terça-feira, 22 de junho de 2010

França e África do Sul fazem duelo por honra e orgulho dos torcedores

Franceses querem apagar imagem arranhada por crise sem precedentes, enquanto sul-africanos buscam uma vitória para sua festiva torcida

Por João Paulo Garschagen Direto de Bloemfontein, África do Sul

Com as duas seleções com chances remotas de classificação, a partida entre França e África do Sul tinha tudo para ser um jogo sem muitos atrativos, no encerramento do Grupo A da Copa do Mundo. Mas a crise sem precedentes no time europeu, com direito a corte de jogador, boicote a treino, pedido de demissão de dirigente e intervenção do governo, fez com que os Bleus levantassem algumas questões que só serão respondidas quando a bola rolar: assim como em 2002, terminará o Mundial sem fazer um gol sequer? Os atletas atenderão às instruções do isolado técnico Raymond Domenech? O time se dedicará em campo na luta pela honra?

Alheia à torre de Babel francesa, está a seleção da África do Sul, próxima de gravar seu nome na história das Copas como a primeira anfitriã a ser eliminada na primeira fase. Ainda sem vencer no Mundial, a equipe do técnico brasileiro Carlos Alberto Parreira quer um triunfo a qualquer custo para, ao menos, dar à sua apaixonada torcida o doce sabor da vitória como uma última e boa impressão. A partida, que acontece às 11h (de Brasília), no estádio Free State, em Bloemfontein, tem transmissão ao vivo do GLOBOESPORTE.COM, da TV Globo e do Sportv.

Franceses em crise sem fim

A França chega para o jogo com um empate (0 a 0 com Uruguai) e uma derrota (2 a 0 para o México). Mas o maior problema é a crise provocada pelo desentendimento entre o técnico Raymond Domenech e o atacante Anelka.

Raymond Domenech coletiva FrançaApesar da turbulência, Domenech diz acreditar em
uma vitória francesa nesta terça-feira (Foto: EFE)

Depois vieram o corte do jogador, uma suposta discussão entre Ribéry e Gourcuff no avião, o desentendimento entre o capitão Evra e o preparador físico Robert Duverne, o boicote dos demais jogadores a um treino, o pedido de demissão do vice-presidente da Federação Jean-Louis Valentin e, por fim, a reunião tête-à-tête entre atletas e a ministra de saúde e esporte da França, Roselyne Bachelot.

Domenech, que após a Copa do Mundo será substituído no comando da equipe francesa pelo ex-zagueiro Laurent Blanc, capitão da equipe campeã do mundo em 1998, lamentou o incidente e colocou nas mãos dos jogadores a responsabilidade de reconstruírem a arranhada imagem da equipe.

- Tenho jogadores nos quais confio, mas, a essa altura, confiança não é o que mais importa. O que interessa é que sejam eficientes. Caberá a eles mostrar no campo que o que passou, passou e que eles são responsáveis. Terão que fazer o melhor possível e não há nada que nos impeça de ainda sonhar com a classificação – declarou o treinador nesta segunda-feira.

A crise no futebol francês chegou ao governo. O presidente Nicolas Sarcozy solicitou à ministra Roselyne Bachelot que cobrasse dos jogadores comprometimento com uma causa nacional. Bachelot esteve com o grupo e, apelando para valores como honra e reputação, disse ter arrancado lágrimas dos atletas.

- Olhei nos olhos de cada um deles e disse: "está nas mãos de vocês que os nossos filhos continuem a vê-los como heróis. Para alguns ou muitos de vocês este será, provavelmente, o último jogo em uma Copa do Mundo. Um jogo de Copa do Mundo todos sonharam quando eram crianças" – disse a ministra.

Africanos buscam vitória para dar orgulho aos torcedores

Na África do Sul, o técnico Carlos Alberto Parreira tratou de dizer que a crise francesa em nada ajudará a sua equipe.

- É importante para eles ganharem o jogo. Estão representando o país, estão sendo visto pelo mundo todo. É uma coisa negativa, sim, mas não podemos levar isso a nosso favor porque na hora que a bola rola isso não entra em campo – disse o treinador brasileiro.

Parreira técnico África do Sul em coletivaParreira quer uma vitória marcante sobre a França
(Foto: Joao Garschagen / Globoesporte.com)

Contando com uma aguerrida França na luta pela honra, Parreira disse que fará cinco mudanças em relação ao time que perdeu por 3 a 0 para o Uruguai. Duas são caso de suspensão: o goleiro Khune, expulso contra os uruguaios, e o volante Dikgacoi, com dois cartões, dão lugar a Josephs e Khuboni, respectivamente. As demais alterações, o treinador guarda como segredo.

Mas para o técnico dos Bafana Bafana, mais do que qualquer esquema tático, os sul-africanos que entrarem em campo terão que estar focados em uma vitória que grave o nome dos jogadores no coração da torcida, que torceu e se envolveu como poucas nesta Copa do Mundo.

- Queremos o resultado, queremos a vitória, que vai marcar. No futuro, vão comentar a vitória sobre a França, é importante ganhar e deixar uma boa impressão. O povo vai ficar frustrado, mas de um modo geral estão apoiando o time, já estão orgulhosos – declarou o treinador.

França e África do Sul tem cada uma um ponto no grupo A. Para chegar à classificação, as equipes precisam de uma goleada diante do rival e ainda torcer para que o jogo entre México e Uruguai não termine empatado. Missão difícil. Mais fácil é a luta de uma pela honra e da outra pelo orgulho.

FONTE: GLOBO