Perfil do atacante do Santos dá sequência à série especial do Jornal Nacional. Esposa e mãe do craque falam do seu jeito irreverente
Gilvan, pai de Robinho, não tinha condições de comprar uma bola de futebol para o filho, nascido em São Vicente, litoral sul de São Paulo. Mas achou uma solução que parece ter sido importante na formação do atacante do Santos e da seleção brasileira: bolinhas de tênis. Talvez sejam elas as responsáveis pela habilidade mostrada pelo jogador, um dos 23 convocados por Dunga para a Copa do Mundo.
- Atrás do lugar onde meu pai trabalhava havia uma quadra de tênis. E às vezes as bolinhas caíam lá. Como ele não tinha dinheiro para me comprar uma bola de futebol, eu brincava com as de tênis mesmo. E foi até bom, porque me ajudou a ter mais habilidade – contou Robinho, 11º personagem da série de especiais do Jornal Nacional com os jogadores que vão à África do Sul tentar o hexacampeonato.
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Principal estrela da atual seleção brasileira, ao lado de Kaká, o atacante tem histórias curiosas e engraçadas de sua infância. A começar pelos apelidos dados por sua mãe, Dona Marina, e seu pai, Gilvan, passando pelas bagunças no bairro onde morava e também pela maneira como enfrentava seus adversários desde garoto.
- Meu pai me chamava de delegado, porque dizia que era eu quem mandava em casa quando ele não estava, e a minha mãe me apelidou de gordo. E para ela eu sou o gordo até hoje, mesmo com apenas 20 quilos – brincou o santista, que vai agora para o seu segundo Mundial. Em 2006, ele esteve no fracasso na Alemanha.
Robinho, aliás, parece gostar mais dos apelidos de delegado e gordo do que do nome que consta em seu registro: Róbson. O curioso, no entanto, é que o filho do atacante tem o mesmo nome. Algo que o próprio jogador escolheu.
- Eu não gosto muito do meu nome. Acho feio. Minha mãe me disse que era para eu chamar André Luiz, mas meu pai teve mais moral e colocou Robson. Mas desde cedo começaram a me chamar de Robinho, porque eu era o menor da turma e estava sempre jogando futebol entre os maiores – completou o Rei do Drible.
Robinho em uma das primeiras conquistas | Robinho sempre com amigos e a bola |
Robinho ao lado do ainda criança Neymar | O atacante na época do futebol de salão |
Robinho, um amigo e o técnico Betinho | O filho, a esposa e a mãe de Robinho |
Vaidade de luxo
A mesma personalidade que mostra ao falar sobre a sua insatisfação com o nome escolhido por seus pais, Robinho apresenta quando o assunto é vaidade. Sempre com brincos caros nas orelhas, a barba feita e o cabelo sempre aparado, o atacante não poupa esforços para manter essa rotina.
Prova disso é a história de Gilson, o cabeleireiro do craque. Ele continua com um salão em São Vicente, mas já atravessou algumas vezes o Atlântico para cuidar da cabeça de Robinho. Nos últimos anos, ele esteve duas vezes na Espanha, quando o jogador estava no Real Madrid, e oito na Inglaterra, na época do Manchester City.
- Ele cortava o cabelo com outro rapaz, mas um dia resolveu fazer um teste comigo e gostou. Desde que o Robinho tem 13 anos só eu mexo no cabelo dele. Quando ele estava na Europa, me ligava para eu passar uns 15 dias lá e cortar para ele. Aí eu aproveitava e conhecia a cidade – contou Gilson, empolgado.
Melhor ainda é que a fama que ganhou por ser o cabeleireiro oficial de Robinho lhe rendeu muitos clientes a mais em seu modesto salão.
- Um monte de gente vem cortar o cabelo comigo por causa dessa história do Robinho. Sou famoso desde 2003 – comentou o homem das tesouras.
‘Pedala, Robinho’
Essa frase já esteve na boca de vários brasileiros, sejam eles santistas ou não. Tudo por conta da repercussão que teve as oito pedaladas de Robinho em cima do então corintiano Rogério, na final do Campeonato Brasileiro de 2002. Foi naquele jogo, no estádio do Morumbi, que o Rei do Drible se consagrou.
- A pedalada foi um marco na minha carreira. Eu era muito novo, tinha apenas 18 anos. E para um garoto assim fazer aquilo na final de um Brasileiro e ainda ter personalidade de bater o pênalti era bastante coisa. Naquele momento, quem não acreditava em mim passou a acreditar. Foi o divisor de águas – falou Robinho.
