Duelos entre Bayern, Barça, Borussia e Real podem servir de parâmetro na medição de forças de duas das maiores potências do futebol atualmente
Por Victor Canedo
Rio de Janeiro
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Além de disputarem vaga na final da Liga dos Campeões da Europa, os gigantes Bayern de Munique, Barcelona, Borussia Dortmund e Real Madrid põem frente a frente nas semifinais que começam nesta semana duas das principais potências do futebol mundial nos últimos anos. Espanhóis e alemães medirão forças de novo, travestidos com as cores de seus clubes mais poderosos, líderes de suas ligas.
Neuer, Lahm, Hummels, Boateng e Schmelzer; Schweinsteiger e Gündogan; Müller, Götze e Reus; Mario Gómez. Valdés, Arbeloa, Sergio Ramos, Piqué e Alba; Busquets, Xabi Alonso e Xavi; Pedro, Villa e Iniesta. Há muito em comum entre os 22 nomes - e que poderiam ser mais de 30. Eles fazem parte de um esboço das seleções de Alemanha e Espanha escaladas apenas com jogadores disponíveis nos quatro semifinalistas. O triunfo no saldo final do confronto parece ser uma chance a mais de afirmação para os países no ano que antecede a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Quem reconhece isso é o próprio treinador da Fúria.
- Seria estupendo uma final entre Real Madrid e Barcelona, porque a maioria dos jogadores compõe a seleção nacional. Um confronto entre eles seria um feito a mais para o futebol espanhol - disse Vicente Del Bosque, treinador da Fúria em evento do Comitê Olímpico Espanhol na semana passada.
Tudo bem que o sentimento de patriotismo em si não é um bom exemplo para ilustrar a Espanha, onde catalães ainda mantêm os ideais separatistas contra o resto do país. Uma das raras exceções é quando os atletas do Barcelona vestem a camisa da Fúria. Maioria na seleção, esses jogadores se tornaram fundamentais no sucesso absoluto do futebol espanhol nos últimos anos cinco anos, período em que a seleção conquistou duas Eurocopas e uma inédita Copa do Mundo.
Entre as seleções, vantagem da Fúria no retrospecto recente
É aí que entra a Alemanha. Em 2008, no primeiro título da atual geração, a equipe de Joachim Löw chegou à decisão da Eurocopa com grande peso e favoritismo, mas sucumbiu ao talento dos espanhóis numa final em que o 1 a 0 ficou barato. O mesmo placar voltaria a se repetir na Copa do Mundo da África do Sul, quando alemães pouco ameaçaram a meta de Casillas na semifinal, mesmo depois de fazerem oito gols nos confrontos anteriores contra Inglaterra e Argentina. Natural que no torneio continental de 2012 o duelo fosse dos mais aguardados, mas a Itália de Balotelli impediu que ambos se reencontrassem.
Quis o destino, então, que o duelo tivesse continuidade entre os clubes antes de um possível confronto durante a Copa do Mundo de 2014, desta vez para brasileiros desfrutarem de duas das melhores escolas de futebol na atualidade - e que ao menos no âmbito coletivo estão num estágio de evolução à frente da Seleção.
Se o retrospecto se mantiver na Champions, a probabilidade de um novo Alemanha x Espanha na finalíssima de Wembley, no dia 25 de maio, é grande. Até hoje, apenas três decisões foram entre times do mesmo país: em 1999/00, o Real Madrid derrotou o Valencia por 3 a 0, no Stade de France. Na edição de 2002/03, o Milan superou o Juventus nos pênaltis, por 3 a 2, após empate por 0 a 0 em 120 minutos de partida no Old Trafford. E mais recentemente, em 2007/08, o Manchester United também precisou da das penalidades máximas para ser campeão diante do Chelsea, ganhando por 6 a 5 após o placar de 1 a 1 ao fim da prorrogação, em Moscou.
'Infiltrados'
Há, porém, as ironias que permeiam o futebol. De um lado e do outro, existem aqueles que defendem as cores dos clubes do país adversário. Özil e Khedira são titulares da seleção alemã e defendem o Real Madrid desde o fim da Copa de 2010. No Bayern, é o volante Javi Martínez, comprado por € 40 milhões (cerca de R$ 104 milhões) ao Athletic Bilbao no início da última temporada, que representa o rival entre os germânicos. A partir de julho, Guardiola é quem entrará na lista de 'infiltrados', ao assumir o comando técnico dos bávaros.
