Presidente afastado da Fifa, suíço afirma que francês o colocou no centro da crise e acusa a União Europeia de influenciar o esporte: "Fizeram isso duas vezes"
Blatter acusa Platini de um ataque pessoal
(Foto: Reuters)
Afastado da presidência da Fifa desde o começo do mês, quando foi suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa por 90 dias, Joseph Blatter desabafou em entrevista à agência de notícias russa Tass. O suíço afirmou que só se tornou centro de toda a crise na Fifa por conta de um ataque pessoal de Michel Platini, que teria levado o sentimento contrário a Blatter para a Uefa e até mesmo para o Parlamento da União Europeia.
O dirigente afirmou que o estopim da crise - a operação policial que prendeu sete dirigentes do alto escalão, em maio - foi um caso isolado, no qual estavam envolvidas pessoas das confederações da América do Sul, do Norte e Central, citando os subornos cobrados na venda dos direitos de transmissão da Copa América. Afirmando que não pode ser "responsável moralmente pelas pessoas", Blatter disse que vem se sentindo alvo da Uefa há três anos.
- Me tornei o alvo primário de ataques já há três anos, e especificamente depois da Copa do Mundo de 2014, pois a Uefa não me queria como presidente. Foi conduzido um ataque sobre o presidente da Fifa, mas as outras confederações estavam comigo. Somente a Uefa queria me afastar, e eles não conseguiram. Mesmo com esse tsunami, fui reeleito presidente. E quem estava envolvido nesta situação de ataque? Políticos, a União Europeia. Porque este problema foi discutido na União Europeia, e se você olhar a história, o parlamento da União Europeia resolveu isso duas vezes. Primeiramente, Blatter não deveria ser eleito. Mas isso é interferência política no esporte. E depois de eleito, Blatter deveria sair. Eles fizeram isso duas vezes, o parlamento da União Europeia. No começo, era apenas um ataque pessoal, era Platini contra mim. Ele começou isso, mas se tornou político - criticou.
Blatter apontou que duas decisões da Fifa nos últimos anos levantaram a Uefa e a Justiça norte-americana contra a sua figura: as escolhas de Rússia e Catar como sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, em detrimento às candidaturas de Inglaterra e Estados Unidos, respectivamente. O dirigente diz que, a partir daí, Europa e EUA criaram ataques contra a Fifa - diz não saber porque Platini não gosta dele.
Questionado sobre o maior problema da Fifa atualmente, Blatter apontou o fato de "ser chefe de um governo que não é eleito" por ele, uma vez que o presidente é eleito em congresso, enquanto os membros do Comitê Executivo são apontados pelas confederações continentais. Ele diz que a Fifa não está em crise como organização - e na verdade os líderes estão envolvidos em problemas.
- A Fifa não está em crise, o governo da Fifa está em crise. Ela estará em crise se você matar no mesmo dia o presidente, o secretário-geral e o vice-presidente da maior confederação. Acho que essa crise, assim como meus advogados, não tem nada a ver com atividades criminais. Não tem nada a ver com isso. É apenas sobre percepção. E isso é dado por quem? Se você abre os jornais, vê TV, todo dia eles dizem "Blatter deve sair". A vítima de tudo, ao fim, é Platini - resumiu.
Blatter chamou de "absurdo" o fato de ele o francês terem sido suspensos juntos pelo Comitê de Ética, afirmando que "isso não é justiça", uma vez que ele, Platini e Jérôme Valcke não foram ouvidos antes de serem alvos de 90 dias de gancho - chegando a evocar "os princípios dos direitos humanso: antes de ser suspenso ou excluído de algum lugar, você tem o direito de responder".
- Acho que foi a pressão da mídia. Foi a pressão para me tirar da presidência da Fifa. Infelizmente, Platini estava no mesmo barco. E eles quiseram dizer: "Nós, o Comitê de Ética", não estamos a serviço do presidente. Somos totalmente independentes". Isso é errado. Eles podem ser independentes, mas não precisam estar contra mim.
O suíço relatou já ter entrado com recurso contra sua suspensão tanto no Comitê de Apelação quanto no Comitê de Ética, mas trabalhando sem pressa. Ele alegou que sua relação de trabalho com Platini - que gerou o pagamento feito em 2011, motivação da suspensão - começou após a Copa do Mundo de 1998, com o próprio francês dizendo que gostaria de trabalhar para ele. Ao dizer que o preço do francês seria caro demais, Blatter diz que ouviu que poderia pagar depois. Mas a relação dos dois começou a ficar ruim em 2007, quando Platini foi eleito presidente da Uefa.
- Um ano depois, em 2008, na Eurocopa da Áustria e Suíça, eu fui jogado para escanteio pela Uefa. E desde então eu nunca fui a competições da Uefa, por falta de respeito, não a mim como pessoa, mas ao trabalho e aos presentes - disse, relatando, que a Uefa tem "um vírus anti-Fifa".
Blatter relatou que o desejo inicial da Fifa era ter uma Copa do Mundo na Rússia, para chegar ao Leste Europeu, e depois retornar para a América. Segundo ele, o que mudou o curso de tudo foi uma reunião entre o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o príncipe do Catar Tamim bin Hamad al Thani. Depois disso, Sarkozy teria convencido Platini a fazer campanha na Uefa pela candidatura catari - o que levou a derrota dos EUA na eleição.
- Se os EUA tivessem recebido a Copa do Mundo, estaríamos falando apenas sobre a maravilhosa Copa de 2018 na Rússia e não falaríamos sobre tantos problemas na Fifa.
Sonhando estar de volta à presidência para conduzir o congresso que elegerá seu sucessor, no dai 26 de fevereiro, Blatter disse que a maioria dos candidatos poderiam fazer as mudanças necessárias na Fifa, exceto Platini.
fonte: globo