Ex-goleiros de Atlético-MG e Cruzeiro esbanjam bom humor ao relembrar ótimas histórias da época em que protagonizavam o maior clássico de Minas
Atlético-MG x Cruzeiro é sempre um jogo especial. E se tem pessoas que entendem bem isso são os eternos ídolos Raul e João Leite. Às vésperas de mais um confronto entre Galo e Raposa, os maiores goleiros da história desses clubes esperam uma bela partida no próximo sábado, às 17h (de Brasília), em Sete Lagoas. E ambos tem o mesmo palpite para o clássico: 2 a 0. Mas, claro, cada um acredita na vitória do clube que defendeu - Raul vestiu a camisa celeste, e João, a atleticana (assista no vídeo ao lado a trechos da participação dos ex-jogadores no programa "Na Rede").
No sábado, as duas equipes farão o primeiro clássico mineiro da temporada 2011. Já no clima do jogo, João Leite e Raul falaram da expectativa para o jogão, e o ex-camisa 1 alvinegro, apesar de acreditar na vitória, mostrou-se temeroso por conta de alguns desfalques.
- Clássico nunca tem favorito, e esse jogo é de difícil prognóstico. O Atlético se preparou com boas contratações, ficou com perfil de um time muito rápido. Mas acho que tem algumas questões que deixam a equipe sem aquela grande chance. Perdeu jogadores importantes como o Richarlyson, tem a dúvida do Réver, que está jogando muito bem. O Galo acabou perdendo alguma força - disse João.
Raul também preferiu enaltecer a imprevisibilidade do confronto, mas pareceu estar mais confiante na vitória da Raposa, principalmente pela base que a equipe mantém há alguns anos.
- O Cruzeiro chega muito bem preparado. Não fez contratações em grande número, mas é um time que está muito bem centrado. É muito difícil você falar que o melhor momento é do Cruzeiro ou não. Chega lá dentro, um apito, uma expulsão, uma falta mal marcada, um pênalti, tudo isso muda completamente a história do jogo. Não dá para supor nada - afirmou Raul.
Se cada um confia na vitória do seu time, os dois concordam quando o assunto é a falta que Mineirão faz. Integrantes de momentos históricos do futebol mineiro, João Leite e Raul lamentam o espetáculo sem seu palco principal.
- É uma pena não ser jogado no Mineirão, por causa da história. Por outro lado, teremos a torcida mais próxima, uma pressão muito grande - disse o ex-goleiro atleticano.
- Descaracteriza um pouco o clássico. Claro que quando o árbitro apita, o negócio vira de novo Atlético e Cruzeiro. Pode ser no meio da rua que o pau vai cantar - completou o goleiro da camisa amarela.
Clássicos inesquecíveis
Os dois goleiros deram uma aula de bom humor durante o 'Na Rede'. Mas quando o assunto foi o palpite para o jogo, muita seriedade. Cada um cravou 2 a 0 para seu time (Foto: Tarcísio Badaró/Globoesporte.com)
O clássico mineiro marcou tanto esses dois goleiros que o jogo da carreira de João Leite e Raul foi exatamente um Atlético-MG x Cruzeiro. João Leite é o jogador que mais atuou com a camisa alvinegra, com 684 partidas. Sua estreia pelo Galo foi em um clássico, e deste jogo ele não se esquece.
- Era o Campeonato Brasileiro de 1977, e nosso time vinha muito bem. Tínhamos uma grande equipe, e chegou a semana do clássico. Sexta-feira pela manhã eu subi com a minha bíblia para a concentração, encostei em uma caixa d’agua e comecei a ler. Caiu numa carta do Apóstolo Paulo que dizia que a volta de Jesus era para aquele momento. Eu não me esqueço da oração que fiz depois de ler isso. Eu falei "Jesus, deixa eu jogar contra o Cruzeiro primeiro. Volta na segunda-feira" - contou, entre risadas.
Com a permissão divina, a preocupação do goleiro estreante passou a ser outra: as cobranças de falta do lateral Nelinho.
- Eu avisei ao pessoal: sete na barreira que eu quero colocar dois sobrando. Foi um jogo inesquecível, e nós ainda vencemos. Eu saí feliz e entusiasmado, e aquilo marcou a minha vida.
Coincidentemente, o jogo inesquecível de Raul também foi sua estreia, e novamente num clássico. O jogo que deu início a uma questão quase mítica na Toca da Raposa, a famosa camisa amarela.
Raul autografa a réplica da famosa camisa amarela (Foto: Tarcísio Badaró/Globoesporte.com)
- Naquela época não existia fabrica de material esportivo. Os clubes mandavam fazer as camisas, e você jogava quatro, cinco anos com a mesma. Eu peguei emprestada a camisa do Neco, fiz o número de esparadrapo. Era um moletom amarelo. Foi um zero a zero, e é estranho você contar hoje que uma camisa amarela causou isso tudo. Mas na época era assim. Até o Roberto Mauro perdeu um pênalti. Chutou para fora. Terminou o jogo, a imprensa toda ali, e eu pensei "Acho que fui bem". Mas nem fui, foi um jogo sem grandes defesas. Mas acabei virando manchete.
Com bom humor e mostrando a harmonia que deveria sempre existir entre cruzeirenses e atleticanos quando o papo acontece fora das quatro linhas, João Leite correu em defesa do colega de profissão e retificou.
- Ele é humilde mesmo. Eu lembro desse jogo, e o Roberto Mauro não errou o pênalti. Ele bateu muito bem, no canto esquerdo baixo, e o Raul pegou.
fonte: globo