Apesar da boa fase que norteia as trajetórias de ambos os países ultimamente, o técnico da seleção alemã, Joachim Löw, não acredita num largo domínio que mereça muita atenção.
- O que vemos hoje é uma imagem de um momento. Para se decidir quem predomina o futebol mundial, requer vários anos. Tenho certeza que as equipes inglesas como o Manchester United e Chelsea vão estar de volta nas cabeças. E os italianos têm melhorado nos últimos dois ou três anos. Não se esqueça de Paris Saint-Germain. Portanto, não se pode presumir que os alemães e times espanhóis vão dominar a Liga dos Campeões nos próximos anos - disse o técnico em entrevista ao "Die Welt" na última semana.
Modelos de ligas distintos
Löw tem em mente que as semifinais atuais não se tratam de uma exceção, mas sabe que principalmente os alemães têm fortes concorrentes. Tanto o Bayern quanto o Borussia ou qualquer outro candidato precisará se manter saudável economicamente para atingir seus objetivos. A Alemanha tem como fama punir os clubes que não respeitam os limites financeiros, algo que a Uefa propõe ainda em fase embrionária com o Fair Play Financeiro - apenas o Málaga foi penalizado até o momento, embora uma ação na Justiça tente reverter a decisão da entidade. No caso do PSG, então, dinheiro não parece empecilho com as contratações de tantas estrelas num curto espaço de tempo.
Tampouco Real Madrid e Barcelona sofrem do mesmo problema. E o que chama atenção na dupla é o faturamento – grande parte pelos direitos de televisão no Campeonato Espanhol. Na temporada 2011/2012, os dois arrecadaram € 140 milhões cada (cerca de R$ 364 milhões), liderando com imensa folga para o terceiro colocado (Valencia, com € 46 milhões, por volta de R$ 120 milhões). As equipes de Cristiano Ronaldo e Messi representam 55% do total acumulado em receitas, número muito superior aos 30% de Bayern e Borussia na Bundesliga, por exemplo.
O abismo na liga espanhola é ainda mais visível quando se pega a lista dos últimos campeões: foram 24 títulos de Real e Barça em 28 torneios desde 1984/85 - apenas Atlético de Madri, La Coruña e Valencia, duas vezes, tiveram o privilégio de levantar o caneco. Por outro lado, na Alemanha, apenas na década passada, cinco times conquistaram o título, muito embora Bayern e Borussia tenham dominado as competições em geral no país desde 2009/10.
Toda essa promessa de espetáculo de poderio futebolístico começa a se concretizar na próxima terça-feira. Bayern de Munique e Barcelona se enfrentam, na Allianz Arena, a partir de 15h45m (de Brasília). A TV Globo transmite ao vivo o confronto, e o GloboEsporte.com começa a cobertura em vídeo às 14h30m. No dia seguinte, Borussia Dortmund e Real Madrid começam a medir forças no Signal Iduna Park, também ás 15h45m, com acompanhamento em Tempo Real no site.
Confira o retrospecto dos quatro semifinalistas da Champions:
BAYERN DE MUNIQUE
Participações em semifinais: 9 vitórias e 5 derrotas
Última participação nas semifinais: 2011/12 (eliminou o Real Madrid)
Campanha na atual edição da Liga dos Campeões: 7V, 1E, 2D (22 gols pró, 10 gols contra)
Artilheiro do time no torneio: Thomas Müller, 5 gols
BARCELONA
Participações em semifinais: 6 vitórias e 7 derrotas
Última participação nas semifinais: 2011/12 (foi eliminado pelo Chelsea)
Campanha na atual edição da Liga dos Campeões: 5V, 3E, 2D (18 gols pró, 10 gols contra)
Artilheiro do time no torneio: Messi, 8 gols
BORUSSIA DORTMUND
Participações em semifinais: 1 vitória e 2 derrotas
Última participação nas semifinais: 1997/98 (foi eliminado pelo Real Madrid)
Campanha na atual edição da Liga dos Campeões: 6V, 4E, 0D (19 gols pró, 9 gols contra)
Artilheiro do time no torneio: Lewandowski, 6 gols
REAL MADRID
Participações em semifinais: 12 vitórias e 11 derrotas
Última participação nas semifinais: 2011/12 (3-3 no total frente ao Bayern de Munique, 1-3 no desempate)
Campanha na atual edição da Liga dos Campeões: 5V 3E 2D 23GM 14GS
Artilheiro do time no torneio: Cristiano Ronaldo, 11 gols
FONTE: GLOBO