sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Com remanescente do 'Jogo da Paz', seleção haitiana inicia treinos no Rio

Sobreviventes do terremoto em janeiro, 20 jogadores fazem parte do grupo
que se prepara para Copa Ouro. Eliphene Cadet enfrentou o Brasil em 2004

Por Victor Canedo Rio de Janeiro

O dia 12 de janeiro de 2010 está cravado na memória de milhões de haitianos da forma mais trágica possível, quando mais de 200 mil pessoas perderam suas vidas em um terremoto de sete graus que devastou o país mais pobre das Américas. Entre os sobreviventes, 20 deles - a maioria de jovens - encontraram na última quarta-feira um motivo para sorrir após nove meses de sofrimento: desembarcavam no Brasil, onde muitos desejavam ter nascido, para um período de treinos pela seleção de futebol do Haiti, 123ª colocada no ranking de setembro da Fifa. Entre eles, um remanescente do "Jogo da Paz" de 2004: Eliphene Cadet, que fez parte do grupo que enfrentou os Ronaldos e cia. na partida amistosa em Porto Príncipe.

Treino Haiti Rio de Janeiro Brasil
A desejada bola só participou das atividades após um leve aquecimento (André Durão / Globoesporte.com)

GALERIA DE FOTOS: veja as imagens do treino do Haiti no Rio de Janeiro

Serão pouco mais de três semanas no Rio de Janeiro em preparação para a pré-Copa Ouro, que será disputada em Trinidad e Tobago no início de novembro. A viagem surgiu graças a um projeto de intercâmbio idealizado pelo Ministério da Defesa em parceria com a ONG Viva Rio, uma das responsáveis pela ajuda na reconstrução do país. A seleção feminina do Haiti também está no Brasil, jogando e treinando.

Nesta quinta, os atletas começaram o trabalho em um campo na Casa do Marinheiro, na Penha, Zona Norte do Rio. Foi a primeira atividade depois de se alimentarem à base de sopa por dois dias enquanto estavam presos no aeroporto da República Dominicana com problemas de documentação. Entre as chuteiras coloridas das mais variadas marcas, um tênis preto e sem travas despertava curiosidade: era justamente o da estrela do time, Eliphene Cadet, 30 anos, e que no dia 18 de agosto de 2004 defendeu o Haiti contra o Brasil. Na camisa, o número 9, do seu ídolo Ronaldo Fenômeno.

– Estava nas ruas aplaudindo a chegada deles e depois em campo naquele dia inesquecível. Fiquei emocionado só de abraçar e apertar as mãos de jogadores como Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos – disse Eliphene, em um arranhado inglês, que também enfrentou Palermo e Ortega em amistoso contra a Argentina, antes da Copa do Mundo, em maio.

Treino Haiti Rio de Janeiro BrasilTranças no cabelo fazem Eliphene lembrar o togolês Emmanuel Adebayor (André Durão / Globoesporte.com)

O jogador, semelhante fisicamente ao togolês Emmanuel Adebayor, do Manchester City, até poderia ter tido mais contato com os craques que vangloria, mas chegou a recusar um convite do técnico Paulo Bento, ex-Sporting e hoje treinador de Cristiano Ronaldo na seleção de Portugal. Optou por continuar ao lado da família e na luta para melhorar seu país.

Treino Haiti Rio de Janeiro Brasil
Fileira de haitianos à procura da bola
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)

– O Paulo Bento foi vê-lo, mas ele não quis ir. O Eliphene é líder comunitário de uma favela com mais de 800 mil pessoas, maior até que a Rocinha. Acabou enrolando, o que foi uma pena. É difícil tirar o cara de lá. Ele só veio para cá no papo brasileiro – afirmou o treinador brasileiro Edson Tavares, que assumiu a seleção haitiana recentemente e se comunica em francês com os atletas.

– A maioria entende, mas só falam o crioulo (mistura de francês com dialetos africanos) – encerrou o técnico, que tem a companhia do preparador físico Tita e do preparador de goleiros Wagner na comissão. A partir do dia 25, ele receberá mais 15 jogadores que atuam fora do país e terá de reduzir a lista para 23 antes de embarcar para Trinidad e Tobago.

Confira nesta sexta-feira a entrevista completa com o técnico Edson Tavares.

fonte: globo