Embora afirme que hoje em dia prefere marcar um gol a dar um drible, o atacante aponta uma das suas criações como um dos momentos mais especiais que viveu na seleção brasileira nos últimos anos. Um drible desconcertante em jogo contra o Equador, em 2007, no Maracanã. Na sequência do lance, Elano fez o gol.
- Um momento especial para mim na seleção foi o drible que dei no Maracanã e resultou no gol do Elano. O 'vai para lá que eu vou para cá'. Eu gosto muito do drible. Quem sabe fazer bem feito, é espetacular, desmonta qualquer esquema – disse o jogador da seleção, com a propriedade de quem entende do assunto.
Para aqueles que participaram do começo da carreira de Robinho, os dribles que o mundo vê atualmente não são nenhuma novidade.
- Sempre gostei do elástico, da canetinha, das pedaladas... Nunca vi um arsenal de dribles como o dele. É desumano com o marcador. Eu só ficava preocupado com alguma falta por trás ou violência do adversário – disse Betinho, o descobridor.
- Quem não viu Garrinha, viu Robinho – acrescentou o ex-treinador do craque.
A fórmula do amor
Robinho pode se considerar uma pessoa bastante realizada. É claro que ele ainda tem sonhos e objetivos na sua carreira, mas até aqui o atacante conseguiu construir uma vida legal. A começar pela família que criou, ao lado de Vivian, sua companheira há mais de 14 anos.
- Nós tínhamos 12 anos quando nos conhecemos. O meu pai era treinador de futebol de salão e eu sempre levava o meu irmão para jogar. Aí os amigos do Robinho sempre vinham me dizer que ele queria ficar comigo, e eu ficava tímida. Mas um dia combinamos e ficamos – contou a esposa, mãe de Robson Júnior.
O primogênito, por sinal, deve ganhar um irmãozinho em 2011. Pelo menos é essa a meta do casal, como explica o atacante da seleção brasileira.
- Depois da Copa eu vou fazer mais um filho. Já estou praticando (risos). Vou ver se o Kaká também faz uma filha agora (o meia já tem um menino) para namorar o meu – brincou o jogador, atualmente com 26 anos.
Feliz com a esposa que tem, Robinho comemora o fato de ter ao seu lado uma pessoa que sabe dar valor a ele, e não a tudo que conquistou com o futebol.
- É certeza que a minha mulher está comigo pelo que sou, não pelo que tenho. Eu acho que quanto menos você expõe um relacionamento mais chances ele tem de ir para frente – opinou o Rei do Drible.
Sequestro, uma página para ser esquecida
Em 2004, na reta final do Campeonato Brasileiro, Robinho estava prestes a conquistar mais um título com a camisa do Santos. Mas um drama familiar o afastou dos gramados. Sua mãe, Dona Marina, havia sido sequestrada. Libertada após um mês, ela ainda viu o filho ser campeão pelo Peixe.
- Foi a etapa mais difícil da minha vida. Eu estava em um momento muito bom, com o Santos prestes a ser campeão. Mas atualmente ela está bem. Só não gosta muito é de aparecer na televisão – contou o atacante alvinegro.
Dona Marina, porém, aceitou participar do perfil de Robinho, feito pelo repórter da TV Globo Tino Marcos. E para ele, a mãe do craque falou sobre o episódio.
- Superar eu nunca vou, porque sempre vem a lembrança. Mas eu procuro evitar a recordação. Foi o pior momento da minha vida. Eu penso só em coisas boas. Aquilo já passou – comentou Dona Marina.
Irreverência dentro e fora de campo
Vivian adora o estilo de Robinho, mas muitas vezes tem vontade de pular no pescoço do atacante. Tudo porque ele está sempre brincando. Até mesmo quando o assunto é mais sério.
- Às vezes falo para ele que precisamos conversar sério, mas ele leva tudo na brincadeira. Tem assuntos mais importantes que preciso falar com o Robinho, mas muitas vezes não consigo – contou, sorrindo, a mulher do Rei do Drible.
Esse é mesmo o estilo Robinho de ser. Irreverente, despojado, simpático, sempre com ar de adolescente. Algo que a mãe dele admira.
- Ele sempre foi peralta. Quebrava os meus quadros em casa e vinha dizer que não tinha sido ele, mas sim a bola. O jeito dele é esse mesmo. Sempre brincalhão. Se fala sério com a gente, não acreditamos. Nunca está triste ou de cara feia – disse.
Que essa alegria, então, contagie a seleção brasileira na Copa do Mundo.
fonte: globo