quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vai encarar? Árbitro diz: ‘Não quero ser conhecido como o cara forte’

Anderson Daronco abandona a carreira de professor de educação física para se dedicar à arbitragem e evita excesso de exposição pela aparência

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Rio de Janeiro
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A estrutura muscular chama a atenção. Bíceps que chegam a esticar o uniforme amarelo parecem acima do padrão da classe dos árbitros brasileiros. São 12 anos dedicados a rotineiros treinos físicos entre academia e preparação específica para aguentar o tranco de apitar jogos pelo país. Formado em educação física, Anderson Daronco deixou de lecionar em um município próximo a Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para se dedicar exclusivamente à arbitragem devido ao conflito de horários e viagens em sequência. E faz questão de cuidar da imagem.
- Não quero ser conhecido como o cara forte que apareceu no Fantástico (assista ao vídeo acima) ou pelo forte que apitou um ou três jogos, mas pela qualidade do trabalho. Quero mostrar qualidade em campo e conquistar meu espaço pelas atuações.
As atuações dentro de campo exigem força também. Uma força mental que é preparada desde o dia em que decidiu fazer o curso para se tornar juiz de futebol ainda aos 18 anos. Atualmente com 32, mais experiente e já com cabelos brancos, Daronco ouviu poucas e boas. As duas mais recentes foram do diretor executivo do Fluminense, Rodrigo Caetano, e do técnico do Flamengo, Mano Menezes.
árbitro Anderson Daronco (Foto: Lucas Prates / Agência Estado)Anderson Daronco durante partida do Campeonato Brasileiro (Foto: Lucas Prates / Agência Estado)
No caso do dirigente, relatou na súmula do empate dos cariocas com o Atlético-MG, pela 18 ª rodada, o seguinte:
- Relato que, após o término da partida, o diretor executivo do Fluminense, Sr. Rodrigo Caetano, invadiu o campo de jogo, veio em direção à equipe de arbitragem e proferiu as seguintes palavras: “Eu tenho vergonha de ser do seu estado. Vai lá na área e faz o gol para eles. Vai se f...”. O mesmo teve que ser contido pelo policiamento.
Alguns dias depois, no último domingo, entrou no Mineirão para comandar Cruzeiro x Flamengo. Aí veio uma conversa ríspida que terminou com palavrões do técnico. Nada que abale a parte psicológica (veja abaixo o lance em que expulsou Rhayner, do Flu).
- O árbitro tem que ter a preparação, saber lidar com esse tipo de situação e manter a calma e respeito com o profissional que está atuando. O futebol deixa atletas e treinadores com a cabeça quente. Mas o árbitro tem que manter o nível de serenidade alto para saber lidar com o respeito que é exigido.
É na base das palavras que ele quer se impor. Garante nunca ter ouvido gracinha dos jogadores e, nas suas palavras, entende que os músculos avantajados não o fazem ser mais respeitado ou não. 

Lições do handebol

Rhayner gol Fluminense x Atlético-MG (Foto: Paulo Fonseca / Photocamera)
Árbitro expulsou Rhayner no jogo entre Fluminense
e Atlético-MG (Foto: Paulo Fonseca / Photocamera)
A carreira despontou em 2004, quando participou de seu primeiro jogo de times profissionais na Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho - somente em 2011 estreou pela Série A do Brasileiro. Aprendeu a ser competitivo mais cedo, porém. Logo aos 12 anos, iniciou uma tentativa abortada seis anos mais tarde na quadra. Treinado por um técnico russo quando praticava handebol como ponta, começou a participar de atividades rígidas e curiosas.
- Nosso treinamento de handebol era com um treinador russo. Se tu visse... Era um treino físico intenso. É difícil explicar pela especificidade, mas era muito estranho. Isso no início da década de 90 era muito intenso para a gente.
Mas a experiência valeu.
- O handebol é de muito contato, o treinamento envolvia muito contato físico. Pela posição que jogava, era velocidade e pouca recuperação. Isso talvez tenha me dado uma certa facilidade para suportar a demanda dos testes físicos e os treinamentos que venho realizando hoje. Eu jogava de extrema esquerda, mas parei quando comecei a apitar. Tinha medo de me lesionar e tive que abortar uma carreira não muito promissora - brincou.
A intensidade dos treinos aumentou. Quando não é escalado em jogos no fim e meio de semana, costuma se dedicar aos treinos quatro vezes por semana, com período de uma hora e meia na academia, com reforço muscular. Nas oportunidades em que vai para a pista de atletismo simular situações de jogo, o tempo de atividade chega a duas horas e meia.
- Existe preocupação com o trabalho psicológico também. É um treinamento integrado para desempenhar a função com excelência.
Como não pegou nenhum jogo no meio de semana, o planejamento de treinos será seguido à risca. Hora de ir para a academia.
fonte: globo