Na mira de gigantes europeus, costarriquenho que sonhava ser goleiro desde os cinco anos brilha na Copa do Brasil após temporada inesquecível na Espanha
Antes de a Copa do Mundo começar, Keylor Antonio Navas Gamboa era, talvez, o nome mais conhecido (ou menos desconhecido) de uma seleção que, diziam os especialistas, veio ao Brasil para ser o saco de pancadas do "grupo da morte". O goleiro, de 27 anos, defende o Levante e foi escolhido o melhor de sua posição no último Campeonato Espanhol, tendo como rivais craques como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e Falcão Garcia. A expectativa era de que Navas segurasse as pontas e ajudasse a Costa Rica a não fazer feio no Mundial. Só que ele foi além.
Reflexos, elasticidade e, no último domingo, um voo perfeito no canto direito para evitar o gol na cobrança de pênalti de Theofanis Gekas e encaminhar a inesperada e inédita vaga da seleção às quartas de final da Copa. Nas quatro partidas da Costa Rica até agora, Navas foi o melhor em campo duas vezes. Mesmo quando não foi o destaque do jogo, destacou-se quando exigido. Na vitória por 3 a 1 sobre o Uruguai, por exemplo, fez ao menos duas defesas fundamentais.
Navas agarra o pênalti cobrado por Gekas e garante a classificação da Costa Rica às oitavas de final (Foto: Reuters)
Brilhar debaixo do travessão é algo com o que Navas sonha desde os cinco anos, quando uma defesa feita durante um jogo de várzea em San Isidro, sua cidade natal, encantou-o. O detalhe é que o goleiro que o impressionou tinha 12 anos.
- Isso do futebol começou por meu pai, quando ele me levou para ver um jogo em um bairro de San Isidro. Essa imagem (defesa) me marcou pela vida, e eu me propus a ser como ele (goleiro de 12 anos). Nunca esquecerei aquilo - disse, em depoimento a seu site oficial.
NOS PASSOS DE UM ÍDOLO MUNDIAL
Navas começou a jogar em uma escolinha de futebol de San Isidro e, aos 14 anos, foi para as categorias de base do Saprissa, clube mais popular da Costa Rica e onde iniciou a carreira, em 2005. No mesmo ano, fez parte do elenco campeão da Liga dos Campeões da Concacaf e que ficou em terceiro no Mundial de Clubes, caindo para o Liverpool, da Inglaterra, na semifinal.
SAIBA MAIS
Foram 91 jogos pelo Saprissa e seis títulos nacionais que culminaram nas primeiras chances na seleção, para a qual é chamado desde 2008. O desempenho "em casa" também impressionou ao Albacete, da Espanha. E aí, vale a lembrança: Luís Conejo, melhor goleiro da Copa do Mundo de 1990 e ídolo da Costa Rica, iniciou sua carreira europeia no mesmo clube.
Navas, inclusive, não esconde a admiração que tem pelo ex-camisa 1 dos Ticos, com quem já esteve nas seleções de base e ainda trabalha - Conejo é preparador de goleiros da Costa Rica.
- Conheço ele (Conejo) há muitos anos (12) e é parte importante do que sou no futebol. Ajudou muito em vários aspectos da minha carreira. É um cara tranquilo, que ajuda muito nos treinos e dá muita confiança a todos nós - contou, em recente entrevista coletiva na Vila Belmiro.
APEGO A DEUS E BRILHO NA EUROPA
Ao contrário de Conejo, o começo de Navas na Europa foi difícil, já que foi incapaz de evitar o rebaixamento do Albacete à terceira divisão espanhola. Mesmo assim, acabou emprestado ao Levante, atuando apenas no último jogo da temporada 2011/12. O suficiente para convencer o clube de Valencia a contratá-lo. Ainda assim, passou mais um ano como reserva. A religião foi fundamental para Navas no período. Não há uma entrevista em que ele - que colabora com um projeto social e realiza ações com o Evangélico FC, time da ONG que ajuda - não fale de Deus.
- O primeiro ano (na Espanha) foi muito duro, como suplente, mas consegui superar momentos difíceis. Vêm muitas coisas na cabeça, mas creio muito em Deus. Quando eu sabia que não iria jogar, me desmotivava, mas Deus estava comigo, não abaixei os braços para não prejudicar nem a mim, nem à minha família. Queria estar bem, então eu treinava com otimismo e isso me deu segurança para quando a oportunidade chegasse - disse, também em seu site oficial.
Navas é encoberto pelos jogadores da Costa Rica após a vitória na disputa de pênaltis contra a Grécia (Foto: AP)
Ela chegou. E Navas aproveitou. O costarriquenho foi o melhor goleiro da última temporada, superando Victor Valdés (Barcelona) e Thibaut Courtois (Atlético de Madri), com 160 defesas em 38 jogos. Era questão de tempo para os jornais europeus colocarem o goleiro na mira de vários clubes. Os próprios Barça e Atletico, além do Real Madrid, foram citados como interessados no camisa 13 do Levante. Nas semanas que antecederam à Copa, Benfica e Porto também entraram nessa disputa, conforme a mídia portuguesa. Na Inglaterra, o "The Independent" crava que o Arsenal está de olho no "tico" - que afirmou estar alheio às especulações.
- Há coisas mais importantes no momento, como a honra de um país, fazer história pela Costa Rica. Estamos no Mundial, é um sonho para nós. Eu estou tranquilo, graças a Deus com saúde, focado na seleção. Tenho de me centrar no Mundial, em nada mais. Agora, isso é o mais importante - garantiu.
Navas tem contrato com o Levante até junho do ano que vem e multa rescisória de € 8 milhões (R$ 24 milhões). Tudo indica que ele estará de casa nova após o Mundial. Resta saber se, até lá, ele ajudará a Costa Rica a estender sua lista de façanhas nesta Copa. Assim, sendo, que venham Arjen Robben, Robin Van Persie, Wesley Sneijder e companhia neste sábado, às 17h (de Brasília), na Fonte Nova, pelas quartas de final.
fonte: globo