quarta-feira, 27 de outubro de 2010

'Maradona fora de campo não tinha nada a ver com o jogador', diz Alemão

Na semana de aniversário de 50 anos do Pibe, ex-companheiro de Napoli afirma que argentino é tranquilo e diz que rixa com Pelé começou no Brasil

Por Lucas Loos Rio de Janeiro

Poucos brasileiros tiveram a oportunidade de estar tão perto de Diego Maradona como Alemão. Assim como o compatriota Careca, o ex-volante de Botafogo e Seleção atuou ao lado do Pibe no Napoli no final da década de 80 e início dos anos 90, época de ouro na história do clube italiano. O convívio permitiu que o maior ídolo do futebol argentino tivesse uma ligação mais íntima com o Brasil. Na semana em que "El Diez" completa 50 anos de vida, Ricardo Rogério de Brito, nome de batismo do ex-meio-campista, se lembra do antigo companheiro com carinho, embora admita que tenha perdido contato com o amigo, com quem não se encontra há dois anos.

AlemãoAlemão chegou ao Napoli em 1988 para fazer parte da equipe mais vitoriosa da história do clube (Divulgação)
Maradona completa 50 anos sábado, dia 30. A partir desta quarta, confira uma série de reportagens sobre a vida do argentino

Apesar da distância, Alemão ainda lembra de detalhes de Maradona nos bastidores. Com jeito polêmico dentro das quatro linhas e diante dos microfones, o Pibe, que faz aniversário no próximo sábado, era um sujeito simpático e amigável fora dos gramados. Além disso, o ex-volante da Seleção afirma que a rixa entre o então camisa 10 da Argentina e Pelé teria sido uma polêmica criada pelos brasileiros e que Maradona não dava importância para essa briga na época de atleta.

- Sempre nos demos bem. Éramos próximos e, inclusive, ele já passou réveillon na minha casa por duas vezes. Essa rixa entre Brasil e Argentina era um assunto que ele nem tocava. Esse tipo de comparação (com o Pelé) começou mais do lado de cá. Na verdade, o Maradona fora de campo não tinha nada a ver com o jogador. Ele era bem tranquilo e sempre foi muito simpático - lembra Alemão, que se encontrou com Maradona pela última vez há dois anos, em um evento na cidade de Nápoles.

Napoli 1989
Com Careca e Maradona, Napoli conquista a Copa
da Uefa da temporada 1988/89 (Getty Images)

A passagem de Maradona, reforçada pela presença de Alemão e de Careca, por Nápoles mudou a cara do principal time da cidade. Se o Napoli não exercia nenhum papel de protagonista no futebol local até então, a partir da segunda metade da década de 80 a situação mudou consideravelmente. Com o Pibe, o clube, enfim, pôde comemorar seu primeiro Scudetto na temporada 1986/87. Dois anos depois, a conquista seria ainda em maiores proporções. Já com os dois brasileiros no elenco, o Napoli faturou a Copa da Uefa, atual Liga Europa, após bater os alemães do Stuttgart na decisão.

Ex-companheiros não sabiam dos problemas com drogas

O Napoli ainda iria faturar mais um título italiano na temporada 1989/90, antes de uma das maiores derrotas da carreira do Pibe. Em 1991, o argentino foi flagrado no exame antidoping por uso de cocaína, o que deu início à decadência de Maradona como jogador. Apesar do problema do ex-meia com drogas ficar escancarado ao público, Alemão diz que, antes disso, a situação era desconhecida pelos jogadores do Napoli.

- Ninguém sabia de nada. Ele sempre foi um cara normal, que treinava normalmente. Mas isso foi um acontecimento que ficou lá atrás, e nem me lembro direito dessa história. Só sei que todo mundo estava torcendo por ele.

Careca Maradona AlemãoCareca, Maradona e Alemão (da esq. para a dir.) formaram a união Brasil e Argentina no Nápoli (Site Oficial)

“Privilegiado por atuar ao lado do Pibe”, como o próprio reconhece, Alemão assistiu à última Copa do Mundo com um olhar especial para os nossos hermanos. Mas quem pensa que o motivo foi a presença ilustre de Messi, o melhor jogador do mundo, está enganado. Para o brasileiro, a grande atração do último Mundial foi Diego Maradona, que teria brilhado no comando argentino durante a competição.

- Acompanhei toda a Copa do Mundo e achei muito boa a atuação dele como treinador. Na verdade, se teve uma coisa boa nessa Copa, foi a atuação dele na Argentina. Acho que ele ainda vai voltar a ser o treinador da seleção, afinal o país todo quer ele. Por mais que os dirigentes não tenham o mantido no cargo ele estará de volta mais cedo ou mais tarde.

A exemplo de Maradona, Alemão se tornou treinador após pendurar as chuteiras. Ainda procurando seu espaço na nova função, o ex-volante comandou times como América-MG e Nacional-AM entre 2008 e 2010 e está sem clube atualmente.