sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Em processo de fritura, Luxa perde o cabo de guerra com Ronaldinho


Jogador e Assis teriam a garantia da presidente Patricia Amorim de que o técnico não continuará no cargo. Joel e Renato Gaúcho estão em pauta

Por Eduardo Peixoto, Janir Jr. e Richard Souza
Rio de Janeiro e Sucre, Bolívia


O caldeirão borbulhante do Flamengo virou frigideira. E dentro dela está Vanderlei Luxemburgo. Em crise com Ronaldinho Gaúcho e sem qualquer respaldo da presidente Patricia Amorim, o técnico entrou em processo de fritura. Enfraquecido, Luxa perdeu o cabo de guerra com o astro do time e vê sua permanência no comando do Rubro-Negro tornar-se cada vez mais difícil.
Ronaldinho e Assis, irmão e empresário do jogador, teriam a garantia da presidente de que o técnico não continuará no cargo. Ao camisa 10, a mandatária teria pedido tranquilidade e assegurado que o treinador será demitido após o jogo da próxima quarta-feira, contra o Real Potosí, na Bolívia, pela pré-Libertadores. O aviso foi dado em forma de ligação, domingo passado, antes do amistoso contra o Corinthians, em Londrina, enquanto o atacante se preparava para deixar o ônibus que levaria a delegação ao estádio do Café.
Vanderlei Luxemburgo e Ronaldinho no treino do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)Vanderlei Luxemburgo e Ronaldinho em Sucre: relação azedou (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)
Assis ouviu o mesmo, só que na última quarta-feira. Na reunião realizada na Gávea para tratar da crise entre Fla e Traffic e dos cinco meses de salários atrasados de R10 (R$ 3,75 milhões), o choque entre o jogador e Luxemburgo entrou em pauta. O empresário condicionou a permanência do craque à saída do técnico. Ou Ronaldinho, ou Vanderlei. A presidente garantiu que Luxa sai.
- Ronaldinho não fica com o Luxa. Garantiram isso a ele – disse uma pessoa ligada a Assis.
Vanderlei soube da ligação de Patricia para o jogador e entrou em contato com ela para confirmar. Na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos (SP), ficou uma hora no telefone celular com a mandatária, andou de um lado a outro com ar preocupado e ouviu uma negativa da presidente. Patricia não repetiu o que dissera ao camisa 10.
Internamente, os nomes de Joel e Renato Gaúcho estão em pauta para ocupar o cargo de técnico
A história também chegou aos ouvidos de Alex Silva. Contrariado com o atraso no pagamento de R$ 250 mil de luvas e irritado com o vice de finanças Michel Levy, o zagueiro decidiu que não compactuaria com a situação e tomou o caso como mais um motivo para abandonar o barco. Antes da viagem à Bolívia, deixou hotel em que a delegação se concentrava e não voltou mais.
Internamente, os nomes de Joel Santana e Renato Gaúcho estão em pauta. O primeiro tem a preferência de Patricia Amorim, enquanto um forte movimento entre os conselheiros do clube fortalece o segundo, que já teria sido inclusive sondado. A preferência de Ronaldinho também pesa. O astro da companhia sugeriu Renato, que tentou levá-lo para o Grêmio em 2011.
Crise estoura na pré-temporada
Patricia Amorim manteve longas conversas com dirigentes rubro-negros nesta quinta-feira. E ouviu conselhos sobre a gestão do futebol e ataques a Vanderlei Luxemburgo. Existe um consenso no clube de que entre o técnico e Ronaldinho Gaúcho, a permanência do ídolo seria mais benéfica do que a do treinador. Além da rixa com o vice-presidente de finanças, Michel Levy, Luxa está em processo de fritura entre conselheiros e pessoas que têm forte influência no alto escalão.
A relação Vanderlei-diretoria-Ronaldinho começou a azedar de vez durante a pré-temporada do time em Londrina. Depois de Michel Levy ter dito que “um ou dois jogadores marqueteiros estavam fazendo barulho” por conta de luvas e direitos de imagem atrasados, Luxemburgo saiu em defesa do grupo na cobrança pública por salários atrasados.
Vou trabalhar muito para classificar o time para a fase seguinte da Libertadores. Depois, vou me posicionar sobre tudo que aconteceu na pré-temporada"
Luxa, antes de viajar à Bolívia
O técnico direcionou seus ataques a Levy, e fez questão de colocar um escudo em Patricia Amorim. Mas a presidente abriu fogo contra o treinador.
- Quem manda no clube sou eu. Se o treinador quer ser vice de finanças, e o vice de finanças quer ser treinador, a coisa não vai acabar bem – afirmou Patricia Amorim.
Poucos dias depois, Luxa prometeu o revide:
- De repente fui mal interpretado, ou quiseram dar um cala boca no Luxa: fica aqui e cala a boca. Vou trabalhar muito para classificar o time para a fase seguinte da Libertadores. Depois, vou me posicionar sobre tudo que aconteceu na pré-temporada.
Mas a resposta de Luxa pode ser dada já como ex-treinador do Flamengo. As declarações de Patricia Amorim irritaram Vanderlei. Durante todo o tempo em Londrina, o treinador comentou com pessoas próximas sua vontade.
- Vou largar tudo. Estão brincando com o Flamengo – ameaçou Vanderlei, em conversas com diversos membros da comissão técnica.
Além da fritura, também aconteceu o esvaziamento do técnico no episódio em queRonaldinho Gaúcho foi flagrado pelas câmeras do hotel em Londrina entrando no quarto onde estava hospedada uma mulher.
Vanderlei vive às turras com Michel Levy, vice de finanças, e também não fala a mesma língua do diretor executivo Luiz Augusto Veloso, aliado de Patricia Amorim
Depois de ter cruzado com o camisa 10 em atitude suspeita, o treinador fez uma varredura nos arquivos de vídeos das câmeras do circuito interno do hotel. Juntou as provas e repassou para a diretoria e departamento jurídico.
O vice-presidente jurídico Rafael de Piro foi a Londrina para solucionar o caso. Apesar das claras evidências, o jogador não aparecia acompanhado da mulher nas imagens. Luxa cobrou uma atitude enérgica da diretoria, que preferiu abafar o caso e deu apenas uma advertência ao camisa 10.
Vanderlei também não fala a mesma língua do diretor executivo Luiz Augusto Veloso, aliado de Patricia Amorim.
A presidente do Flamengo dá claros sinais de desgaste com o futebol. E com Vanderlei. Ao seu redor, sofre pressão pela demissão de Luxa e a manutenção de Ronaldinho Gaúcho, que marcou a virada do problemático ano de 2010 para 2011.
fonte: globo