Grupo cria movimento em rede social e realiza encontro para discutir ideias de como arrecadar dinheiro para bancar a folha salarial do time na terceira divisão de S. Paulo
Fim de tarde de quarta-feira e torcedores começam a chegar ao portão principal do estádio Martins Pereira, em São José dos Campos, interior de São Paulo. O dia é típico de jogo, mas nessa quarta, 18, nenhuma partida estava marcada para o local. O motivo que levou cerca de 50 torcedores ao estádio foi a situação vivida pelo São José Esporte Clube, vice-campeão paulista em 1989. Com os salários atrasados, os atletas cogitam não entrar em campo até que a dívida seja quitada. Para evitar que isso aconteça, os torcedores organizaram uma "vaquinha" para tentar acertar os salários. Querem ser, como eles mesmo se apelidaram, os "Anjos do São José".
Torcedores do São José se reúnem para discutir formas de arrecadar dinheiro para o pagamento dos salários dos atletas
(Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)
A ideia da criação do grupo surgiu no fim da última semana, quando os jogadores da Águia do Vale pensaram em não entrar em campo para enfrentar o Tupã, no sábado, 14, pelo Paulista da Série A3 (equivalente à terceira divisão). Além da folha salarial atrasada (cerca de R$ 40 mil), reivindicavam condições básicas de trabalho e cobravam uma posição quanto a não inscrição de nove atletas no estadual. Após terem o carro de um dirigente como garantia do acerto, viajaram para Tupã na madrugada e, mesmo sem a concentração adequada, venceram o jogo por 3 a 1.
Os momentos de tensão fizeram o projetista aeronáutico Everton Ferreira se unir a mais dois torcedores do clube e, juntos, criarem o movimento para ajudar a Águia. Por meio do Facebook, divulgaram a ideia e organizaram o evento para apresentar aos interessados como seria feito a arrecadação de dinheiro para o pagamento dos salários do time ao longo do campeonato.
Everton Ferreira é um dos organizadores do grupo de ajuda (Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)
– É uma situação triste. Mas uma situação que nos faz levantar do sofá. É muito fácil a gente ficar criticando a diretoria, xingando o presidente, vir ao estádio para xingar jogador... Essa situação, que não está boa, fez a torcida realmente se mexer. No Vale do Paraíba, somos a maior torcida. Mas se não sairmos do sofá, somos só um número – afirmou Everton Ferreira.
Uma conta bancária foi criada nessa quarta-feira e, até o fim do dia, já tinha R$ 400 depositado. A intenção é que os torcedores depositem a quantia que puderem e, com esse montante, pagar os salários dos atletas. O dinheiro, entretanto, eles dizem que não passará nas mãos dos dirigentes do São José. Ou seja, o pagamento será feito diretamente para os atletas. Cada jogador, ao receber o salário, assinaria um recibo do clube para evitar que dívidas sejam cobradas futuramente.
Além de doações, o grupo também corre atrás de patrocinadores, para aumentar a verba arrecadada, e já conseguiram com a fornecedora de material esportivo do clube alguns materiais para venderem e levantarem mais dinheiro. Nas próximas reuniões, a intenção é que seja criada uma comissão de cargos neste grupo e que sejam definidas as formas e as frentes de trabalho. Além disso, querem definir os meios para serem transparentes quanto ao dinheiro arrecado e com o que ele foi gasto.
Durante a reunião, alguns torcedores também discutiram formas de tirar do cargo o presidente do clube, Benevides Ferneda, mais conhecido como Geléia. A insatisfação com o mandatário não é somente dos torcedores. Nessa quarta-feira, 18, os jogadores também criticaram o dirigente. Porém, de acordo com Everton Ferreira, esta ação não é a principal meta dos "Anjos do São José". Ele ressalta que querem primeiro arrecadar dinheiro para pagar os salários. Depois, pretendem discutir formas de tentar a retirada do presidente do cargo.
Torcedores querem a saída de Geléia, presidente do clube (Foto: Danilo Sardinha/Globoesporte.com)
– Sabemos que o presidente precisa sair, mas o foco hoje é juntar recursos para pagar os jogadores – disse Ferreira.
Geléia, que já foi diretor do clube nos anos de 1980 e 1990, assumiu a presidência do São José no fim de 2013. No ano passado, a Águia do Vale entrou em uma das piores crises da própria história. Além de ter sido rebaixada na Série A2 com apenas uma vitória em todo o campeonato, atletas enfrentaram problemas de atrasos de salários, falta de estrutura de trabalho, como água nos treinos, e outros problemas. O GloboEsporte.com expôs em uma reportagem no ano passado a crise enfrentada pelo clube.
O GloboEsporte.com tentou entrar em contato com o presidente para falar sobre os fatos recentes da instituição, mas não conseguiu localizá-lo por telefone e na sede social do clube.
Torcedores criam grupo "Anjos do São José" para ajudar a Águia do Vale (Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com)FONTE; GLOBO