Chegada de sheik e contratação do brasileiro há dois anos surpreenderam
o mundo. Time, no entanto, só se candidata ao título R$ 875 milhões depois
A crise econômica mundial estava prester a atingir o seu ápice quando uma fortuna árabe invadiu a Inglaterra no fim de agosto de 2008. O Manchester City, que por muitas vezes viveu à sombra do rival United, fora comprado por cerca de R$ 600 milhões com o objetivo de se tornar uma potência. O escolhido para começar a "nova era" foi Robinho, até hoje a maior contratação da história do futebol inglês. Dois anos depois e sem nenhum título, o "Rei das Pedaladas" foi embora sem deixar saudades. E o clube abriu o cofre novamente para chegar ao topo.
O início: agosto de 2008
A não ser que você seja um grande fã da banda inglesa Oasis, que tem os irmãos Liam e Noel Gallagher como símbolos do fanatismo, não seria exagero dizer que foram as altas cifras os responsáveis por colocar os Citizens no mapa do futebol. E a figura emblemática de todo o processo é brasileira. Um dia após a venda do clube para o Abu Dhabi United Group, ligado à família real dos Emirados Árabes, o City anunciou a contratação de Robinho, ex-Real Madrid, por R$ 88 milhões – e que depois sairia por menos da metade do preço. Surpresas em dobro para todos.
– Eu estava sentado na minha cama em um hotel quando vi tudo. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Robinho no City? Foi louco. Não sabia se era tudo real ou se estava escolhendo jogadores para o meu vídeo game. Nunca vou esquecer daquela noite – disse o meia Shaun Wright Phillips, formado nas divisões de base do clube, ao “Daily Mail”.
O meio: R$ 875 milhões em contratações
Robinho (Real Madrid) | R$ 88 milhões (2008/2009) |
Carlos Tevez (Manchester United) | R$ 82 milhões (2009/2010) |
Emanuel Adebayor (Arsenal) | R$ 78,8 milhões (2009/2010) |
Yaya Touré (Barcelona) | R$ 76 milhões (2010/2011) |
Mario Balotelli (Inter de Milão) | R$ 68 milhões (2010/2011) |
Além do atacante brasileiro, outros 22 jogadores chegaram nos últimos dois anos graças ao altíssimo investimento feito pelo sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan. Entre eles, nomes importantes como Tevez, Adebayor, Yayá Touré e David Silva, inimagináveis antes da transação. O que deixa a conta, pelo menos até janeiro, em exorbitantes R$ 875 milhões (aproximadamente R$ 1,2 milhão por dia). Cada um dos 16 gols de Robinho, por exemplo, custou R$ 7,6 milhões.
City custou R$ 7,6 milhões (Foto: Getty Images)
Mas o rombo financeiro poderia ter sido ainda maior. Em janeiro de 2009, Kaká viu sua carreira pesar mais na balança e rejeitou uma oferta do City de R$ 360 milhões. Na atual temporada, os gastos com transferências são um pouco mais comedidos e correspondem a R$ 339 milhões, cerca de 1/3 de todo o país no mercado.
Ainda sem resultados significativos nos dois primeiros anos, a expectatitva é de que a “parceria” possa enfim render em campo. Após o 10º lugar em 2008/2009 e a 5ª posição em 2009/2010, com a vaga na Liga dos Campeões escapando no fim, os torcedores exigem conquistas. Muitos deles não viram os dois títulos de Campeonato Inglês, em 1967/1968 e 1936/1937.
– Quando eu cheguei a primeira palavra que falaram foi “projeto”. Como a construção de um prédio, devagarzinho, e que em dois anos estaria pronto. É o que acontece agora. A torcida já está cobrando, pois sabe do nosso potencial. Despertamos esse sonho neles e é natural que nos imaginem no ano que vem com a vaga na Champions ou até campeoões – disse o brasileiro Jô, que atuou nas primeiras partidas do City na Premier League.
O fim: será que vai dar certo?
O técnico Roberto Mancini, de fato, tem mais opções que seu antecessor Mark Hughes (veja abaixo a análise tática feita por André Rocha). O sistema defensivo ganhou os reforços do lateral-esquerdo sérvio Aleksander Kolarov e do defensor alemão Jérome Boateng, que a princípio deverá ser utilizado na lateral direita. Yayá Touré, ex-Barcelona, chega para ser o volante com o maior salário do país.
Para a frente, vieram o meia James Milner e o atacante Mario Balotelli, contestado por se envolver em mais polêmicas do que comemorações. Apesar da quantidade e relativa qualidade, os especialistas ainda não veem sucesso para o Manchester City.
apresentados pelo técinco Roberto Mancini (AFP)
– Acho que bons jogadores foram contratados por muito dinheiro. Dessa vez agiram com mais consciência do que nas outras temporadas, mas não creio que o time vai dar liga. Ainda não é esse ano. Mas deve pegar uma vaga na Liga dos Campeões, senão o navio naufraga – disse o comentarista Lédio Carmona.
– Aconteceu de novo aquele negócio do novo rico que não sabe gastar dinheiro. Não vale pagar 30 milhões de euros pelo Yaya Touré, muito menos pelo Balotelli. Não tiveram estilo para gastar, é como aquela pessoa que vai ao shopping e compra tudo o que vê. O Tevez leva o time nas costas, mas não é um time com uma escalação clara – afirmou Décio Lopes.
Opinião semelhante compartilha o atacante Didier Drogba, do atual campeão Chelsea.
– Dinheiro não garante sucesso no futebol. Eles (City) têm um melhor elenco agora e serão perigosos, mas é muito cedo para julgar suas chances – contou.
Resta saber até onde o Manchester City pode ir.
fonte: globo