segunda-feira, 1 de junho de 2009

No coração da torcida, Dorival é o craque do Vasco em 2009


Treinador fala do seu trabalho no comando do time, das dicas que costuma pegar com os seus filhos e dos seus hobbies fora de campo

Dorival Júnior conversa com os jogadores
A primeira missão da diretoria do Vasco após consumado o rebaixamento para a Segunda Divisão era escolher um líder para reconduzir a equipe à Série A do Campeonato Brasileiro. Antes do início da atual temporada, o nome preferido e de consenso geral da cúpula cruzmaltina era o de Dorival Júnior, dono de um trabalho bem sucedido no Coritiba. Agora, quase seis meses depois de sua contratação, o treinador é visto pela torcida como o principal reforço do time na temporada 2009. Para os vascaínos, o craque da equipe está no banco de reservas. Em um bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM no CT do Atlético-PR, em Curitiba, o treinador ainda fez uma revelação curiosa sobre a sua família. Os filhos Lucas, de 21 anos, e Bruno, de 17, costumam dar dicas de jogadores que possam ser úteis ao pai no decorrer de uma competição. Em 2009, o zagueiro Rafael Morisco foi contratado após inúmeras observações feitas pelo comandante cruzmaltino. Além disso, Dorival aproveitou para falar do que costuma fazer quando não está trabalhando e de alguns ícones da história mundial que admira. GLOBOESPORTE.COM: Normalmente os críticos dizem que alguns treinadores são supervalorizados. Porém, no seu caso, isso tem passado longe.


Como você vê essa manifestação positiva em relação ao seu trabalho no comando do Vasco?



DORIVAL JÚNIOR: Sinto que as pessoas começam a ver que talvez não seja só o trabalho do treinador. Alguma coisa está tentando ser mudada dentro do nosso clube. E é natural que quem esteja no comando de tudo isso tenha realmente um certo reconhecimento. Fico feliz pelo que eu tenho visto nesses cinco meses que nós estamos aqui. Profissionalmente, para mim, tem sido muito importante. Mas quando eu falo da minha pessoa, falo de toda uma equipe que vem por trás, que trabalha de uma maneira muita séria. Dentro de campo, o futebol do Vasco tem conseguido buscar aquela confiança do torcedor em razão da seriedade que o processo está sendo encarado. Estamos engatinhando nesse processo e ainda é muito pouco. O clube precisa de muito mais coisas, principalmente a equipe, que ainda precisa ser melhorada. Estamos em um momento em que o investimento é difícil de fazer. Estamos fazendo composições com o elenco dentro do que estamos observando, jogadores que estejam despontando, principalmente para que o Vasco possa tirar proveito disso no futuro. Não só conquistando títulos, mas com uma nova possibilidade para a entrada de recursos com a revelação de atletas e venda de cada um deles. O Vasco conta com Carlos Alberto, Léo Lima. Mas muitos torcedores têm dito nas ruas que o verdadeiro craque do Vasco é você? O que pensa sobre isso?


Não vejo assim. Quem realmente faz com que uma equipe se torne forte são os atletas. Claro que você precisa dar o comando, tem que estar atento aos detalhes, tentar fazer o melhor possível, mas quem define as situações são os atletas dentro de campo. Eu jamais vou chamar para mim a responsabilidade ou o sucesso de um trabalho. Sinto em determinados momentos esse reconhecimento, não vou me abster de mostrar uma situação que esteja acontecendo. Mas o principal é que os atletas estejam aparecendo. Somos apenas um detalhe, um complemento, para uma engrenagem. A disposição dos atletas, a maneira como temos ido para o campo, cada um deles se ajudando, isso sim tem sido um ponto principal. Fico feliz que nós estejamos tendo isso em tão pouco tempo de trabalho. Você é um treinador que brinca quando deve brincar, mas que cobra com firmeza quando vê algo errado. Em quem você se espelhou para ter esse estilo?


