Presidente do Fluminense comenta as declarações de Emerson, critica a conduta extracampo e diz que clube o ajudou com problemas particulares
Emerson deixou o Fluminense pela porta dos fundos. Nesta segunda-feira, o atacante falou pela primeira vez sobre a situação e criticou duramente a diretoria tricolor. Se dizendo injustiçado com o afastamento, o atacante assumiu que cantou um hit em alusão ao Flamengo no ônibus do Tricolor, garantiu que Souza está sendo preterido por ser seu amigo, e, mesmo sem citar o nome, deu a entender que Fred tem influência nas decisões do técnico Enderson Moreira. Com a rescisão amigável, o Tricolor deixou de pagar a parte do salário que lhe era de direito, cerca de R$ 60 mil, e o próprio Sheik confirma que abriu mão de uma grande quantia na negociação - estima-se que R$ 5 milhões.
As declarações não repercutiram nada bem nas Laranjeiras. Tanto é que o presidente Peter Siemsen fez questão de responder duramente ao seu ex-atacante. Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM na tarde desta segunda, em um café na Zona Sul do Rio de Janeiro, o mandatário tricolor defendeu a instituição e os seus torcedores de atitudes que ele define como inaceitáveis. Para Peter, Sheik mostrou ingratidão a pessoas que o ajudaram a resolver vários problemas particulares recentemente.
- O que ele fez foi inaceitável. Ter sido autor do gol título não o exime de responsabilidades perante os companheiros, à instituição e, principalmente, à nossa torcida. Cansamos de resolver problemas particulares do Emerson. E todos eles bem complicados. Fizemos tudo isso e ele responde ao Fluminense dessa maneira? Não aceito desrespeito aos torcedores e ao clube. Não só do Emerson, como também de qualquer outro funcionário - disse.
Recentemente, Emerson se envolveu em diversos atos de indisciplina que resultaram em seu afastamento do elenco tricolor. Casos como não ter ido ao consulado mexicano tirar o visto necessário para enfrentar o América-MEX, duas faltas a treinos, prejuízos financeiros ao clube ao danificar objetos em seu quarto no Uruguai com uma arma de ar comprimido e, a gota d'água aos olhos da diretoria, cantar uma música de exaltação ao Flamengo. Em mais de uma hora de conversa, Peter criticou as atitudes do Sheik, disse que se orgulha de ver o elenco mais unido após a saída do jogador, defendeu Fred e Enderson Moreira das acusações e diminuiu a importância do jogador na conquista do Campeonato Brasileiro.
- Ficamos felizes com o gol, mas isso não faz dele herói de nada. Heróis são todos os que se dedicaram e brigaram pelo título. E se entre os jogadores tivéssemos que eleger um principal, este seria o Conca, que disputou as 38 partidas e sempre trabalhou com muita disposição pelo Fluminense - opinou.
Confira a entrevista completa do presidente tricolor:
O que você achou das declarações?
Lamento a parte em que ele expõe outros atletas sem citar nomes. Cria uma situação de desconfortável, porque acaba envolvendo todo o grupo. Emerson fala o que o Fluminense quer e não quer. Isso quem sabe é a diretoria. Ele está amargurado e se manifestou em uma hora em que a emoção falou mais alto do que a razão. Ele mexeu com a paixão de nosso torcedor, e isso nós nunca vamos aceitar.
Como foi o comunicado ao Emerson de que ele estava dispensado?
Foi uma conversa simples, no quarto do hotel onde estávamos hospedados na Argentina. Estávamos eu, o Mário Bittencourt (assessor da presidência no futebol) e nosso supervisor. Falamos de tudo o que estava acontecendo nesse período. Ao contrário do que ele disse, fui muito educado. Comentei o fato de ele ter cantado a música em alto e bom som, mas ele não foi mandando embora só por causa disso. Foi uma série de indisciplinas. Na minha opinião, esse último episódio foi o mais grave e ainda perto de um jogo importante para o clube, em um momento em que o foco era apenas o Fluminense.
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E a reação dos outros jogadores ao afastamento?
É só ver como eles estão jogando. Depois disso tudo, fiquei muito feliz de ver um time aguerrido e lutador em campo, brigando pela bola a cada minuto. Alcançamos uma vitória histórica sobre o Argentinos Juniors que nos orgulhou demais. Nossa exibição pôs por terra a insinuação de que o time não queria jogar em protesto à dispensa do Emerson. Hoje acompanho muito o elenco. Posso garantir que ele é unido e focado no resultado. Estamos trabalhando muito por isso. Quem destoava nesse meio era apenas o Emerson.
