quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nove candidaturas lutam por Copas de 2018 e 2022: conheça as propostas

Países começam a mostrar projetos nesta quarta-feira à Fifa. Decisão sobre onde serão os Mundiais depois de 2014 será revelada na quinta, em Zurique

Por Lucas Loos e Márcio Iannacca Rio de Janeiro

O planeta vai saber nesta quinta-feira quais serão as sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022. Mas, a partir desta quarta, 11 países divididos em nove candidaturas começarão a apresentar ao Comitê Executivo da Fifa, em Zurique, os seus projetos pela última vez. Rússia, Inglaterra e as propostas conjuntas de Portugal/Espanha e Bélgica/Holanda estão no páreo para receber o primeiro evento, enquanto Japão, Qatar, Coreia do Sul, Estados Unidos e Austrália brigam pelo direito de organizar a edição seguinte.

As apresentações finais começarão com os países que sonham sediar o Mundial de 2022. Nesta quarta, a Austrália vai ser a primeira a mostrar o seu projeto, às 11h (horário de Brasília). Em seguida, Coreia do Sul, Qatar, Estados Unidos e Japão, respectivamente, terão uma hora. No dia seguinte, a candidatura de Bélgica e Holanda será a primeira a fazer a sua exposição, às 6h (de Brasília), para depois entrarem Espanha/Portugal, Inglaterra e Rússia. O anúncio das sedes das duas Copas depois de 2014 será feito às 13h (de Brasília) na quinta.

O GLOBOESPORTE.COM pesquisou cada uma das candidaturas e selecionou os principais pontos fortes e fracos de cada uma delas. Além disso, um infográfico mostra todos os estádios oferecidos pelos países à Fifa. Embora a entidade só tenha exigido 12 arenas de cada, alguns oferecem mais do que o necessário e essa escolha está sujeita à mudanças futuras. Portugal e Espanha, por exemplo, sugeriram 21 estádios, enquanto o Qatar foi mais econômico, com apenas 12, sendo que nove deles ainda precisarão ser erguidos. Confira abaixo tudo sobre a briga para 2018 e 2022.

Rússia

Estádio Krasnodar Copa 2018 RussiaProjeto do estádio de Krasnodar, na Rússia: país
é o favorito para a Copa de 2018 (Foto: Divulgação)

Favorita nos bastidores para receber a Copa do Mundo de 2018, a Rússia aposta no seu forte poderio econômico para receber a competição. Com a promessa de investir U$ 3,8 bilhões (R$ 6,5 bilhões) em estádios, U$ 2,2 bilhões (R$ 3,8 bilhões) no futebol no país e U$ 11,5 bilhões (R$ 19,8 bilhões) em infraestrutura, a candidatura promete erguer nada menos que 13 arenas e ainda reformar outras três. Os russos ainda usam o argumento de que nunca sediaram uma Copa e, com isso, poderiam abrir novos mercados para o torneio, assim como aconteceu com a África do Sul, neste ano, e com os Estados Unidos, em 1994.

- Nunca recebemos uma Copa do Mundo. Recebê-la aqui seria abrir novas cabeças e corações para o futebol. Seria um capítulo completamente novo para a Copa do Mundo - disse o meia Arshavin, um dos principais nomes do Arsenal, capitão da seleção russa e embaixador da candidatura.

Maior país em território do planeta (17.075.200 km²), a Rússia atravessa a Europa e a Ásia, ligando Ocidente e Oriente. Isso implica também em longas distâncias de uma sede para outra. A organização da candidatura, porém, diz que vai concentrar os jogos na parte leste do país para evitar longas viagens das delegações. Por conta da questão dos transportes, a candidatura é considerada de médio risco na avaliação da Fifa, enquanto as suas concorrentes europeias são mais bem avaliadas nesse sentido.

Inglaterra

David Beckham no estádio olímpico de LondresBeckham no Estádio Olímpico de Londres, que
poderá ser usado na Copa (Foto: Reuters)

Berço do futebol, a Inglaterra usa a sua tradição no esporte e suas arenas bem cuidadas como trunfos na votação desta quinta-feira. Na capital, por exemplo, a candidatura oferece o futuro estádio Olímpico de Londres (ainda em construção), a nova casa do Tottenham (ainda um projeto), o lendário e remodelado Wembley e o Emirates Stadium, do Arsenal. Fora outras cidades com clubes fortes, como Manchester (Old Trafford e City of Manchester) e Liverpool (Novo Anfield Road), que também serão sedes. Além disso, a comunidade britânica está bem envolvida com o projeto. Nomes como o primeiro-ministro do país, David Cameron, e o astro David Beckham vão a Zurique para a votação.

