Tradicional clube santista, que chegou a vencer o timaço do Peixe no fim dos anos 50, estabelece parceria com o craque e ressurge após ostracismo
"E o Jabaquara? Acabou?"
Esse questionamento é recorrente. Tradicional clube de Santos, o Leão da Caneleira, como é conhecido o Jabaquara, viveu seu apogeu entre os anos 40 e 50. Chegou até mesmo a vencer o Santos, com Pelé e tudo. Mas não se sustentou. Mesmo sendo um dos fundadores da Federação Paulista de Futebol, chegou a passar dez anos licenciado, sem disputar torneios profissionais, entre 1967 e 1977, endividado e sem recursos. Os anos 80 e 90 também foram de idas e vindas, com períodos de paralisação. Somente a partir de 2002, graças a uma parceria com o Santos, é que o Jabuca voltou a disputar campeonatos com regularidade. E desde 2008 conta uma estrutura razoável graças justamente a Pelé, de quem foi carrasco.
Há dois anos, o Litoral Futebol Clube, do Rei do Futebol, se juntou ao Departamento de Futebol do Jabaquara. Transferiu para a Caneleira, bairro da Zona Noroeste de Santos, onde está situado o estádio Espanha, toda a estrutura do Litoral. Agora é Pelé quem banca o futebol jabaquarense, incluindo todas as categorias de base e o time principal. Manoel Maria, ex-ponta-direita do Santos e velho amigo do Rei do Futebol, é quem gerencia a parceria, saudada pelo presidente do Jabuca, Bento Marques Prazeres.
Campo do Jabaquara, reformado graças a ajuda de Pelé (Foto: Adilson Barros / Globoesporte.com)
- Comecei a fazer parte do dia a dia do Jabaquara justamente em 2002, quando uma parceria com o Santos nos ajudou a formar o time que foi campeão da Série B-2. Foi ali que percebemos a importância das parcerias. Vimos que esse era o caminho. Caso contrário, o Jabaquara iria morrer - conta Prazeres.
A aproximação entre Pelé e o clube começou em 2004, quando o Rei viabilizou, junto ao empresário Juan Figger, o empréstimo de alguns jogadores à equipe santista, ajudando inclusive a pagar os salários do elenco. Foi uma solução temporária. Em 2008, veio a ideia de fundir o Litoral ao Jabaquara
(Foto: Divulgação / Jabaquara A.C)
- Foi algo muito bom para as duas partes. O Litoral estava em dias de extinção. Então, houve novamente essa aproximação. O projeto maior é em nome do Jabaquara: nosso nome, nossas cores, nosso estádio. Então fizemos o seguinte trato: o parceiro (Pelé) banca o futebol, nos pagando um valor fixo. Além disso, custeia as melhorias em toda a estrutura - explica o presidente do Jabaquara.
Pelé já investiu R$ 400 mil para a reforma do estádio Espanha. Com isso, depois de três anos o clube pode voltar a mandar jogos em seu estádio. A situação era tão precária que o Jabuca não conseguia sequer os laudos para poder mandar jogos organizados pela Federação Paulista. Atualmente, o Leão disputa a Série B do Paulistão (quarta divisão).
Além das melhorias no estádio, estão sendo construídos dois campos e alojamento para jogadores. Tudo custeado por Pelé.
- Vamos transformar isto num centro de treinamento de excelência. O projeto é muito bonito e vai engrandecer o Jabaquara e a cidade. Se ainda não estamos tendo resultados no campo é porque, primeiro, está sendo montada uma estrutura. Em breve, os frutos serão colhidos – continua o dirigente.
A parceria, porém, sofreu muita oposição das alas mais tradicionais do Jabaquara. Principalmente porque a camisa vermelha e amarela passou a ostentar dois distintivos: do clube e do Campus Pelé.
- Tive de lutar para exibir, com orgulho, o símbolo do Campus Pelé. Essa parceria só engrandece o Jabaquara. Muita gente não aceitou, disseram que eu havia vendido o clube para o Pelé. Nada disso. O Jabaquara está vivíssimo.
Origens
Campus Pelé (Foto: Divulgação / Jabaquara A.C)
O clube nasceu em 15 de novembro de1914, fruto do esforço de imigrantes espanhóis que queriam ter um lugar para praticar a nova modalidade esportiva que começava a se popularizar no Brasil: o "football", ainda grafado em inglês. O Leão, porém, tinha outro nome: Hespanha Foot Ball Club. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, foi obrigado a mudar de nome. Um decreto do presidente Getúlio Vargas determinou que nenhum clube brasileiro poderia ter nome estrangeiro. Assim, o Hespanha virou Jabaquara.
Vitória sobre o Peixe com tesoureiro na zaga
Em 1957, o Jabuca conseguiu a maior vitória de sua história. Não valeu título, pois era apenas um amistoso. Mas ficou marcado. Afinal, o adversário era o Santos, então bicampeão paulista, com Zito, Pelé, Pepe, entre outros jogadores históricos.
O Peixe convidou o conterrâneo para um jogo na Vila Belmiro no dia 31 de julho de 1957. A equipe da Caneleira, comandada pelo técnico Ernesto Filpo Nuñes, argentino que criou a lendária Academia de Futebol do Palmeiras, nos anos 60. O convite veio em cima da hora e Dom Filpo, como era conhecido, teve de reunir os jogadores às pressas. Faltou um zagueiro, e o tesoureiro do clube, chamado Oswaldo, foi convocado para que o Leão pudesse ter 11 jogadores em campo.
O Santos saiu vencendo por 3 a 1, ainda no primeiro tempo, dois gols de Pagão e um de Tite. Melão marcou o gol jabaquarense. No segundo tempo, o Jabuca virou de forma surpreendente. O jogo terminou 6 a 4.
fonte: globo