos uma tragédia naquele dia e tudo aquilo marca. Hoje temos um novo formato, um novo treinador, um novo coordenador, outra mentalidade. O que eu percebo do trabalho deles é muito bom. Eles estão fazendo um trabalho muito bom cientificamente, tecnicamente. O Dunga sempre diz que quando um jogador levanta, a cadeira fica vazia e outro pode sentar. É por aí mesmo.
Confira abaixo o restante da entrevista do novo presidente da CBF:

MP DO FUTEBOL
Nos reunimos com os departamentos jurídicos dos clubes. Em conjunto com o jurídico, mais os nossos diretores Rogério Caboclo e Walter Feldman, foi apresentado o problema da Medida Provisória. Todos concordaram que precisam ser feitos reajustes. Todos querem a contrapartida, mas precisamos respeitar o direito sagrado que é constitucional. Tivemos uma reunião com os presidentes, amparados por seus jurídicos, chegamos à conclusão que precisamos fazer reparos para que a medida provisória não passe por cima da constituição.

LIGA DOS CLUBES
Os clubes vão ter gasto com essa liga e não vão conseguir fazer o que a CBF faz. Os clubes não tem gasto na Série C e D. Se eles querem organizar, eles vão levar as outras séries. O pedaço bom, todos querem levar. O outro pedaço, não. A CBF precisa fomentar o futebol, como estamos fazendo, gastando dinheiro no futebol. Estamos fazendo todas as competições. Vamos analisar isso também. Mas acho que é muito difícil porque estamos fazendo tudo certinho. Essa casa é dos clubes, é do futebol, não é do Marco Polo. A CBF foi constituída pelos clubes. Eles precisam saber disso. Eles que determinam. Estamos aqui para fazer justiça entre eles, coordenar os interesses deles, impedir que aconteçam rusgas.

Marco Polo Del Nero toma posse na CBF (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)A posse de Del Nero: novo presidente após comando de José Maria Marin (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
SELEÇÃO FEMININA
Foi importante a CBF assumir a responsabilidade de ter uma seleção permanente. Conseguimos dar suporte para essas meninas, para que elas permaneçam no Brasil. Queremos mostrar uma nova realidade. Isso faz com que elas se sintam amparadas. Hoje em dia, as prefeituras têm organizado algumas competições. Poucos clubes têm apoiado. Existe a necessidade de uma evolução, mas a evolução exige planejamento. O que poderíamos fazer era tê-las trabalhando conosco. Só elas treinando o dia todo. Quando não temos competições, nós vamos distribuir as meninas para as equipes para que elas possam ter a disputa. São metas que temos que atingir.

CALENDÁRIO, PONTOS CORRIDOS E MATA-MATA
É outro debate que temos que ter. Tenho uma opinião. Temos o Brasileiro de pontos corridos que caminha muito bem. É harmônico. Qualquer um pode chegar e conquistar o título. É uma competição que vai e volta, é bem democrática. Talvez, com menos emoção do que o mata-mata, mas tem a emoção até o fim do campeonato. O mata-mata tem as emoções do dia a dia. Como temos o Brasileiro de um lado e a Copa do Brasil de outro, eu vejo o equilíbrio das duas. Temos que discutir, discutir, ouvir, ouvir.

ESTADUAIS X REGIONAIS
Nós temos que valorizar os regionais. Os regionais eram valorizados em um período. Depois nasceram outros campeonatos e os regionais caíram. Temos que trabalhar para encontrar o equilíbrio. Como vamos fazer isso? A nossa diretoria está aqui para viabilizar isso, para equacionar os problemas. Os regionais não têm a sua importância só de tradição. Vou dar um exemplo em São Paulo. Essas competições mexem com muita cidade do interior e isso fomenta o futebol. Não podemos ter a mentalidade do europeu, nós temos que ter a mentalidade de um país continental. Fortalecer o regional, o Brasileiro, fortalecer o futebol de uma maneira geral. 

FONTE: GLOBO