Em entrevista exclusiva, atleta bicampeão da Libertadores celebra identificação com o Inter, mas deixa euforia de lado para pensar mais longe
Rafael Sobis e o Inter parecem ter sido moldados para um encaixe perfeito: um no outro, crescendo juntos, dividindo a história. Um dos heróis do título continental de 2006, o jogador voltou ao Beira-Rio para ser bicampeão. E conseguiu. E fez gol na final. E correu diante da torcida com um bandeirão vermelho, como aconteceu há quatro anos. Ele está, com tintas ainda mais fortes, na biografia do clube.
Duas medalhas no peito: Sobis é campeão em 2006 e 2010 (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
Nesta quinta-feira, um dia depois de fazer o primeiro gol do Inter na vitória de 3 a 2 sobre o Chivas e ser bicampeão da Libertadores, Rafael Sobis recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM em seu prédio, em Porto Alegre. Com cara de sono, recém-acordado dos sonhos pós-título, o jogador falou sobre sua ligação com o clube, celebrou o orgulho de ter duas medalhas da Libertadores no peito, mas também já puxou o freio. Ausente no Mundial de 2006, ele pensa no futuro: agora, quer conquistar o planeta.
Abaixo, confira os principais trechos da entrevista exclusiva com o atacante.
Quando você entrou em campo, passou ao lado da taça e fez um carinho nela. Por que aquilo?
Não sei. Nem sabia que ela estaria ali. Ninguém tocou. Não sei. Até porque depois do jogo não toquei nela (risos). A única hora foi ali.
No futebol se fala muito em ter estrela. Em 2006, você ainda estava num momento de consolidação. Não tinha estourado ainda, pelo menos não nas primeiras rodadas da Libertadores. No jogo contra o São Paulo, fez aqueles dois gols (na final). Agora, voltou buscando a forma ideal e, no jogo decisivo, fez o gol. Acha que é um cara que tem estrela?
Na Libertadores de 2006, eu demorei para engrenar porque tive uma lesão no joelho. E agora também voltava de uma. Estava jogando desde o começo do ano, mas em outro ritmo da preparação. Quando cheguei aqui, o joelho sentiu bastante. Ainda não me encontro bem, todos sabem. Esse jogo caiu no meu colo, muita coisa levava a crer que eu faria um gol porque tinha feito três jogos como titular, dois na Libertadores jogando pouco, e não tinha feito gol. Tudo levava para este caminho. Aos amigos, disse que faria um gol no jogo.
Estava inquieto por não ter feito um gol ainda?
Não. Estava todo mundo me apoiando. Todos sabem que este processo é meio lento. Se fosse rápido, seria algo mentiroso, e logo em seguida meu ritmo cairia. Está no processo ainda, falta muito. Não fiquei ansioso. Todos sabem que sou assim, tenho muita vontade de vencer, e a vontade no futebol é tudo. Foi a vontade que me fez fazer um gol.
Você teve quatro anos para assimilar a ideia de ser campeão da Libertadores. Como é a ideia de ser bicampeão?
(Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
Espero assimilar rápido. Tem o Brasileiro aí, nossa equipe tem um jogo a menos e vencendo este jogo, fica em terceiro. E tem muita coisa pela frente. Em 2006, quando acabou a Libertadores, o time estava numa boa posição e brigou pelo título. Infelizmente, naquele tempo não deu, acabei indo embora e tenho uma oportunidade única de ser campeão brasileiro, já que o Inter nos últimos quatro ou cinco anos teve três vice-campeonatos. Faz muito tempo que não ganha o Brasileiro. É um time que nos últimos cinco anos ganhou tudo e não ganhou o Brasileiro. É o próximo objetivo. Ganhar a Libertadores foi bom, mas é comemorar agora, na folga, e depois é pezinho no chão porque a história continua.
Você estava aqui em 2005. Aquilo deve marcar ainda (o Inter foi vice-campeão, num campeonato marcado por um escândalo de manipulação de resultados)...
Estava em 2005, e em 2006 joguei a metade. Mas em 2005 acho que foi mascarado. Penso eu que se tivéssemos vencido aquele Brasileirão, não ganharíamos a Libertadores do ano seguinte, porque é muito difícil isso acontecer. Mas ganhamos a Libertadores, algo maior, inédito para o Inter. E agora a oportunidade está aí, o time está bem, temos uma grande equipe. O Leandro Damião não tinha nem jogado na Libertadores e fez um gol (na final contra o Chivas). O time é forte.
Você disse que confidenciou a amigos que faria um gol, mas na hora do gol a sua reação foi de surpresa. O que houve ali?
Foi uma surpresa em vários sentidos, por ter feito o gol depois de tudo o que eu passei. Vocês sabem da lesão, da cirurgia (Sobis foi operado no joelho direito), por estar fazendo mais uma vez o gol na hora mais perfeita, era um momento superdifícil do jogo. Seria crucial fazer o gol naquele momento. E a comemoração foi uma loucura, porque o desgaste de uma Libertadores é muito grande. Cada um comemorou num canto, dois jogadores se abraçando ali, dois lá, dois do outro lado, e eu fiquei sozinho. Não acreditei. Não hora que faço o gol, olho para o bandeirinha e depois olho de novo. Como não veio ninguém, achei que não estava valendo. Mas foi bom. Era para acontecer assim porque tive duas lesões e talvez fosse o momento de comemorar comigo mesmo. Foi tudo perfeito.
Ao entrar em campo para a final, atacante fez carinho na taça da Libertadores (Foto: EFE)
fonte: globo