Atacante Euller anuncia a aposentadoria para o fim desta temporada.
Intenção é iniciar, de forma imediata, a carreira de técnico de futebol
O "Filho do Vento" deixará o futebol. Após 21 anos de carreira, chegou a hora de parar. Euller Elias de Carvalho, de 39 anos, mineiro de Felixlândia, casado e pai de dois filhos – o terceiro chegará em janeiro – anunciou que vai pendurar as chuteiras. O plano inicial para a aposentadoria era para 2012, ano em que o América-MG, time de coração do atacante, completará 100 anos. Porém, as constantes lesões, os planos de virar treinador e a volta iminente do Coelho à elite do futebol brasileiro o fizeram antecipar o projeto.
Com passagens marcantes por São Paulo, Atlético-MG, Palmeiras e Vasco, o atacante já pensa em sua festa de despedida.
- Está na hora, está chegando o momento. Ainda vou sentar com a diretoria para definir esta situação. Gostaria muito de fazer um jogo de despedida com a camisa do América. Vou conversar com eles sobre a possibilidade de, na reinauguração do Independência, fazer a despedida.
Euller não escondeu o carinho especial pelo Coelho. Foram três passagens pelo clube, com alegrias, decepções e a idolatria de uma torcida que festeja cada vez que o Filho do Vento, apelido que ganhou por causa da velocidade que o caracterizava, entra em campo.
- O América significa muito porque foi onde eu comecei. Foi onde eu tive a minha primeira oportunidade no profissional. Quando criança, eu acompanhava o América porque tinha um jogador da minha cidade atuando no clube. Vim para Belo Horizonte. Fiz teste no Atlético, não passei; no Cruzeiro, não passei; fiz teste também no América e não passei. Fui parar no Venda Nova. Comecei lá e depois fui comprado pelo Coelho. Na época, meu passe saiu até ‘caro’. Um par de chuteiras, um beliche e uma bola. Mas cheguei com a intenção de um dia conquistar objetivos e, graças a Deus, conquistei. E muitos. Então é assim: é minha casa, é o clube que me revelou, que me projetou para o futebol mundial. Então, tenho que agradecer muito.
Ao mestre, com carinho
Euller reiterou carinho especial por Telê Santana, seu técnico no São Paulo, nos anos de 1994 e 1995. Para o atacante, o principal responsável pela carreira longeva e pelo sucesso nos vários clubes por onde passou foi o Mestre Telê.
- É difícil um atleta chegar em uma idade tão avançada jogando. Mas eu, quando comecei minha carreira, projetei isso para mim. Eu abri mão de muitas coisas para que pudesse ter uma vida longa no futebol e, hoje, posso dizer que valeu à pena. Tenho que agradecer muito a todas as pessoas da minha vida, principalmente ao Telê Santana, que foi não só um treinador, mas um pai pra mim. Ouvi muitos conselhos dele, e um deles era exatamente esse: prolongar ao máximo a sua carreira. Enquanto tiver jeito, vai, ele dizia. E hoje eu estou aí jogando, graças a tudo o que aconteceu no início e aos ensinamentos do Mestre Telê.
O Filho do Vento não nega que Telê Santana é uma de suas principais inspirações e exemplos para se aventurar na carreira de técnico de futebol. Euller conhece bem as dificuldades e os espinhos do caminho.
- O que eu pretendo é ser treinador. Já fiz o meu curso, quero fazer bastante estágio, ir à Europa para ver muitos jogos, me preparar bem para entrar na função de treinador e não entrar de qualquer maneira. Eu quero entrar preparado, porque não é fácil. Hoje em dia, o treinador perde dois ou três joguinhos e é mandado embora. Então, eu quero me preparar bem.
Encontros e despedidas
Atacante comemora carreira vitorisosa no futebol
A carreira de Euller é marcada por bons e maus momentos. O atacante foi campeão por todos os clubes que defendeu. Ganhou campeonatos estaduais por América, Atlético e São Caetano. Foi campeão brasileiro pelo Vasco. Venceu duas Recopas Sul-Americanas com o São Paulo e conquistou a Taça Libertadores com o Palmeiras.
