Camisa 10 tem discurso diferente dos de Felipão e Parreira e admite frustração no Mundial. Jogador ainda revela torcida por Messi e reclama de comentários de agente
Por Alexandre Lozetti
Teresópolis
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Neymar não esteve em campo no vexame da seleção brasileira diante da Alemanha. Mesmo assim, antes que presidente e vice da CBF se manifestassem, ele foi escolhido para dar entrevista e protagonizar o momento mais sincero após a derrota por 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo. Talvez, o mais sincero de toda a preparação, desde o fim de maio. E mais corajoso (veja as reações de Neymar na coletiva no vídeo ao lado).
O atacante, que se reintegrou ao grupo mesmo se recuperando de fratura na vértebra, tocou em algumas feridas até então superprotegidas por comissão técnica e jogadores. Admitiu que em nenhum momento do torneio a equipe apresentou um futebol digno de seleção brasileira – foram três vitórias, dois empates e uma derrota por 7 a 1 – e que a goleada imposta pela Alemanha faz todos se sentirem humilhados e envergonhados.
SAIBA MAIS
Até então, Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira haviam preferido enaltecer o trabalho realizado e culpar uma “pane de seis minutos” no Mineirão. O que eles chamaram de “acidente” Neymar chamou de “fracasso”.
- Tivemos a oportunidade de marcar o nosso nome na história de forma positiva. E falhamos, erramos, deixamos a desejar. Sabemos que não fizemos uma campanha boa, não demonstramos nosso melhor futebol, um futebol de seleção brasileira, superior, que encanta a todos. Demonstramos um futebol regular, por isso que chegamos na semifinal (...). Fomos fracassados sim. Perdemos, mas faz parte do futebol perder ou ganhar. Não queríamos perder dessa forma.
Não faltou coragem também para dizer aquilo que pode soar ofensivo a quem sustenta a rivalidade com a Argentina. Neymar vai torcer para que os “hermanos” comemorem o tricampeonato mundial no Maracanã. E quem não pode torcer por colegas? Ele quer ver Mascherano e Messi, seus companheiros de Barcelona, felizes. Quer ver seu ídolo Messi campeão do mundo, o que colocará o argentino num estágio inalcançável até para ele, Neymar, pelo menos por mais quatro longos anos.
Sinceridade marcou a entrevista de Neymar (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)
O craque soube separar bem as coisas. Chorou ao se lembrar que, por uma questão de centímetros nas costas, poderia ter tido a carreira comprometida. Disse que poderia estar numa cadeira de rodas devido a um lance que, fez questão de frisar, ele não aceita. Mas contou, logo em seguida, que no dia seguinte, enquanto milhares de brasileiros xingavam e ameaçavam o colombiano Zúñiga e sua família nas redes sociais, ele e o algoz conversaram por telefone.
- Ele me falou um bocado de coisas legais - revelou Neymar, que ouviu um pedido de desculpas e aceitou.
Neymar chorou ao falar da lesão sofrida na Copa (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)
E quando foi possível ouvir um jogador dizer que xingaria o empresário que cuida de sua carreira desde a infância? Neymar disse. Wagner Ribeirochamou Felipão de babaca, arrogante, asqueroso, prepotente e ridículo.
- Não concordo e não aceito. Se eu o encontrasse, iria xingá-lo - rebateu o atacante.
Novamente, Neymar separou o joio do trigo. Defendeu Felipão dos palavrões do agente e condenou o hábito brasileiro de exigir mudanças a cada derrota. Mas, em nenhum momento, fez uma defesa cega do trabalho do comandante ou da comissão.
Por inúmeras vezes, o atacante falou em “voltar a ser feliz” e se derreteu pelos companheiros. Não segurou o sorriso ao saber que o filho de um repórter era seu fã. Há quem considere fruto de treinamento de mídia. Sim, Neymar foi bem treinado para apresentar, tanto quanto futebol, uma imagem irrepreensível. Mas é difícil questionar sua espontaneidade. E impossível negar que coube a um jovem de 22 anos dar explicações sobre um “fracasso” ou “acidente” do qual ele não fez parte.
Neymar concedeu entrevista coletiva na Granja Comary na quinta-feira (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)FONTE: GLOBO