Sem turbulências desde a conquista do Brasileirão, em 2011, Corinthians volta a se complicar com problemas internos e tem cobrança da Fiel
169 comentários
Tite vê a sombra do fracasso se aproximar dele
(Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)
(Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)
Desde a conquista do Campeonato Brasileiro de 2011, o torcedor do
Corinthians não sabia o que era sofrer. De lá para cá, a Fiel comemorou a
Taça Libertadores da América, o Mundial de Clubes, o Campeonato
Paulista e a Recopa Sul-Americana. Só que depois de tanto tempo, o Timão
voltou a entender o que é crise. Há cinco jogos sem vencer no
Brasileirão 2013, a equipe passou a receber cobranças mais veementes da
torcida e teve até de mudar de rota para fugir da pressão.
Referência nos contextos nacional e internacional, o Corinthians está
convivendo com os alguns pecados capitais atualmente, como gula,
avareza/ganância, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade/orgulho. No
comando da equipe desde outubro de 2010, Tite, considerado por muitos o
maior técnico da história do clube, não tem conseguido repetir o bom
trabalho de antes. Muitos atribuem a queda de produção à venda de
Paulinho para o inglês Tottenham, mas há muito mais problemas.
Temos um grande elenco, até por isso, com os resultados não
aparecendo, a coisa fica estranha. É um grande time, e o rendimento não é
satisfatório por isso"
Duílio Monteiro Alves, diretor-adjunto de futebol
Durante toda a era Tite, o único momento de maior turbulência foi em
fevereiro de 2011, quando o Corinthians foi eliminado na primeira fase
da Libertadores para o até então desconhecido Tolima, da Colômbia. O
técnico balançou, mas não caiu. Seguiu firme no cargo e deu início a uma
trajetória pra lá de vitorioso. Trajetória que agora faz a torcida
cobrar por mais e mais títulos. Nos últimos dois jogos, irritada com a
apatia do time, ela gritou: “Joga por amor ou joga por terror”.
Clube mais rico do país na atualidade, o Timão não tem economizado nos
investimentos em marketing e na construção do seu estádio, em Itaquera.
Não fez isso também na montagem do elenco para esta temporada. Talvez aí
esteja um dos problemas. O investimento de R$ 40 milhões na contratação
de Alexandre Pato e a chegada de outros medalhões mudaram a política do
futebol corintiano, que antes apostava em contratações a custo zero ou
de desconhecidos com potencial.
– Temos um grande elenco, até por isso, com os resultados não
aparecendo, a coisa fica estranha. É um grande time, e o rendimento não é
satisfatório por isso. A janela internacional está fechada e a maioria
dos jogadores na Série A já fez mais de sete partidas... Não existem
opções (para contratar mais) – disse o diretor-adjunto de futebol do
Timão, Duílio Monteiro Alves.
O fato é que o técnico Tite está irado com o baixo rendimento da
equipe, em especial do ataque. Nas últimas cinco partidas, o Corinthians
fez apenas um gol. De quebra, tem o segundo pior ataque da competição,
com 20 gols marcados. Só é melhor nesse quesito do que o lanterna
Náutico, dono de somente dez gols no Brasileirão. Em determinado momento
da partida contra o próprio time pernambucano, na última rodada do
primeiro turno, o técnico fez um teste ousado.
Com vários desfalques por conta da suspensão de Emerson Sheik e das
convocações de Alexandre Pato e Guerrero para as seleções brasileira e
peruana, o técnico corintiano chegou a utilizar o zagueiro Paulo André
como atacante. A ousadia não caiu bem para a diretoria alvinegra, que
viu a atitude do treinador como uma indireta por mais contratações. Só
que na visão dos cartolas, o elenco está suficientemente bem montado.
Até com pedidos feitos pelo treinador.
Alexandre Pato é o principal nome desse ataque. Não é o mais efetivo,
mas foi quem mais custou aos cofres corintianos: R$ 40 milhões. Ainda
sem engrenar no clube do Parque São Jorge, o atacante tem despertado
inveja em outros atletas do elenco. Há comentários entre jogadores de
que o ex-Milan tem tratamento diferenciado, mesmo não rendendo como
esperado. Sua falta de vibração também tem incomodado alguns jogadores
do Timão.
Vibração, no entanto, falta a muitos no Corinthians atualmente. A queda
de produção caminha lado a lado com a ausência de motivação. Depois de
conquistar tudo, Tite tem encontrado dificuldade em fazer o grupo
reagir. E o vestiário, ponto forte do Timão nessa era de ouro, tem sido
um problema. O silêncio tem imperado antes e depois das partidas. Não há
mais o diálogo fluente como antes. E Tite deixou de ser unanimidade
para tornar-se desconfiança no clube.
Cássio, de pé, e Gil, deitado, lamentam derrota
(Foto: Marcos Ribolli)
(Foto: Marcos Ribolli)
– Temos contrato com ele até o fim do ano e ainda não conversamos. Como
todo ano, vamos conversar somente no fim, quando acabar o campeonato. O
momento não é para isso, mas sim para trabalhar e se recuperar – disse
Duílio Monteiro Alves, quando questionado sobre a renovação de contrato
do treinador.
Ela depende, única e exclusivamente, de uma vaga na Libertadores da
América do ano que vem. Há dois caminhos possíveis: chegar entre os
quatro primeiros colocados do Brasileirão ou ganhar a Copa do Brasil (o
Timão encara o Grêmio, nas quartas de final da competição). Tite sabe
disso. E, segundo a diretoria, a única chance de ele sair antes do fim
do ano é pedindo demissão.
Não costuma ser o perfil dele. É bem provável que Tite tente com todas
as armas atingir seu objetivo. Mas o primeiro passo para ele e diretoria
seria encarar de vez que as chances de título foram bem reduzidas e as
de Libertadores, pelo Campeonato Brasileiro, seguem seriamente
ameaçadas. Após 22 rodadas, o Corinthians está na sétima colocação, com
30 pontos, cinco a menos que o Atlético-PR, quarto colocado. E o time de
Curitiba joga nesta noite.
Em queda na tabela, o Timão tem um desafio complicado no próximo
domingo, às 16h, no estádio do Pacaembu, contra o líder Cruzeiro.
Pato é um dos principais problemas de Tite no Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr. / Ag. Corinthians)
fonte: globo