Marcadores e criadores brasileiros são, em média, muito parecidos em idade, altura, peso e até número da chuteira
Por Alexandre Alliatti
Rio de Janeiro
1 comentário
Um volante brucutu, grandalhão, do tipo que só serve para desarmar, rouba a bola e olha para a frente, em busca de um meia habilidoso, mas frágil, daqueles que não conseguem marcar sequer uma formiga no gramado. É um clichê praticamente extinto no futebol brasileiro. Mesmo que as diferenças técnicas resistam, paira uma forte semelhança física entre marcadores e criadores no meio-campo. É o que revela pesquisa feita pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista “Monet” com mais de 300 jogadores das séries A e B do Campeonato Brasileiro.
O cruzamento dos dados dos jogadores das duas funções mostra que eles são parecidos. Quase gêmeos. Assemelham-se muito em média de altura, peso, idade, até número de chuteira. Sempre colados no campo, eles agora também estão próximos em seu molde físico.
Os números fornecidos pelos atletas indicam que os volantes são quase nada mais velhos (25,7 anos de média, contra 25,4 dos meias), mais altos (1,79m, contra 1,78m) e mais pesados (75,7kg, contra 74,4kg). Eles se aproximam até no número da chuteira. A média de ambos é 40,2.
Adaptação
Mesmo que o futebol brasileiro não tenha a tradição de jogar em linha no meio-campo, com todos os jogadores fazendo uma divisão quase igualitária das tarefas de combate e armação, os jogadores sentem a necessidade de se adaptar a ações que pertencem mais a seus colegas. Há casos de atletas que já passaram pelas quatro (ou cinco) funções do meio-campo. Um volante também é meia. Um meia também é volante. E a semelhança física entre um Juninho Pernambucano e um Marcos Assunção pode ser explicada por isso.
O colorado Guiñazu é um exemplo. O Inter foi seduzido pelo futebol do argentino quando ele defendia o Libertad, do Paraguai, em 2006. O jogador já tinha a capacidade da onipresença: parecia estar em tudo que é canto do campo. Mas exercia uma função mais avançada. Era o último jogador do meio-campo, o mais adiantado, o que mais se aproximava dos atacantes. Hoje, é muito mais marcador. Chegou a ser primeiro volante no Inter.
Quem fez parte da pesquisa | Quem não fez parte da pesquisa |
---|---|
América-RN, Atlético-GO, Atlético-MG, Atlético-PR, Barueri, Boa Esporte, Botafogo, Bragatino, Ceará, Corinthians, Criciúma, Flamengo, Fluminense, Goiás, Guarani, Guaratinguetá, Náutico, Ponte Preta, Portuguesa, Santos, São Caetano, São Paulo e Sport | ABC, América-MG, Avaí, Bahia, CRB, Cruzeiro, Figueirense, Grêmio, Internacional, Ipatinga, Palmeiras, Vasco e Vitória. Até o fechamento desta matéria, não estavam cumputados os votos de ASA, Coritiba, Joinville e Paraná, os últimos a chegar |
O atleta tem uma tese. Ele diz que como os volantes estão sempre marcando os meias, é interessante que tenham capacidades parecidas com as de seus adversários, inclusive em aspectos físicos.
- Estamos sempre no mano a mano com os meias. Temos que marcar. Se o meia sabe driblar, virar, frear, o volante tem que saber também. Hoje, são jogadores muito parecidos mesmo. Somos quase iguais. Acho que a semelhança vem aumentando nos últimos sete ou oito anos – opinou o camisa 5.
Ibson, Diego Souza, Kleberson, Tinga. Sobram casos de jogadores que mudaram seu jeito de atuar com a passagem dos anos – ou recuando, ou avançando: sendo volantes/meias. É o caso também de Renato Abreu, do Flamengo. Ele já jogou em todas as funções do meio, a exemplo de Guiñazu.
- Se você jogar mais avançado, como meia, recebe uma marcação mais forte. Aí tem que ter a percepção de resolver as coisas de uma maneira rápida. Como meia, tem que ter habilidade, precisão e vigor para voltar. Tem que fazer a composição. Não vai correr tanto para trás, mas vai ter que conseguir chegar. Como segundo volante, tem que ter um passe preciso. O início da jogada sai do primeiro ou do segundo volante, e é uma qualidade que você tem quando é meia, quando é aquele cara do penúltimo passe. Um segundo volante pode usar isso. É uma qualidade que não perde quando recua. Aí junta, em uma função mais de marcação, a qualidade que tem.
Guiñazu concorda. Ele diz que o efeito camaleão, com a capacidade de se adaptar, acaba sendo benéfico para o atleta.
- Você aprende coisas que são muito importantes. De quando eu jogava como meia, o que me serve hoje é a saída de bola. É dar o toque de primeira. Isso faz muita diferença. Isso ajuda muito. Tem que tocar a bola de primeira, em uma jogada rápida. Se você entrega mal a bola, se passa para um adversário, joga fora tudo que fez para roubá-la.
Os treinadores agradecem, segundo Renato Abreu. Ele cita o caso de Vanderlei Luxemburgo, quando o atual treinador do Grêmio ainda comandava o Flamengo.
- Eu sempre tive essa visão. São 15 anos em campo. O Vanderlei Luxemburgo usava muito isso de mudar o time sem fazer substituições. É muito importante. Nos tempos de Guarani, eu lembro que jogava ao lado do Martinez, que era o terceiro do meio e também era volante. Nós trocávamos de posição a toda hora – lembra o jogador rubro-negro.
É uma realidade da qual os jogadores não podem fugir: os meias precisam ajudar a marcar, e os volantes têm que auxiliar a criar. Quem não se adaptar, perde espaço, como alerta o santista Arouca.
- Hoje, no futebol, todos têm de marcar e jogar também, com qualidade. O futebol exige isso. Eu, graças a Deus, tenho essa característica – disse o jogador do Peixe.
Outros dados
Dos 334 jogadores que participaram da pesquisa, 56 foram volantes, e 47, meias. Uma curiosidade é que existem muito mais canhotos entre os meias do que entre os volantes. A perna esquerda é a preferencial de 42,6% dos jogadores de criação, contra apenas 10,7% dos marcadores.
Entre os meias, a maioria declarou ter 1,78m ou 1,79m. Já entre os volantes, sobressaíram-se os que têm 1,80m. Em peso, a maioria dos volantes tem 78kg, e a maior parte de meias tem 72kg.
Veja as demais matérias da série especial do Brasileirão:
Timão e Santos, os favoritos dos jogadores ao título
Náutico é o mais indicado como candidato ao rebaixamento
Neymar está em todas: é "o cara" do Campeonato Brasileiro
Jefferson ganha entre os goleiros preferidos dos atletas
Luis Fabiano: moral de goleador em disputa parelha
Morumbi não satisfaz Fifa, mas agrada jogadores
Paulo César de Oliveira é aposta para melhor árbitro
Corinthians e Flamengo: amados e odiados
Viagens são a maior reclamação dos jogadores
'Bando de loucos' do Corinthians é a torcida mais temida
Fenomenal: Ronaldo ganha com sobras como ídolo dos atletas
Meia Montillo é o gringo preferido dos jogadores
Domingos luta contra fama de atleta mais violento
Jogadores brasileiros sonham com a Espanha e acordam em Portugal
Ronaldinho Gaúcho, mesmo em má fase, segue como referência
fonte: globo