sábado, 21 de agosto de 2010

Terrão: certo por linhas tortas

Corinthians formou grandes jogadores em campo sem grama, esburacado e recheado de pedrinhas. Agora, local tem grama sintética

Por Diego Ribeiro e Leandro Canônico São Paulo

header 100 anos do Corinthians

Ronaldo; Coelho, Marcelo Djian, Cris e Wladimir; Zé Elias, Edu e Rivellino; Dinei, Casagrande e Viola. Esse timaço nunca jogou junto pelo Corinthians, mas os 11 jogadores têm em comum a origem: todos saíram do Terrão, tradicional campo no Parque São Jorge onde eram realizadas as peneiras do clube e treinamentos das categorias de base. Em outubro de 2008, o lugar de terra batida, esburacado e até com pequenas pedras foi substituído por um moderno gramado sintético.

Muitos dos que passaram por lá vingaram no futebol por, digamos, linhas tortas. A péssima qualidade do campo acabava exigindo mais dos jogadores em fundamentos básicos como o domínio de bola e o passe. O lateral-esquerdo Wladimir, recordista de jogos pelo Corinthians - são 803 -, é um dos filhos do Terrão. Treinar naquele lugar não era para qualquer um.

campinho corinthinasSeleção do Terrão é recheada de nomes que fizeram sucesso pelo Corinthians (Foto: arte esporte)

- Na minha época, nós fazíamos os treinamentos no terrão. Aquilo era só para quem tinha habilidade mesmo, porque a situação do campo era terrível. Ou você mostrava que tinha o dom ou um abraço. Era uma terra dura, a bola não rolava. Eu tinha de pedir pelo amor de Deus para ela me obedecer - disse o ídolo corintiano.

Na época de transição entre o Terrão e a grama sintética, o atacante Viola se mostrou insatisfeito. Formado na base do clube, ele passou por peneiras no Parque São Jorge e diz ter aprendido mais ali do que se tivesse sido "criado" em um gramado perfeito.

Campo Terrão CorinthiansO Terrão antes das reformas que modernizaram o
local (Foto: Leandro Canônico / Globoesporte.com)

- Eu fico muito triste com isso e não aprovo. O cara que treina no Terrão sai de lá habilidoso, sabendo cair. Na grama sintética, quem for dar um carrinho vai se ralar. Acaba tendo a mesma proporção de machucados que na terra. Sem contar que é importante o garoto saber quantos craques foram formados lá - afirmou Viola, em outubro de 2008, logo que soube do anúncio do fim do Terrão.

Além dos 11 jogadores que formam a seleção citada acima, o campo de terra batida revelou outros nomes que fizeram sucesso pelo Timão - e também em outros clubes: Paulo Sérgio, Betão, Ewerthon, Gil, Fernando Baiano, Marcelinho Paulista, Jô, Sylvinho, Marques, Kléber, Willian, Rosinei, Rubinho... A lista é quase interminável.

Hoje, com grama sintética, o ex-Terrão segue recebendo peneiras para novos atletas do Corinthians. Modernizado, o campo não guarda qualquer semelhança com seu antecessor. Deixa saudades em quem pisou por lá e se sujou de terra, mas saiu com um aprendizado maior. Para Wladimir, já não há mais tantos talentos quanto em sua época.

- Antigamente, os treinadores da base sabiam das dificuldades que iríamos enfrentar nos campos. Prevalecia o talento. Isso nos dava certa segurança, porque nós sabíamos que não tinha sacanagem. Hoje, de uma maneira geral, tem aqueles que recebem dinheiro para beneficiar esse ou aquele. Hoje em dia as condições das peneiras e dos campos de treinamentos melhoraram, mas por outro lado falta material humano - lamentou Wladimir.

Centenário Corinthians: Campo Society Parque São jorge
O Terrão hoje, com grama sintética e melhores condições de jogo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
fonte: globo