Você diz que sente orgulho desse grupo que está passando a conhecer mais. Desses, o Sheik foi sua grande decepção?
Não digo decepção. Foi uma situação que ocorreu e tivemos de tomar uma atitude. O Fluminense tem uma força muito grande. Esse elenco é comprometido e, ao contrário do que o Emerson disse, muito unido. Está brigando pelo Fluminense e garantindo que os torcedores tenham orgulho de que esses jogadores representem a nação tricolor. O Emerson estava destoando. Ele não acompanhou a nossa filosofia e tipo de trabalho.
Segundo ele, o único lado bom do Fluminense é o patrocinador...
A tentativa de nos colocar contra o patrocinador foi em vão. Respeitamos e trabalhamos muito para que essa parceria continue forte e possa trazer resultados ainda melhores para o Fluminense. Se tem alguém que sabe reconhecer o valor dessa parceira é o nosso torcedor.
Emerson se diz o grande herói do título brasileiro de 2010 por ter feito o gol do título contra o Guarani. Você concorda?
Se alguém o fez ser conhecido no Brasil e no mundo foi o Fluminense, que o trouxe novamente ao seu país natal e permitiu que ele entrasse para a história como autor do gol do título brasileiro. Ficamos felizes com a conquista, mas esse gol não faz dele herói de nada. Heróis são todos que se dedicaram e brigaram pelo título. E se entre os jogadores tivéssemos que eleger um principal, este seria o Conca, que sempre trabalhou com muita disposição pelo Fluminense. Não é à toa que ele é bicampeão do voto popular como melhor jogador do Brasil. Por isso tenho orgulho de ter participado da homenagem a ele em Tigre, na Argentina. Conca nunca nos criou problema algum e, por mim, nunca sairá das Laranjeiras. Ele simboliza tudo o que queremos, sempre comprometido com o trabalho e o resultado.
Ele disse que Souza está sendo afastado por ser seu amigo. É verdade?
Souza não está em foco nesse momento. Ele faz parte de nosso elenco e espero que ainda traga muitas alegrias ao torcedor.
grupo no jogo contra o Libertad-PAR, nesta quarta
(Foto: Edgard Sá / GLOBOESPORTE.COM)
Você considera que o Enderson Moreira tem o comando do grupo?
Enderson é uma pessoa que tenho aprendido a admirar a cada dia. Ele aceitou um grande desafio e está se saindo muito bem. A maneira como vem conduzindo o Fluminense, com foco e trabalho técnico, científico e humano, é muito boa. Certamente ele será um dos melhores técnicos do Brasil no futuro. Não tenho dúvidas de que Enderson tem o comando do grupo nas mãos. É só olhar para o campo e ver o quanto o elenco está correndo e evoluindo a cada jogo.
Como vê a insinuação de que Fred tem influência nas decisões do treinador?
Não vejo isso. Fred é uma pessoa que passei a ter mais proximidade recentemente. É um exemplo de profissional pelo que se dedica não apenas em campo, mas também pelo clube. Ele o defende o tempo todo como nós. Isso tem me impressionado muito.
E a questão de que ele diz que outros jogadores também cantaram a música do Flamengo? Ele diz que pagou o pato sozinho...
Não está pagando pato nenhum. Ele foi afastado pelo conjunto da obra e por não se adequar aos padrões de trabalho do Fluminense. Erros todos cometem. Mas sempre que tinha um problema Emerson estava no meio.
Essas declarações às vésperas de um jogo decisivo podem atrapalhar o grupo?
Pelo que eu conheço do grupo, as palavras do Emerson não vão atrapalhar em nada. A torcida abraça esse grupo sempre. Foi apenas uma maneira triste de encerrar a passagem pelas Laranjeiras.
Que lição você tira de mais esse problema fora das quatro linhas?
Nossa atitude nesse episódio representou exatamente o que é nossa gestão. A única coisa que não vamos aceitar é desrespeito ao torcedor e à instituição. Cantar o hino ou uma música de exaltação a um rival é inaceitável. O sócio não pode entrar no clube com camisa de outro time. Logo, a regra precisa ser aplicada também aos atletas. O Fluminense deu várias oportunidades a ele, trabalhou muito para ajudá-lo, e o Emerson não agarrou essa chance. Ele não cumpriu com suas obrigações profissionais. É preciso respeitar o profissionalismo, os valores éticos, a torcida, as regras do clube, os companheiros de trabalho. Mas não é esse episódio ou nenhum outro que vai mudar ou afetar o planejamento e os objetivos estabelecidos pela atual gestão. Ele se mantém independentemente das pessoas e dos resultados.
fonte: globo