sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Árbitros aplicam 60% mais cartões vermelhos na Série B que na Série A

Juiz Péricles Bassols aponta para diferença técnica, e Marcelo Cordeiro diz: 'A interpretação é diferente. O árbitro tem mais cuidado na Primeira Divisão'

Por Diego RodriguesRio de Janeiro

portuguesa x náutico (Foto: Futura Press)Gutemberg de Paula é criticado por jogadores da
Portuguesa nos Aflitos (Foto: Futura Press)

A luta pelo G-4, a fuga da zona de rebaixamento, briga por uma condição melhor na tabela... características comuns em um campeonato de futebol por pontos corridos. Mas será que essa disputa pode afetar de maneira diferente duas divisões de um determinado campeonato? No Brasileirão deste ano, pelo menos, há uma diferença grande nos cartões aplicados pelos árbitros. Atualmente, na Série A foram 65 vermelhos contra 104 da Segundona - ambas têm 23 rodadas disputadas, porém, na elite dois jogos adiados ainda estão pendentes. Nervosismo maior? Critério diferente da arbitragem?

Para o árbitro Péricles Bassols, da federação do Rio de Janeiro, não há uma tendência a punir mais em determinada competição, no entanto, ele crê que as características do torneio exigem maior severidade por parte dos homens do apito.

- Na verdade, cada jogo tem sua particularidade. As divisões têm uma diferença técnica natural entre os jogadores. Cada jogo tem um DNA, e o árbitro apenas interpreta. É um desenrolar do próprio jogo, e a parte técnica contribui. O gramado também influencia, torna o jogo mais truncado, com mais contato e, consequentemente, mais cartões. Não tem muita matemática - disse Bassols, que na Série A apitou sete partidas e aplicou cinco vermelhos e na B expulsou dois atletas em dois jogos.

O comentarista do canal SporTV e ex-árbitro Leonardo Gaciba aponta para outro viés, mas concorda com a mudança do cenário de uma competição para outra.

- Na Série B, os árbitros novos são testados e normalmente a média de cartões é mais alta com quem está começando, além das características da competição – disse.

Veja a análise de Gaciba no blog

O lateral-esquerdo da Portuguesa Marcelo Cordeiro, expulso por Gutemberg de Paula Fonseca em uma partida polêmica contra o Náutico, na 20ª rodada, acredita que a troca de divisão interfere na forma com que a parte disciplinar é conduzida. O jogador, que disputou a Série A pelo Botafogo em 2010, aponta para um cuidado maior com a imagem em caso de possíveis erros do juiz.

- Acredito que na Série B eles são mais rigorosos. Talvez por ter mais jogadores famosos eles aliviam na Série A e acabam levando na conversa. Provavelmente eu e o Ferdinando não teríamos sido expulsos se fosse na Série A. Em um Corinthians x Flamengo ele seria mais cuidadoso, até pela repercussão de um erro em um jogo desses - disse o lateral, que não foi expulso no Brasileiro do ano passado e levou vermelho, segundo o árbitro, por reclamação na partida contra o Náutico.

Cordeiro critica ainda um possível exagero de autoritarismo quando os árbitros acostumados a apitar a Primeira Divisão conduzem jogos na Segunda.

- Árbitros acostumados à Série A apitam como querem na Série B. Eles não aceitam que falem com eles. Dependendo do juiz não tem nem diálogo. A interpretação é diferente. O árbitro tem mais cuidado na Série A.

Rio mais rigoroso

Estado (número de árbitros)Jogos apitadosCartões amarelosCartões vermelhos
São Paulo (13)5725613
Rio de Janeiro (9)4729316
Rio Grande do Sul (7)351878
Bahia (6)201228

Curiosamente, o número de amarelos é muito parecido nas duas séries, diferentemente do que acontece com os vermelhos. Ao todo foram 1183 na Segunda Divisão contra 1167 da Primeira – em caso de dois amarelos e a consequente expulsão por vermelho, é contabilizado apenas o vermelho no balanço final para efeito de suspensão.

Apesar de uma diferença mínima em relação aos amarelos, somando os números dos árbitros das federações nas divisões citadas, os cariocas lideram com sobras - na média, o Rio também está na frente, com 6,2 cartões por jogo. Rio de Janeiro e São Paulo, com mais representantes, participaram de mais partidas (veja na tabela ao lado os quatro estados com mais jogos apitados). Para Péricles Bassols, não há uma tendência específica em cada escola.

- A diferença depende da exigência da partida e a interpretação do árbitro. Não acredito que tenha a ver com diferença na forma de trabalhar. O jogo é que diz se terá mais cartões ou não.

Gaciba, por sua vez, acredita que o ideal é uma "sintonia entre as comissões" para atingir uma padronização e evitar diferenças nas interpretações.

fonte: globo