- Os ingleses querem muito ser sede da Copa. E eu acho que eles estão muito preparados para isso. Mesmo sem terem sido eleitos para organizar a Copa do Mundo, eles já estão preparados desde antes - disse o brasileiro Gomes, que atua no Tottenham.

Pesa contra os ingleses o fato de já terem sediado uma Copa do Mundo e ainda receberem as Olimpíadas de Londres de 2012. Isso porque a Fifa não gostaria que os britânicos organizassem dois grandes eventos desse nível em um pequeno intervalo de tempo para dar a oportunidade a uma outra nação. Outro ponto que levantou polêmica é a questão do torneio de Wimbledon, que pode coincidir com os jogos da competição. A Fifa exige que nenhum outro evento esportivo de grande porte aconteça em uma das sedes simultaneamente ao Mundial e, por isso, levou em conta o Grand Slam do tênis em seu relatório.

Holanda e Bélgica

Após organizarem a Eurocopa de 2000, Holanda e Bélgica se juntaram novamente para tentar realizar uma Copa do Mundo. E dessa vez sustentabilidade e facilidade de locomoção são as palavras de ordem. Com planos de reaproveitar água e reciclar resíduos, os dois países pretendem utilizar materiais que produzam um Mundial verde. Além disso, enquanto a Rússia enfrenta dificuldades com as longas distâncias, o maior trajeto a ser percorrido entre as sedes dos dois países será de 374km, das cidades de Enschede (Holanda) para Charleroi (Bélgica).

Pouco cotada nos bastidores, a candidatura perdeu força com a desistência dos Estados Unidos na briga por 2018 para se concentrar exclusivamente para 2022, na qual são favoritos. Com isso, holandeses e belgas só podem brigar pelo direito de sediar a edição logo após o Mundial do Brasil, já que os europeus não estarão na concorrência de 2022 devido ao rodízio de continentes promovido pela Fifa. Além disso, a pouca tradição da Bélgica no futebol não fortalece a proposta.

gullit, campanha para copa de 2018Ex-jogador Gullit (esquerda) é o principal nome da campanha de Holanda e Bélgica (Foto: AP)

Espanha e Portugal

montagem Cristiano Ronaldo José Mourinho camisa candidatura CopaCristiano Ronaldo e José Mourinho dão apoio à
candidatura ibérica (Fotos:EFE)

O grande trunfo de Portugal e Espanha para receberem a Copa do Mundo de 2018 é a boa estrutura de estádios e hotéis que os países contam atualmente. Das 21 arenas oferecidas para o Mundial, apenas cinco vão precisar ser construídas, sendo que das existentes sete não precisariam nem de reforma. Além disso, a boa rede hoteleira é considerada boa e vai além do que a Fifa exige para a competição. Jogadores e ex-jogadores consagrados dos países também fazem parte da campanha e alguns deles, como Iker Casillas, Fernando Hierro, Luís Figo e Cristiano Ronaldo, prometeram marcar presença na escolha em Zurique.

Com a grande quantidade de estádios oferecidos pela candidatura conjunta, a Espanha vai dominar o Mundial caso a dupla seja escolhida pelo Comitê Executivo da Fifa. Isso porque Portugal só teria três dessas sedes - Dragão (Porto), José Alvalade e Estádio da Luz (ambos em Lisboa). Além disso, a situação econômica dos países não é das melhores e pode pesar contra a proposta ibérica.

Austrália

Daniel Jordaan, Mayne-Nicholls Inspeção FIFA copa 2018 AustráliaAustrália espera levar a Copa pela primeira vez
para a Oceania (Foto: Getty Images)

Assim como a Rússia, a Austrália argumenta que sua candidatura poderá conduzir o futebol a novas localidades, podendo levar a Copa pela primeira vez para a Oceania e a deixar próxima da Ásia ao mesmo tempo. Além disso, o país é dono de um grande potencial turístico e abriga uma das mais antigas civilizações do mundo. Após organizar grandes eventos recentemente, como as Olimpíadas de Sidney (2000) e o Mundial de Rugby (2003), os australianos garantem que já têm uma infraestrutura bem adiantada para o evento.

Apesar de estar presente nas duas últimas edições da Copa, a Austrália deixa a desejar quando o assunto é tradição no futebol. Potência olímpica, os australianos só participaram de três Mundiais e, a partir das eliminatórias passadas, filiou-se à AFC (Confederação de Futebol Asiático) para ter chances maiores de disputar a competição. Além disso, a questão da rede hoteleira deixa a desejar, já que o país apresentou 43 mil quartos enquanto a Fifa exige 60 mil.

