Presidente santista se sente traído por Dorival, que não seguiu script escrito pela diretoria. Ivan Izzo e outros técnicos convenceram treinador a se rebelar
O presidente do Santos, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, decidiu pela dispensa do técnico Dorival Júnior porque se sentiu traído pelo treinador, a quem sempre elogiou com empolgados adjetivos desde que o contratou, em dezembro de 2009. O mandatário alvinegro acreditava que a polêmica envolvendo o técnico e o atacante Neymar havia se encerrado no último sábado, quando conversou com Dorival no CT Rei Pelé.
No entanto, o treinador fugiu do script. Não quis passar por "banana", negou-se a participar do que qualificou como "um circo" a amigos. Em vez de anunciar que o camisa 11 estava liberado para atuar contra o Corinthians, nesta quarta-feira, como havia ficado combinado, ele se rebelou. Aconselhado por seu auxiliar, Ivan Izzo, além de outros treinadores que lhe telefonaram nos últimos dias, manteve o veto ao jogador, que o havia desrespeitado na quarta passada, durante jogo contra o Atlético-GO, e pagou para ver. Deu um susto na diretoria, que não esperava por essa atitude, e perdeu o cargo.
- Ele cuspiu na cara do Luis Alvaro - comentou um membro da diretoria santista ainda antes da confirmação da demissão do técnico.
A indignação deu o tom das conversas entre os dirigentes na reunião que entrou pela madrugada de quarta-feira, no CT Rei Pelé. Todos chegaram ao local fechados: Dorival estava fora. Luis Alvaro, que se internaria nesta terça-feira à noite, em São Paulo, para ser submetido a uma cirurgia plástica, participou da conversa por teleconferência. Profundamente irritado e decepcionado, de acordo com seus assessores, ele deixou claro que não aceitava nenhum outro tipo de solução que não fosse a saída do treinador.
Mas havia a questão da multa rescisória e a reunião só demorou por causa disso. Como Dorival não abria mão de receber os R$ 2 milhões estipulados em contrato, chegou-se a cogitar uma saída que seria, no mínimo, esdrúxula: afastá-lo do comando da equipe, por tempo indeterminado, e reintegrar Neymar. Seria uma forma de forçar o técnico a pedir para sair. Ao mesmo tempo, deixaria Dorival numa posição humilhante: ele acabaria cumprindo a pena que queria para o atleta. Isso dá uma mostra de como a diretoria estava irritada com o técnico.
No entanto, Dorival acabou demitido. E, surpreendentemente, a diretoria do Santos afirma em comunicado oficial que o treinador abriu mão de receber a multa a que tem direito.
A gota d’água
O piti de Neymar durante jogo contra o Atlético-GO acabou sendo a gota d’água que fez transbordar a paciência de Dorival e de sua comissão técnica. Até então, o treinador fazia vistas grossas a atos de indisciplina cometidos pelo jogador. Atrasos, desrespeito aos adversários (Dorival puxou as orelhas de Neymar seguidas vezes por causa dos chapéus com jogo parado), às normas do clube (funcionários do CT relatam que o garoto muitas vezes desrespeitou o horário de recolhimento nas concentrações no hotel Recanto dos Alvinegros, mantendo o som em volume alto depois das 23h), tudo era relevado. Dorival protegia o garoto das críticas. Por isso, também se sentiu traído. Quando chamou o ex-protegido de "moleque", no sentido mais pejorativo do termo, ainda durante confronto contra o Dragão, acabou com qualquer possibilidade de reaproximação.
Enquanto a “irreverência” do jogador não lhe atingiu, Dorival deixou passar. No momento em que ele foi diretamente atingido, resolveu agir.
O auxiliar e os veteranos
O auxiliar-técnico Ivan Izzo, homem de confiança de Dorival Júnior, foi um outro protagonista dessa polêmica. Um participante silencioso, mas nem um pouco coadjuvante. Enquanto Neymar e Dorival ficaram sob os holofotes, Izzo foi ator principal nos bastidores, fazendo a cabeça do técnico e dos jogadores mais velhos do Peixe.
Ele teve uma ríspida discussão com Neymar no vestiário da Vila Belmiro após jogo contra o Atlético-GO. A confusão começou porque Ivan foi tomar as dores de Dorival. Neymar disse que reagiu daquele jeito porque não aceitava ser chamado de moleque. O auxiliar, então, afirmou que ele estava agindo como um. Nesse instante, o camisa 11 atirou um copo de isotônico no chão, perto do auxiliar, que acabou atingido pelos respingos do líquido. Ele foi para cima do jogador, mas foi contido em cima da hora.
A partir desse instante, o auxiliar começou a trabalhar a barração de Neymar. Foi ele quem convenceu Dorival a não se dar satisfeito com a multa aplicada ao jogador. Izzo também fez a cabeça dos jogadores experientes do elenco. Muitos também não engoliam certas atitudes da estrela. O zagueiro Edu Dracena ficou ao lado do técnico em toda a novela. Em vários momentos, chegou a fazer críticas, ainda que de forma velada, ao atacante, por causa do excesso de firulas. No fatídico jogo contra o Atlético-GO, Edu, na condição de capitão do time, deu uma bronca em Neymar, por causa dos dribles sem objetivo. Ouviu vários insultos.
Ainda na noite da última terça-feira, quando ficou selada a demissão de Dorival, Edu foi ao CT para se despedir do ex-chefe.
Agora, a preocupação da diretoria é fazer com que esse episódio não crie um racha entre os garotos e os jogadores mais velhos.
fonte: globo