Diretor do Fla apostou na dupla, viu esperança dar lugar aos problemas e diz ter ficado triste. Ele comunica desligamento do Imperador nesta terça
Por Janir Júnior
Rio de Janeiro
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Evangélico, Zinho não faz julgamentos nem coloca ninguém na cruz antes de dar uma chance ao ser humano. Foi assim com Ronaldinho Gaúcho. Da mesma forma com Adriano. Ele ouviu muitas histórias dos jogadores, mas decidiu tentar mudar o enredo. Mas não teve final feliz em ambos os casos. O diretor de futebol do Flamengo tem a consciência tranquila de que tentou, mas não conseguiu. Nos últimos dias, Zinho resumiu o sentimento em relação a mais uma decepção:
- Triste.
O diretor chegou ao Flamengo no início de maio. Sua primeira missão foi tentar domar Ronaldinho Gaúcho, que batera de frente com Vanderlei Luxemburgo. O técnico, que em 2011 chegou a encobrir algumas indisciplinas do jogador, passou a cobrar medidas mais enérgicas da diretoria em relação ao ex-camisa 10, mas acabou demitido.
Logo que chegou, o diretor deixou claro que contava com Ronaldinho Gaúcho, ex-companheiro dele no Grêmio. Os dois trocaram um carinhoso abraço na apresentação do dirigente ao grupo, mas Zinho precisou agir rápido. Confrontou o principal jogador do time duas vezes. Primeiro, ao constatar que o capitão não estava nas condições ideais para treinar, o diretor pediu que, em vez de ficar no vestiário, ele fosse a campo correr.
No dia seguinte, na frente de todos os atletas, o jogador foi confrontado com discurso duro de Zinho:
- Quando eu cheguei, você me deu um abraço e disse que estava comigo. Do jeito que você chegou hoje (quinta, dia 17 maio) e ontem (quarta, dia 16), não está nem com você mesmo. Isso é um desrespeito com todos os seus companheiros… Se for para ser assim, eu peço meu boné para a Patricia e vou embora.
No fim de maio, Ronaldinho Gaúcho não deu nem mesmo um telefonema para comunicar a Zinho que não viajaria para Teresina, onde a equipe disputaria um amistoso. Na ocasião, o dirigente soube pela imprensa que o jogador entrara na Justiça cobrando R$ 40 milhões do Flamengo, e não era mais funcionário do clube.
Um mês depois da saída do ex-camisa 10, Zinho admitiu sua decepção com o fim do caso:
- Eu dei carinho, eu chamei, motivei, eu tentei. De início, não consegui o meu grande objetivo no Flamengo, que era fazer com que o Ronaldinho voltasse a jogar o que todos nós sabemos que ele pode render. Estou triste, frustrado, eu não consegui isso. Que realmente a história dele no Flamengo não foi bonita, não foi. Eu tentei, mas infelizmente as atitudes dele não levaram para isso e culminou com esse problema financeiro.
Seguidas chances a Adriano
Depois do grande desgaste com Ronaldinho Gaúcho, Zinho bradou que "acabou a festa, acabou a bagunça". E apostou em Adriano. Mesmo com todas as notícias e antecedentes do atacante, o diretor repetia que acreditava na recuperação do jogador.
- Não coloco no mesmo grau porque o Ronaldinho já estava aqui quando cheguei. Tomamos conhecimento do que estava acontecendo e buscamos fazer um trabalho para recuperá-lo. Acho que em termos de nome, status, importância, é a mesma coisa. Da mesma maneira que foi feito com o Ronaldo, vamos fazer com o Adriano. Eu dou carinho, aposto nele, mas serei enérgico dentro de um respeito com o profissional, mas sempre cobrando aquilo que combinamos. Não vejo como um desafio, mas como uma responsabilidade para todos. O Adriano vai cumprir as mesmas regras de todos os jogadores. Não tem privilégio e nem cobrança excessiva. São as regras de um clube profissional. Terá as mesmas responsabilidades de outros atletas, de horários de treinos, de concentração - afirmou Zinho, quando o clube acertou com Adriano.
Aos poucos, porém, a esperança deu lugar à decepção. Nas primeiras faltas, o diretor tentou poupar o camisa 10, mas o desgaste foi inevitável. A cada falta, Zinho tinha que se expor para dar explicações. Mesmo com advertências por escrito para repetidas ausências, o dirigente seguia com sua aposta.
O golpe que fez Zinho deixar de acreditar aconteceu no fim do mês passado, quando Adriano não apareceu na atividade marcada para as 9h30m de sábado, na Gávea, e comunicou sua ausência através de SMS, com algumas das mensagens desconexas.
O dirigente, enfim, percebeu que a situação caminhava para uma trilha de mais problemas. Zinho exigiu que Adriano tivesse acompanhamento psicológico. O clube definiu a escolha de um profissional, chegou a marcar consulta, mas o atacante não apareceu. A paciência do diretor chegou ao fim, e o problema foi debatido com a presidente Patricia Amorim.
Diante de novo sumiço na semana passada, o clube decidiu, na última sexta-feira, desligar Adriano do clube. Nesta terça, Zinho concederá entrevista coletiva para se pronunciar sobre o assunto.
fonte: globo