Japão

projeto estádio de osaka, copa de 2022Projeto do estádio de Osaka, o único que ainda
não está pronto no Japão (Foto: Divulgação)

O Japão tem uma nova paixão: o futebol. Desde os anos 90, o esporte no país se desenvolveu a ponto de a seleção local participar os últimos quatro Mundiais de forma consecutiva. Os números são impressionantes se levar em conta que a equipe nipônica fez sua estreia em Copas em 1998. Além disso, a tecnologia desenvolvida e a cultura milenar também são argumentos usados pelos organizadores para sensibilizar o Comitê Organizador da Fifa na próxima quinta-feira.

Pesa contra o país o fato de ter organizado o evento há oito anos. Sede da Copa de 2002, em conjunto com a Coreia do Sul, o país receberia a competição por duas vezes em um intervalo de 20 anos, caso seja o escolhido na votação em Zurique. Até hoje só o México organizou duas edições em um intervalo próximo a esse, em 1970 e 1986, e assim mesmo porque a Colômbia, que deveria sediar o Mundial vencido pela Argentina, desistiu por conta dos problemas políticos e econômicos que atravessava na década de 80.

Coreia do Sul

É com o legado de competições do porte das Olimpíadas de Seul, em 1992, e da Copa do Mundo, em 2002, que a Coreia do Sul espera convencer os membros do Comitê Executivo da Fifa para receber novamente o Mundial. Com uma boa infraestrutura por conta dos eventos recentes, a candidatura aposta também nas vitórias da seleção local, que garantiu vaga nas últimas sete edições da Copa, para se mostrar como a maior força do futebol asiático dos últimos anos e ganhar uma nova oportunidade.

Assim como o Japão, a Coreia recebeu um Mundial recentemente e, caso seja a escolhida nesta quinta, estaria tirando a chance de uma outra nação receber o evento. Além disso, tem a questão da eterna tensão com a Coreia Norte, que pode servir como empecilho para o sonho asiático. A candidatura, no entanto, promete usar essa questão a seu favor e pretende oferecer dois ou três jogos do torneio para os vizinhos.

estádio da Coreia do Sul Seoul Coreia do Sul aposta no sucesso de 2002 para repetir os estádios cheios em 2022 (Foto: Reprodução)

Estados Unidos

Há 16 anos, os Estados Unidos organizavam a Copa do Mundo mais lucrativa da história, ao faturar cerca de R$ 3,4 bilhões. Favoritos nos bastidores para organizar novamente o evento, os americanos preferem deixar de lado o passado e focam o presente e o futuro ao usar como trunfo a boa disponibilidade de estádios no país aliada à possibilidade de abrir ainda mais o mercado do esporte para a América do Norte. Com nomes como Brad Pitt, Morgan Freeman e Bill Clinton apoiando a candidatura, os EUA apostam ainda que a sua população cosmopolita poderá atuar como um fator preponderante na decisão da Fifa.

Uma escolha favorável aos americanos, no entanto, iria contra a política de rodízio da Fifa. Apesar da experiência bem sucedida, o país recebeu a Copa em 1994 e estaria tirando a oportunidade de uma outra nação que nunca recebeu uma Copa. Além disso, a Fifa apontou em seus relatórios que os governantes locais não estariam dando o devido apoio à candidatura

Brad Pitt
Brad Pitt é um dos embaixadores dos Estados Unidos para sediar novamente a Copa (Foto: Getty Images)

Qatar

Estádios com tecnologia de ponta, sedes próximas umas das outras e a possibilidade de levar a primeira Copa do Mundo até o Oriente Médio, região apaixonada pelo futebol. Estes são os três grandes trunfos do Qatar para convencer os membros do Comitê Executivo da Fifa. Com o apoio de nomes de peso, como Zinedine Zidane e Pep Guardiola, a proposta asiática oferece estádios climatizados e facilidade de locomoção para driblar os contras que ameaçam a candidatura.

O primeiro deles é o forte calor que faz no país nos meses de junho e julho, época em que acontece o torneio. Por conta disso, a Fifa inclusive inseriu em seu relatório que um eventual Mundial no Qatar poderia oferecer riscos à saúde dos jogares, classificando a proposta - entre outros motivos - como de grande risco. A pouca tradição no futebol é outro fator que pesa contra os asiáticos, que não estão nem entre as 100 seleções mais bem colocadas do ranking e nunca disputaram uma Copa do Mundo.

camisa gigante promove a candidatura da copa do mundo Qatar 2022
O comitê do Qatar produziu a maior camisa do mundo para divulgar a candidatura do país (Foto: Reuters)
FONTE: GLOBO