Tive muitos treinadores e você busca tirar de cada um alguma coisa. O que eu tentei colocar na minha maneira de ser foi a forma como eu via as coisas quando eu era um atleta. Eu procurava observar um ou outro treinador, a postura, a maneira de conduzir um trabalho ou outro. Mas ao mesmo tempo eu imaginava aquilo que eu poderia fazer para uma correção, para melhorar ou manter aquilo que ele vinha fazendo porque na minha visão aquilo me satisfazia ou ao elenco. Eu prestava muita atenção nesses detalhes. A partir daí, eu fui moldando a minha forma de ser. Nem sempre você vai ter grandes jogadores reunidos no mesmo elenco. Então você vai precisar fazer o contrário. Você precisa tentar extrair o máximo dos jogadores. Aí sim você vai ter um elenco forte. Dificilmente você consegue montar um elenco apenas com grandes jogadores. Por isso dou liberdades para eles colocaram suas opiniões. Elas são discutidas e trabalhadas, mas a decisão final sempre parte desse comando. Foi aí que eu procurei me moldar. Logicamente que você vai me ver uma hora brincando com o atleta, mas mantendo uma certa distância porque o comando é fundamental. Normalmente, o volante é um jogador mais aguerrido, que grita com o grupo dentro de campo. Você trouxe esse estilo dos gramados para o banco de reservas?



Sempre fui um jogador mais técnico, nunca tive uma pegada muito forte. Eu tinha que compensar o futebol que naquele momento vivia uma transição. A gente começava a ter aqueles volantes de pegada e marcação e eu tive que me adaptar rapidamente. Procurei aprimorar o meu passe, o lançamento, a minha batida em gol porque isso seria a minha sobrevida na profissão. Eu sempre fui um cara equilibrado em campo e isso me ajudou muito. Eu nunca fui um cara de muita guerra dentro de campo porque o meu estilo era diferente, mas nunca deixei de lutar por aquilo que eu objetivava. E queira ou não, um atleta profissional dentro do Brasil, passar por cinco, seis clubes grandes do futebol brasileiro, já é uma conquista. E graças a Deus eu passei jogando, não passei por passar.

Como é o Dorival fora de campo?


Sou bem tranqüilo, mas como treinador você fica afastado da família, vive uma vida solitária. Mas isso é normal porque é um ponto que você não tem como conciliar. Lá no Rio, você tem o mar ali do lado e eu gosto de caminhar na areia, brincar ali um pouco. E gosto da leitura, televisão, naturalmente acompanhando os jogos da Série A, B, C, D, E e o que tiver. O que tiver a gente gosta. E isso é fundamental hoje em dia, não?
É o que vai te abastecer. De repente, você vai precisar de um goleiro e não tem dinheiro para contratar o melhor do Brasil. Você vai precisar buscar o que o seu clube tem condição de trazer. Então eu tenho que saber se um goleiro da Série A ou B está disponível ou um da Série C ou D está despontando. Isso é importante e tem dado certo. A montagem do nosso time sempre é em cima de jogadores que estão despontando. Fico contente que alguns deles estão brilhando no futebol brasileiro. Independentemente de conquistar um título, para você internamente, isso te dá uma satisfação muito grande. Os seus filhos também acompanham os jogos e costumam te dar dicas? Isso é verdade?



É verdade. Tem até uma curiosidade. O Ivan (Izzo, atual auxiliar de Dorival), quando veio para o Figueirense, foi uma indicação minha para o Muricy (Ramalho, atual técnico do São Paulo). O Ivan foi contratado porque o meu filho me lembrou que ele estava sem clube. Falei com o Muricy e ele acabou acertando. Os meus filhos ficam atentos mesmo. O Rafael Morisco foi uma indicação deles. Eles pediram para eu observar, fiquei olhando um pouco mais, pedi uma fita, mandei pessoas olharem, tirei informações na cidade com ex-jogadores. Consegui todas as informações possíveis e o atleta acabou contratado.


Eles continuaram assistindo aos outros jogos e já estão me falando de outros jogadores. No futebol, você precisa mesmo ter uma cadeia porque não tem condição de ver todos os jogos. Você precisa ter conhecimento de amigos e pessoas ligadas que se interessem por essa área. Você disse que costuma ler nos momentos de folga. O que você indica?
A “Cabana” é um livro interessante. Você também gosta de assistir televisão. Você poderia falar de um ator e uma atriz que tem admiração?


Gosto do Lima Duarte, mas existem outros atores mais jovens e muitos bons que não tem tanto sucesso como o Lima. A Fernanda Montenegro representa aquilo que de melhor nós temos no Brasil. Um filme que você leva para a sua vida como exemplo?


O Gladiador é um filme importante nesse sentindo. Já aproveitamos esse material para mostrarmos aos jogadores em uma ocasião. Pessoas que marcaram a sua vida de alguma maneira? Ídolos?


No Brasil, o Chico Xavier. Fora do Brasil, Gandhi. No lado feminino, no Brasil, a Zilda Arns, que faz um trabalho belíssimo. Fora do Brasil, a Madre Teresa de Calcutá. Essa mulher foi um exemplo de vida para todos nós. Um lugar para morar?


Florianópolis (risos).


fonte: globo