Camisa 10 da seleção brasileira comenta que eliminação nas oitavas da Copa do Mundo não pode fazer com que trabalho volte à estaca zero no futebol feminino
Marta diz que não se pode voltar à estaca zero (Foto: Getty Images)
Olhos marejados. Foi assim que Marta concedeu entrevista ao GloboEsporte.com logo depois da eliminação do Brasil da Copa do Mundo feminina ainda no estádio de Moncton. Mesmo com a voz embargada e interrupções para tomar fôlego e não chorar, ela foi enfática ao projetar o futuro da seleção feminina permanente.
- O que a gente espera é que essa derrota não abale o que a gente vem trabalhando porque foi o que sempre aconteceu todas as vezes. Chegar em um Mundial, não conquistar o título e o trabalho voltar à estaca zero. A gente espera que isso não aconteça, porque nada na vida acontece por acaso. Necessita de um trabalho, de um processo para que as coisas possam acontecer. Temos exemplos aí de outras seleções que vêm trabalhando há muitos anos para chegar em uma competição como essa e chegar para conquistar, brigar por títulos. Mas nossa mania de brasileiro é de formar a seleção e falar assim: "Dois, três meses para se formar, chegar e ganhar o título". Não existe aceitação em uma derrota ou desclassificação. E isso não é uma coisa normal hoje no dia a dia no mundo do futebol. Existe um trabalho de construção e de continuidade. Não falo por mim, pela Formiga ou pela própria Cris. Eu falo pelas outras meninas (Marta se emociona neste momento).
A camisa 10 da seleção colocou que se o mesmo projeto tivesse sido feito na safra de grandes atletas em 2004, o Brasil poderia estar bem mais evoluído atualmente. Para marta, não há mistério. As equipes colhem resultados se o trabalho é contínuo. Ela ressalta que é preciso investimento para isso.
- Se a gente tivesse aproveitado alguns momentos que tivemos de extrema competitividade começando em 2004 e depois seguimos com a seleção muito forte talvez tivéssemos hoje uma seleção muito mais preparada. Não quer dizer que não estávamos preparadas. Até porque no meu ponto de vista fomos muito superiores a elas no jogo. Mas é aquela história. Você trabalha, você tem resultado. Se você investe naquilo, tem resultado. Se não investe acaba sendo merecedor do trabalho de outras equipes que vêm trabalhando há muito tempo - afirmou.
SAIBA MAIS
Marta não estará nos Jogos Pan-Americanos, a partir fo dia 10 de julho, no Canadá. Por não ser data Fifa, a jogadora precisa se apresentar ao seu clube, o Rosengard, da Suécia. Mas na mente ela ainda mantém um sonho: o ouro olímpico, em 2016. A capitã ressalta esse objetivo principalmente para dar apoio às companheiras com um grande triunfo. Como ela mesma ressalta, " tudo incerto no futebol feminino".
- O ouro é meu objetivo de outras atletas. De todos na verdade, mas principalmente da gente que não sabe se daqui alguns anos vai estar jogando ou vai estar em atividade. É tudo incerto no futebol feminino. A gente trabalha hoje para ver se consegue colher alguma coisa amanhã, mas não tem certeza da realidade do futuro. Então é continuar o trabalho. O orgulho é muito grande por parte de todos nós aqui, pois a gente sabe o que a gente passa. Sabemos o quanto é difícil jogar esse esporte.
Marta sabe que a derrota certamente abrirá caminho para as críticas dos que nunca ajudaram no desenvolvimento do futebol feminino. Mas ela ressalta que o momento é de estar perto dos amigos e familiares para superar a eliminação.
Agora, sem dúvida nenhuma, vão aparecer muitas pessoas querendo criticar. Mas na hora de ajudar ninguém ajuda. É tentar não se envolver tanto, pois quem critica são exatamente aqueles que não apoiam. Tentar pegar as energias positivas e conversar com as pessoas que estão sempre nos apoiando. Família, nossos amigos, as pessoas que gostam da modalidade e que estão incluídos nesse processo todo para que a gente possa crescer futuramente. A vida continua e o futebol não te dá tempo para ficar lamentando muito.
fonte: globo