Mas segundo ele, o momento mais marcante de sua carreira, foi a primeira convocação para a Seleção Brasileira. O Filho do Vento foi chamado nove vezes, jogou sete partidas e fez três gols com a camisa canarinho.
- Em cada clube que eu joguei, tive momentos importantes, de muita glória, como o primeiro jogo como profissional, o primeiro gol, o primeiro clássico. Mas, a primeira convocação para a Seleção, sem dúvida, é aquilo que mais marca a carreira de um jogador. Eu estava no Vasco e, no momento da divulgação da lista, estava no supermercado. Quando eu recebi a ligação da assessoria do Vasco, minhas pernas tremeram, eu não sabia o que fazer. Só tive alegria naquele momento, chorei de felicidade, porque era tudo o que eu gostaria que acontecesse.
Por outro lado, Euller teve momentos tristes no futebol. Participou do time do Atlético que foi rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro, em 2005. E não escondeu as lágrimas após o jogo contra o Vasco, que decretou a queda do Galo para a segundona. Em 2007, o jogador também esteve no rebaixamento do América para o Módulo II do Campeonato Mineiro. Nesse difícil período da história do Coelho, Euller chegou a tirar dinheiro do bolso para comprar cestas básicas para os funcionários do clube e até mesmo um carrinho para cortar a grama do CT americano.
Mas estas páginas tristes não se comparam à maior dor vivida pelo Filho do Vento no futebol: ver seu amigo e companheiro de clube, Serginho, morrer em pleno gramado. O São Caetano jogava contra o São Paulo, no Morumbi, no dia 27 de outubro de 2004, quando o zagueiro sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
- A maior tristeza que eu tive dentro do futebol foi ver a morte do Serginho, na época em que eu jogava no São Caetano. Aquilo realmente foi algo que marcou muito na minha vida, porque foi um cara que, quando eu cheguei no São Cateano, fiz uma amizade muito grande. Já tínhamos até marcado de passear com as famílias nas férias. Quando aconteceu aquilo, eu até pensei em parar de jogar. Naquele dia mesmo, falei para minha esposa que não queria mais. Mas conversei com muitas pessoas, minha esposa, minha mãe, meu empresário, e aí dei continuidade. Mas foi o momento mais triste de minha carreira.
Futuro é o que virá
Euller quer virar técnico, após encerrar a carreira
Antes de abandonar a carreira de jogador e se enveredar por outros objetivos no futebol, Euller tem uma missão: levar o América de volta à Série A do Brasileiro. Ausente da elite do futebol nacional desde 2001, o Coelho tem boas chances de retornar em 2011. O time é o vice-líder da Série B, com 55 pontos. Segundo os matemáticos, mais nove nos seis últimos jogos serão suficientes para levar o time à conquista. O Filho do Vento não escondeu o entusiasmo.
- Este é um momento importante, porque o América tem essa oportunidade de voltar à elite do futebol brasileiro. E isso, com certeza, é o sonho de todos nós, jogadores, comissão técnica, diretoria e torcedores. Então a gente tem que aproveitar esses jogos pela frente. É importante a concentração muito grande de todos, focar bem no que se tem para fazer a cada partida. Que cada jogador tenha consciência de se concentrar, de se cuidar fora de campo, procurar ao máximo estar informado do adversário, para que a gente possa conseguir. É oportunidade, não é fácil. Pode ser que ano que vem não consigamos uma chance tão boa como essa, então vamos aproveitá-la.
O acesso à elite do futebol brasileiro representará muita coisa para o América-MG. E um torcedor vai comemorar de forma especial. De dentro de campo, Euller, o Filho do Vento, a prata da casa do Coelho, quer ser parte viva de uma história cheia de percalços e dificuldades, mas que tem tudo para ter um final feliz, no dia 27 de novembro, no Moisés Lucarelli, em Campinas, quando o América enfrentará a Ponte Preta, pela última rodada da Série B do Brasileirão.
fonte: globo