Avaliado em R$ 112 milhões, zagueiro do Benfica planeja construir história na seleção brasileira após Mundial da África do Sul
virou mania em jogos no Estádio da Luz (Foto: AFP)
Se andar por Diadema (SP), onde nasceu, ou Juiz de Fora (MG), onde moram seus pais, David Luiz provavelmente passará despercebido. Mas basta uma ida a uma praia portuguesa ou a algum shopping de Lisboa que certamente será cercado por fãs. O zagueiro de 23 anos é assim: astro do Benfica, maior clube de Portugal, mas ainda buscando reconhecimento em seu próprio país, de onde saiu há quatro anos, pouco depois de se profissionalizar no Vitória.
Durante os treinos de preparação da seleção de portuguesa para a Copa do Mundo, torcedores e jornalistas questionam o motivo de David Luiz não estar no grupo de Dunga. Até mesmo o técnico dos lusos, Carlos Queiroz, já admitiu que não há em Portugal um zagueiro do nível do brasileiro. Mas o jogador prefere manter a tranquilidade e se preparar para iniciar, após o Mundial da África do Sul, a sua carreira na equipe brasileira.
Se o Brasil ainda não descobriu David Luiz, a Europa, sim. No Estádio da Luz, é comum ver torcedores do Benfica usando uma peruca que imita os fartos cabelos cacheados do jogador. O zagueiro é nome constante na lista de possíveis transferências da próxima temporada. A mais recente notícia é o interesse do Real Madrid, embora o clube português tenha avisado que não aceita negociá-lo por menos de € 50 milhões (R$ 112 milhões). Sobre este assunto ele não quis e nem está autorizado a falar, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
- Há muito tempo o Benfica não tinha um jogador com tanta vibração. Nas vitórias mais importantes, ele é o último a sair de campo, pois dá voltas no gramado comemorando com a torcida. Claro que, por ser novo, ainda precisa amadurecer em alguns aspectos, como a vontade de ajudar o ataque, muitas vezes de forma precipitada. No entanto, é o melhor zagueiro brasileiro e está entre os melhores da Europa - garante o repórter português Luís Pena Viegas, do jornal “O Jogo”.
GLOBOESPORTE.COM – Portugal inteiro fala sobre o seu desempenho na última temporada. Concorda com todo este entusiasmo em torno da sua figura?
David Luiz – Realmente tive um ano muito positivo e tudo correu da melhor maneira possível. Fiquei feliz, mas entendo que isso acontece porque estou numa grande equipe e porque o Benfica foi campeão. Se não tivéssemos conquistado o título, ninguém falaria tanto.
Você chega a ficar decepcionado pelo fato de poucos brasileiros o conhecerem?
possível alvo do Real Madrid (Foto: AFP)
Saí muito cedo do Brasil, então acho normal. Eu mesmo já me surpreendi ao conhecer brasileiros que apareceram somente aos 30 anos porque foram para a Europa cedo. Além disso, nem todo mundo tem acesso às notícias do futebol internacional. Sei que não sou muito conhecido no meu país, mas felizmente tenho reconhecimento em Portugal e na Europa.
Acredita que poderia pelo menos ter sido chamado por Dunga algumas vezes ou, quem sabe, estar entre os convocados para a Copa do Mundo?
Sei respeitar o meu momento e dos outros jogadores. A seleção conta com bons nomes, que já vinham sendo convocados há algum tempo. Lógico que tenho o sonho de chegar à seleção. Afinal, quem não tem essa ambição não pode atingir o sucesso. Mas as coisas são melhores quando acontecem naturalmente.
Então, pode-se dizer que disputar a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, será seu grande objetivo quando o Mundial da África do Sul terminar?
Vou correr atrás disso, mas com a maior tranquilidade do mundo. O momento certo será esse. Tenho essa vontade de construir uma carreira na seleção, mas quando for, quero ficar de vez. Aqueles que ficam obcecados não aproveitam a chance quando ela aparece.
Você chegou a Portugal com 19 anos, após começar no São Paulo e se mudar para Salvador ainda adolescente para defender o Vitória. Até que ponto isso o ajudou a se firmar na Europa?
Saí de casa aos 14 anos, quando fui para o Vitória, e isso me ajudou muito. Amadurei e criei uma estrutura emocional longe da minha família. Por isso, mesmo tendo chegado ao Benfica ainda muito novo, foi mais fácil jogar em grandes palcos. O clube mobilizou sua estrutura para me dar conforto, recebi ajuda de outros brasileiros... Então a adaptação foi tranquila.
Nestes quatro anos de Europa, em que aspectos você acredita ter melhorado?
Sempre fui uma pessoa muito disposta e com vontade de aprender. Sabia que teria de me adaptar a um estilo de jogo mais rápido e felizmente consegui. Além disso, ganhei dez quilos de massa muscular. Hoje estou mais forte.
Como é conviver com o quase anonimato no Brasil e a fama em Portugal? No Estádio da Luz é comum ver torcedores usando perucas que imitam o seu cabelo...
(Risos) Pois é, e olha que não foi nada planejado, simplesmente fui deixando crescer até ficar assim. Sei até que crianças estão deixando o cabelo grande por causa de mim, e fico feliz. Realmente é complicado ir à praia, ao shopping ou a restaurantes, coisas que gosto de fazer nos meus momentos de folga em Lisboa, porque o assédio é maior. Mas tudo isso é por causa da paixão dos torcedores pelo Benfica, algo como eu nunca vi. Não tinha noção disso quando cheguei a Portugal. De qualquer maneira, encaro isso com tranquilidade. Os meus momentos de folga no Brasil são bem mais calmos.
Esse carinho não lhe faz pensar em defender a seleção de Portugal, como Deco, Pepe e Liedson?
Não acredito que possa, pois já disputei um torneio da Fifa pela seleção brasileira sub-20. Mas mesmo se pudesse, não jogaria por Portugal. Meu sonho é defender Brasil.
fonte: globo