Parreira lamenta atraso na estrutura para receber países da Copa. Comitê discorda, e cidades tentam fisgar visitantes
Por Alexandre Alliatti
Rio de Janeiro
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Uma feira. Compradores e vendedores. Procura e oferta. E uma Copa do Mundo no meio do processo. A edição de 2012 da Soccerex, no Rio de Janeiro, mostra como a proximidade do Mundial já mexe com a estrutura do futebol brasileiro. O pavilhão montado no Forte de Copacabana serve para colocar no mesmo ambiente duas peças que se complementam, de olho em 2014: as cidades, dispostas a seduzir os países que disputarão a Copa, e representantes das seleções, interessados em escolher a melhor alternativa para seus atletas. De pano de fundo, paira uma discussão sobre a real capacidade do Brasil para abrigar tantos visitantes.
Nesta segunda-feira, um workshop discutiu a questão. Carlos Alberto Parreira, tetracampeão mundial em 1994 como treinador e atualmente a serviço do governo de Minas Gerais na definição de seus CTs, foi bastante crítico com a atual estrutura. Ele percebe atraso no processo. E cita o próprio exemplo mineiro: bons campos, mas afastados de hotéis capazes de fornecer aquilo que ele considera o desejo das seleções: conforto, segurança e privacidade.
- Para agradar a um treinador, não precisa ter luxo, mas tem que ter conforto, com segurança, com privacidade, e o campo precisa ter excelência total. E o CT tem que estar pronto antes. Não adianta prometer que vai ficar pronto. A baliza já tem que estar com a rede. (…) Em algumas cidades, estamos muito atrasados. O Rio de Janeiro, por exemplo, tem quatro grandes clubes, mas nenhum deles com um CT indicado para a Copa. Estamos atrasados. Temos que acelerar – comentou o treinador.
Parreira esteve acompanhado por Beletti, ex-lateral-direito da seleção brasileira. Ele concordou com o técnico.
- Estamos atrasados. E não adianta querer seduzir com planos.
Beletti e Parreira observaram que o principal desafio consiste em fazer com que as seleções se sintam em casa na cidade que escolherem – seja um local mais afastado, seja um grande centro urbano. O ideal, segundo eles, é que os times treinem e se hospedem no mesmo espaço. O deslocamento também tem papel central nisso: quanto menor a viagem, maior o atrativo para a seleção na hora de escolher, alertam eles.
Alternativas
Uma primeira listagem já oferece 54 opções de CT para as seleções que virão para o Brasil na Copa. Para o Comitê Organizador Local da Copa, isso prova que não existe o atraso referido por Parreira. Restam duas janelas para o surgimento de novas alternativas, e com isso o número deve subir para mais de 70. Na Copa da África do Sul, em 2010, foram 55.
Muitas questões são levadas em consideração. Desde pontos aparentemente mais banais, como a qualidade do sinal de internet e a oferta de entretenimento no hotel, até a situação dos aeroportos, que precisam ser capazes de receber aeronaves com pelo menos 120 passageiros. Algumas pistas de pouso foram vetadas por causa da incapacidade da superfície de absorver o impacto de aviões grandes.
Já foram inspecionados 278 hotéis. Existem dois tipos diferentes de acomodações: aquelas escolhidas pelas seleções, onde elas ficarão a maior parte do tempo, e aquelas designadas pela Fifa para as vésperas e dias de partidas. As primeiras precisam ter um mínimo de três estrelas; as segundas, de quatro.
Assim que escolher seu CT, a seleção ficará ciente de que não deixará o local antes de 27 de junho, quando termina a fase de grupos. Caso se classifique, o país pode ficar no local também nas etapas de mata-mata ou ir para outra cidade.
A escolha das cidades ocorre por ordem de chegada. Quem decidir primeiro, leva. Boa parte das equipes, mesmo sem ter a certeza da classificação, já visitou o Brasil para conhecer alguns locais. Algumas, caso da Holanda, vieram ao país mais de uma vez. Outras ainda não deram as caras – caso da atual campeã, a Espanha.
Sedução
A feira serve para municípios candidatos a servir como CT, cidades-sede e estados venderem seu peixe. Há estandes dos três tipos, tentando mostrar a estrutura e os costumes dos locais. Pode funcionar. Como dirigentes de países que lutam por vaga na Copa estão no Rio de Janeiro para o Soccerex, a troca de informações acaba acontecendo.
- O contato fica muito forte aqui. As cidades ganham a chance de se mostrar mais um pouco – opinou Frederico Nantes, gerente geral de competições e serviços para as seleções do Comitê Organizador Local da Copa.
De acordo com Nantes, variam muito os desejos e temores das seleções. As europeias, acostumadas a viajar pelo continente, não apresentam grande preocupação com a distância, segundo ele. Mesmo assim, a maioria das equipes deve ficar em um ponto mais central do Brasil – especialmente São Paulo, o estado com mais CTs pré-selecionados.