Técnicos são amigos desde os tempos de Grêmio. Adilson foi capitão e homem de confiança de Scolari. Domingo, estarão em lados opostos
(Foto: Editoria de Arte / GLOBOESPORTE.COM)
Neste domingo, a partir das 16h (de Brasília), o Pacaembu será palco do reencontro de dois técnicos que são mais do que amigos. Luiz Felipe Scolari e Adilson Batista serão dois dos personagens mais visados do clássico entre Palmeiras e Corinthians. Há mais de 10 anos sem trabalharem juntos, o caminho dos dois se cruza em um momento importante do Campeonato Brasileiro. Enquanto Felipão ainda busca sua primeira vitória no comando do Verdão, Adilson estreia no maior rival após a ida de Mano Menezes para a Seleção Brasileira.
A relação entre os dois é quase de pai para filho. No Grêmio supercampeão dos anos 90, o então zagueiro Adilson era capitão e homem de confiança de Felipão. Juntos, conquistaram Campeonato Gaúcho, Copa do Brasil, Brasileirão e Taça Libertadores. O Mundial não veio por pouco, após uma derrota nos pênaltis para o Ajax. Em 1997, quando o treinador foi para o Jubilo Iwata, do Japão, Adilson seguiu o mesmo caminho. Na metade do mesmo ano, Felipão iniciou sua primeira passagem pelo Palmeiras e "encerrou" a parceria de sucesso.
No período em que estiveram juntos, o atual corintiano tinha tanta moral que dava suas ordens dentro de campo. Às vezes, até contradizia Felipão. O atacante Paulo Nunes, que fazia parte daquele Grêmio vencedor, relembra uma história que retrata bem o comando que Adilson exercia.
- Certa vez, o Felipão queria que eu voltasse para marcar, ele gosta muito disso. Mas aí o Adilson me chamou num canto e disse que eu não precisava voltar, que ele garantia tudo na defesa. Descansado lá na frente, eu rendia melhor e fazia os gols. Os dois eram quase como pai e filho mesmo - reconheceu Paulo Nunes, em contato com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM.
Ambos têm o estilo xerifão, mas são considerados pessoas de enorme coração. Eles sabem trabalhar o lado psicológico dos jogadores como poucos, e possuem visão de jogo privilegiada. Além disso, os dois foram zagueiros. Mas, segundo Felipão, Adilson é uma versão mais tranquila dele próprio.
- O Adilson é bem mais light que eu, é gentleman e eu não sou. Temos semelhanças por termos jogado na mesma posição, amizade de família, meu filho se comunica com a filha dele. Tenho respeito como ex-capitão, mas também como pessoa. Provavelmente nos próximos 4, 5, 6 anos vai ter uma carreira espetacular em termos mundiais como ninguém imagina - elogiou o "pai" Felipão.
Light é uma palavra que não se encaixa na personalidade de Luiz Felipe Scolari. Ele se entrega ao trabalho e motiva ao máximo seus jogadores para conseguirem a vitória. Uma história marcante ocorreu em 2000, às vésperas de outro Palmeiras x Corinthians, pela Libertadores. Nos vestiários, o técnico palmeirense dizia para quem quisesse ouvir que era necessário dar pontapés no atacante Edilson, chamado de covarde por Felipão. Além disso, mandava os jogadores terem raiva da equipe alvinegra. Escaldado, Adilson diz conhecer o comportamento do mestre.
- Já conheço essas táticas (risos). É o jeito de trabalhar que ele tem, mas hoje está muito mais calmo - afirmou o técnico corintiano.
Amizade entre as famílias
Fora de campo, a raiva passa longe. As famílias de ambos têm contato até hoje, principalmente por meio dos filhos. Claro que a relação já foi muito mais próxima, mas o carinho que se mantém pode ser constatado nos discursos dos dois treinadores. Felipão sempre coloca Adilson como o melhor de seus pupilos. Já o corintiano costuma tratar o palmeirense como um mentor. Afinal, foi ele quem deu oportunidade a Adilson para iniciar a carreira de técnico.
- É um grande profissional, conhecedor de futebol, enxerga, mexe, esse é o segredo do sucesso. Em relação à pessoa, ótima convivencia como atleta. No Japão tinha um tempo maior de convivência, os familiares se encontravam, os filhos brincavam. Em 2000 e 2001 ainda tive um estágio com ele no Cruzeiro, me auxiliou no início de minha carreira como técnico - relembrou Adilson Batista.
Para Felipão, o caminho que o novo técnico do Corinthians está trilhando não é surpresa.
- Ele sempre foi uma liderança em campo, sempre foi a sequência, o braço direito do treinador em campo. Trabalhou em equipes grandes, no Japão, tem uma bagagem espetacular. Vai implementar a sequência do trabalho daquilo que era como jogador: craque. Está colocando em prática nos times que está dirigindo e com excelentes resultados - elogiou.
fonte: globo