Rogon, que atua no futebol brasileiro desde 2006 e também responsável pela transferência de Luiz Gustavo, encontra dificuldades no garimpo de novos talentos e faz alerta
Depois de Luiz Gustavo, agora, Roberto Firmino. Distantes das vitrines dos grandes clubes, deixaram o Brasil jovens para vingar na Alemanha e chegar à Seleção. A trajetória não é apenas o único aspecto em comum. Por trás das transferências, uma agência alemã responsável por garimpar jovens talentos no país e que, agora, se depara com dificuldades no processo de descoberta de novas promessas.
A Rogon tem um braço sul-americano instalado no país desde 2006. Com escritórios em Porto Alegre e Florianópolis, o grupo mapeia o mercado do continente e prioriza a busca por jovens atletas e sem vínculo com grandes clubes. Qualidade agregada a esse perfil cada vez mais raro. Na visão da agência, a escassez não coincide apenas com a crise técnica do futebol brasileiro discutida no pós-Copa.
E MAIS
- O trabalho complicou-se de quatro, cinco, seis anos para cá simplesmente pelo fato do nível do campeonato no Brasil e da categoria de base ter estacionado. Ficou no mesmo nível de cinco, seis anos atrás - disse ao L!Net Christian Rapp, diretor do grupo no Brasil.
Os alemães entendem que a fonte brasileira de talentos não secou. Pelo contrário, o números de jovens com pseudo potencial ainda atende a demanda esperada pelo mercado. O entrave, porém, remonta justamente ao processo que contempla a formação na base até o jogador torna-se profissional e ter uma sequência. Para a Rogon, o modelo do atleta exportação nacional não tem atendido à expectativa dos compradores.
- Não é dificil descobrir, o problema é esse talento jogar lá. Cada ano está sendo um pouco mais complicado. O Brasil tenta evoluir, mas essa velocidade de evolução é diferente. O talento revelado consegue jogar aqui, mas não lá. Precisa haver um salto - defende Rapp.
Evolução que requer, especialmente, dinâmica no entendimento do novo jogo. O sucesso de Firmino no Hoffenheim é tido pelo grupo como exemplo e é atribuído ao fato de o meia-atacante ter aprendido a conciliar técnica com força física. A habilidade inerente ao jogador brasileiro, isolada, não é visto mais como um fator diferenciado no mercado.
- O jogador precisa da parte técnica e isso qualifica o brasileiro. Esta é a função principal do jogador aqui no globo do futebol. Porém, ele precisa de velocidade para competir nos campeonatos europeus, que não param de desenvolver-se - explicou o diretor da Rogon.
Na tentativa de suprir a necessidade da empresa sem minar a qualidade dos talentos nacionais, a Rogon entende que uma possível solução contempla duas frentes distintas de trabalho.
- Temos de levar os aspectos bons do Brasil. Essa coisa do garoto começar a jogar bola na rua e ir para o clube depois. É necessário, porém, a formação europeia. Se essas duas coisas se encontram, a base do Brasil e finalização na Europa, podemos ter algo bom. Mas nunca é garantido que teremos dois exemplos tão bons quanto Luiz Gustavo e Roberto Firmino - avisou Christian Rapp.
PRIMEIRO A SAIR, RAFINHA É TIDO COMO EXEMPLO
A lista de descobertas da Rogon não contempla apenas jogadores que não tiveram passagens por grandes clubes do Brasil. Rafinha, lateral-direito do Bayern de Munique (ALE) foi o primeiro a ser transferido pelo grupo para a Alemanha.
Na época, o jogador já acumulava passagens pela Seleção Brasileira sub-20 quando defendia o Coritiba. Desde 2005 fora do país, Rafinha é tido como um exemplo de sucesso pela Rogon justamente por ter incorporado ainda quando jovem parte do trabalho europeu.
– Um dos grandes segredos do Rafinha, se é que existe isso, é ter finalizado a formação na Europa. Quando ele foi transferido ainda não era completo e ficou pronto com 22, 23 anos, idade que o jogador também já ganha uma certa maturidade. E esse mesmo caso aconteceu recentemente com Firmino – explicou Christian Rapp.
NOVA APOSTA ESTÁ NA POLÔNIA
A nova aposta da Rogon tem 19 anos e deixou o país no meio do ano passado. O meia-atacante Bruno Nazário foi adquirido pelo Hoffenheim (ALE) após uma negociação que envolveu o grupo e os agentes do jogador, Eduardo Uram e Nenê Zini. Na época, ele defendia o América-MG, mas tinha os direitos econômicos vinculados à Tombense (MG), clube no qual Uram registra os jogadores dele.
Antes de atuar pelo Coelho, Bruno atuou pelo Figueirense, assim como Firmino. Emprestado ao Lechia Gdansk, da Polônia, clube com o qual a Rogon também tem parceria, Bruno ainda não é comparado aos outros jogadores da empresa .
– Os outros, hoje, são gigantes no mercado alemão – disse Christian Rapp
BATE-BOLA - Christian Rapp, diretor da Rogon
Você citou problemas do aspecto técnico sobre os jovens. E como é em relação à adaptação? O quanto esse fator pode determinar ou não no sucesso do jogador?
O mais importante é a cabeça do jogador. É o mais complicado para avaliar e isso é um desafio. Problemas técnicos você pode eliminar, mas esse outro lado é difícil. Damos assistência 24 horas na primeira semana e, depois, eles têm alguém para acompanhar. O jogador que quer dar certo e fazer a carreira internacional precisa se adaptar ao novo país e clube e não o contrário. Esse é um grande motivo que nos leva a entender porque alguns casos dão certo e outros não.
Por que o grupo foca em jovens que jogam em clubes mais modestos do futebol brasileiro?
O problema para muitos mercados é que os jogadores ficaram caros, especialmente dos grandes clubes. O preço de grandes talentos, às vezes, é o mesmo de um jogador que já está consolidado e pronto na Europa. Felizmente, às vezes, conseguimos encontrar um jogador talentoso.
O GRUPO ROGON
OS CASOS
Luiz Gustavo e Firmino se encaixam no caso de jogadores que saíram desconhecidos da maioria dos torcedores e de clubes modestos e despontaram na Europa. O grupo, porém, também já levou Rafinha para Alemanha quando o lateral-direito já era convocado para a Seleção sub-20. Outras transferências da Rogon de brasileiros incluem ainda jogadores como o zagueiro Naldo, o volante Josué e o atacante Grafite.
O TRABALHO
Desde 2006 no Brasil, o grupo tem escritórios em Porto Alegre e Florianópolis e 20 profissionais monitoram o mercado brasileiro e sul-americano.
NOVA APOSTA
O meia-atacante Bruno Nazário de 19 anos foi negociado pelo grupo com o Hoffenheim em 2013.
FONTE: LANCE