Junior, como prefere ser chamado, lembra que vivia na marginalidade, sem nenhuma perspectiva. Hoje, na obra da Copa, vibra com uma nova chance
Por Felippe Costa
Rio de Janeiro
”Tenho uma menina de nove anos e hoje me orgulho de ligar para ela”. Esta declaração é a prova mais clara de que a vida de “Junior”, como deseja ser chamado, está mudando. Preso por tráfico de drogas em 2007, ele é um dos sete detentos que trabalham na obra de construção do Estádio Nacional de Brasília, que será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. A chance foi dada através do programa “Começar de Novo”, do Governo Federal, que tem apoio da Fundação. Prof. Manoel Pedro Pimentel (FUNAP).
- Essa obra está dando uma oportunidade grande de recomeçar minha vida. Fui preso por tráfico de drogas, na Paraíba. Agora, recebo um salário mínimo e posso pagar o aluguel da minha mulher. Tenho uma menina de nove anos e hoje me orgulho de ligar para ela. Como estou no regime semiaberto, falo diariamente com a minha família. Estão contentes – disse ele, que tem 35 anos e trabalha com serviços gerais (faxina).
Além de uma nova oportunidade na vida, Junior diz que o trabalho o impede de ficar "pensando besteira". Ele reconhece que uma possível volta para a Paraíba não seria uma das melhores escolhas no momento.
Não fico mais pensando besteira. Vim trabalhar"
"Junior"
- A pessoa vai trabalhando, e o pensamento vai mudando. Não fico mais pensando besteira. Vim trabalhar. Saio do galpão cedo e com muita disposição. Por isso, não penso em voltar para lá. Se for, minhas amizades podem me atrapalhar. Quero ficar aqui mesmo, pois já disseram que posso continuar na obra depois de conseguir a liberdade – revelou o vascaíno, que espera estar solto em maio e gosta de trabalhar cantando a música do “Trem Bala da Colina”.
Ele fica num galpão localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SAI). O espaço é reservado para os detentos que conseguiram trabalho. Todos saem de manhã e voltam no fim da tarde, para dormir. Quem descumpre alguma norma - falta o trabalho ou chega atrasado para dormir (o horário é 17h30m), por exemplo - fica de castigo. A cada três dias de trabalho na obra, eles tiram um da prisão.
Wilton sonha em terminar o ensino médio
Outro que se vê em uma nova fase é o jovem Wilton, de 21 anos. Também preso por tráfico de drogas, ele revela que tinha um sonho de ser jogador de futebol. Agora, só pensa em sair da cadeia e fazer um supletivo para acabar o ensino médio.
- Vivo uma fase legal. Ganho meu salário e ainda tenho a oportunidade de sair todo dia. Quando era novo, pensava em ser jogador. Mesmo sabendo que existe um preconceito contra ex-detentos, espero sair da prisão e trabalhar. Quero continuar aqui – disse ele, que foi preso em 20 de setembro, em Sobradinho, uma área muito carente de Brasília.
Das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, seis têm trabalhos com a mão de obra de detentos, ex-detentos, cumpridores de penas alternativas e adolescentes que cometeram crimes. Brasília (DF), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Natal (RN) e Salvador (BA) levaram para os canteiros de obras cerca de 62 operários contratados com base no acordo.
Tribunais de Justiça tentam levar o programa para as outras cidades. Por isso, um número significativo de vagas ainda pode ser aberto nas obras dos estádios do Itaquerão, em São Paulo, e do Maracanã, no Rio de Janeiro.