terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Comida, música e alegria: Joel mata saudade de casa na capital mineira

Estudantes camaroneses da UFMG preparam prato típico africano para atacante do Cruzeiro. Encontro rende lembranças, risadas e muita dança

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Belo Horizonte
Longe dos sorrisos, das lágrimas, das festas e da miséria, Joel carrega a responsabilidade de ser a esperança da família Tagueu. Há seis anos longe da África, o camaronês já sente como um brasileiro, mas as lembranças não o deixam esquecer do passado. O futebol foi só o instrumento, a felicidade é o objetivo. 
- Eu sou a esperança da minha família. Por isso, eu não tenho direito de errar – lembra Diedrrick Joel Tagueu, natural de Nkongsamba, em Camarões.
GloboEsporte.com preparou uma surpresa para o jogador do Cruzeiro, recém-chegado a Belo Horizonte. Cinco estudantes camaroneses se reuniram em um tradicional restaurante africano na região leste da capital mineira, e prepararam um prato típico da região onde Joel nasceu, criando um clima que fez o jogador se emocionar. 

- Pela recepção que eu tive aqui, eu me senti em casa. Estou muito feliz em ter conhecido eles pessoalmente. Como todos moramos em BH, vamos ter a oportunidade de matar mais a saudade de casa com dança e comida africana.  
Apesar do estilo ousado, Joel chega com passos lentos, sorriso travado e olhar baixo. Timidez? 
- Eu não sou tímido. Sou quieto. E depende também do ambiente.  
Pura verdade. Em poucos minutos, Joel já estava brincando com os compatriotas, rindo, dançando o "pinguiss", música típica camaronesa. Mas foi a comida que despertou boas lembranças das raízes do jogador. 
Mosaico Joel, atacante do Cruzeiro (Foto: GloboEsporte.com)Mosaico Joel, atacante do Cruzeiro (Foto: GloboEsporte.com)









A receita 
A Universidade Federal de Minas Gerais possui muitos estudantes de outros países, e os africanos estão em grande proporção. Com um português tão bom quanto o do atacante do Cruzeiro, os estudantes Stéphane Datchoua, Christian Wafo, Thomson Nyetem e Véronique Douzaka prepararam um prato típico de Camarões para que Joel se sentisse em casa.
- A comida é uma das lembranças mais fortes dos nossos antepassados, e hoje estamos recebendo nosso irmão Joel, que joga no Cruzeiro. Vamos preparar um prato especial que se chama DG - explica Véronique. 



O DG, nome em francês, é um prato típico de festas africanas, em eventos especiais. A receita é basicamente uma mistura de frango e banana da terra, com um refogado de legumes. Joel conta que a culinária é um dos aspectos que ele mais sente saudade da terra natal.  
- A principal coisa que sinto falta é a comida. A comida brasileira é muito boa, mas em Camarões tem algumas comidas típicas que a gente acaba sentindo falta.  
A principal coisa que sinto falta é a comida. A comida brasileira é muito boa, mas em Camarões tem algumas comidas típicas que a gente acaba sentindo falta
Joel
Orgulho da família  
Joel nasceu na pequena cidade de Nkongsamba, na província de Litorial, em Camarões. De família grande, ainda garoto colhia café e cortava mandioca para ajudar os pais a colocar comida dentro de casa. Com o tempo, foi amadurecendo o sonho de ser jogador de futebol. Ele se mudou para Yaoundé, capital do país. Inspirado em um dos maiores ídolos do esporte camaronês, Samuel Eto´o, Joel começou como a maioria dos garotos.  
- Saia da escola, era bola com os amigos, descalço, na chuva ou no sol. A partir do momento que tinha bola, eu estava atrás. 
Visto por um olheiro, radicado no Brasil, o jovem africano recebeu um convite promissor. Joel já havia frequentado as categorias de base da seleção camaronesa e se via em uma situação delicada: aceitar a proposta e tentar a vida no Brasil ou seguir o conselho dos pais para estudar?
Joel desembarque do Cruzeiro (Foto: Mauricio Paulucci)Joel chegou com o carinho da torcida celeste (Foto: Mauricio Paulucci)
- Minha mãe, por ela era estudo ou bola. Às vezes quando eu tinha uma nota ruim na escola, ela falava que eu não ia jogar bola. Ela sabia que proibindo o futebol, era praticamente me matar.  
O camaronês desembarcou no Brasil em 2009. Teve suas primeiras chances no Iraty e depois atuou pelo Londrina, nas categorias de base. Ainda no time paranaense, o jovem atleta foi promovido para os profissionais, em 2013. Emprestado ao Coritiba, Joel ganhou repercussão nacional e acabou despertando o interesse do Cruzeiro. Depois de vestir a camisa do Coxa, o atacante sonha em usar outro uniforme verde.
- Meu objetivo é ser convocado para a seleção camaronesa, disputar uma Copa do Mundo de 2018 e dar um conforto maior para minha família. 
Bom de bola, bom na escola
E foi driblando a morte que Joel aprendeu a ser um boleiro estudioso. Hoje, o atacante fala quatro línguas – português, inglês, francês e espanhol. Na ocasião, ele reencontrou Christian Wafo, amigo de infância na cidade de Nkongsamba, cujo pai era professor de matemática de Joel. Wafo revela até um apelido curioso do atacante. 
- Ele jogava muita bola desde criança. Na escola também. Matemática. O nome dele era Thalles, aquele famoso em matemática. – revela Wafo, se referindo ao matemático Thales de Miletto. 
Joel, atacante do Cruzeiro (Foto: Washington Alves / Light Press)Joel caiu nas graças da torcida e é candidato a ser titular no ataque celeste (Foto: Washington Alves / Light Press)

- Em contas, física, matemática, sempre gostei, sempre me dei bem nisso. – confirma Joel. 
Camaronês conectado 
Wafo e Joel se reencontraram pelo Facebook. Aliás, é pelas redes sociais que o atacante celeste se comunica com seus conterrâneos. Para matar a saudade de casa: Skype com a família. Diariamente, ele recebe mensagens por Facebook de jovens africanos que vivem no Brasil em busca de conselhos de como se dar bem por aqui.   
- Tenho muitos amigos camaroneses no Brasil. Em São Paulo, Londrina e Recife. Sem contar aquele quem converso por Facebook, mas que nunca vi pessoalmente. 
Joel se sente em casa com almoço e comterrâneos africanos (Foto: Maurício Paulucci)Joel se sente em casa com almoço e coterrâneos africanos (Foto: Maurício Paulucci)