quarta-feira, 5 de novembro de 2008

LEMBRA DELE? Ex-bad boy Vágner supera depressão e quer virar dirigente


Volante que defendeu Santos, Vasco e São Paulo levanta suspeita sobre Brasileiro de 95, se arrepende das polêmicas e projeta se formar

Vágner em ação pelo Celta-ESP
Craque, temperamental e polêmico. Não, não estamos falando de Edmundo, Romário ou Marcelinho Carioca. Adorado pelas torcidas dos times por onde passou pelos lances de rara habilidade que fazia mesmo sendo um jogador de marcação, o ex-volante Vágner tenta encontrar uma nova vida. Quatro anos depois de pendurar as chuteiras por causa de uma artrose no joelho esquerdo, o jogador quer esquecer os dias de “bad boy” para sonhar com a carreira de dirigente profissional de futebol. - Não sei se me arrependo da maneira como conduzi as coisas.


Mas, se não fosse tão rebelde e, sim, o mocinho da história, tudo poderia ter sido diferente. O meu segredo era arrumar uma confusão com a imprensa para me motivar. Adorava que falassem que eu não joguei nada. Aí, na outra partida, eu arrebentava. Era minha motivação. Você pode ser um fenômeno jogando, como eu era.


Mas, sem tranqüilidade e serenidade, não dá certo - lamenta, aos 35 anos. Apesar de ter atuado por grandes clubes, Vágner garante que não fez fortuna com o futebol, nem mesmo nas passagens pela Europa. Depois que parou de jogar, em 2004, vendeu todas as propriedades que tinha. Com o montante que acumulou, recebe uma "mesada" dos bancos, no qual sustenta a família, que mora em Vigo, na Espanha.

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- A gente não precisa de muito para viver. Adquiri algumas coisas e fiz uma poupança legal. Na minha época, o futebol estava em transição, não peguei essa fase dos milhões. Hoje, qualquer atleta ganha R$ 400 mil. Eu nunca recebi nem a metade disso. Mas estou vivendo muito bem – conta.

O retorno ao Brasil, porém, deve acontecer até 2009 para a realização de um sonho: terminar as faculdades de jornalismo e administração, que trancou no primeiro ano. Depois, longe das polêmicas, se transformar em dirigente seja no Brasil ou no exterior. - Eu me casei com uma espanhola. Por ela ser de lá e também pela qualidade de vida, optei por ficar na Europa. Mas quero ver se ano que vem eu volto para terminar os cursos. Não quero ser treinador e, sim, diretor. E também não precisa ser no Brasil. Se a chance vier na Europa, vou encarar – diz o ex-volante, que fica em Londrina, interior do Paraná, quando está no país.

A depressão após se despedir dos gramados
Agência/Reuters
Vágner continua morando em Vigo-ESP
Vágner, aliás, não guarda boas lembranças do futebol europeu. Entre 1997 e 1998, teve uma passagem discreta pelo Roma-ITA. De 2000 a 2004, viveu o grande drama da carreira no Celta-ESP. Uma artrose mal cuidada pelo departamento médico do clube, segundo ele, fez o jogador encerrar a carreira pouco antes de fazer 31 anos. Pelo problema, recebe até uma aposentadoria por invalidez na Espanha. - Na Europa, você só faz a recuperação de uma lesão quando tem treino. Se o time não treina, você não se trata. Não existe uma fisioterapia adequada. Eles querem dar apenas medicamentos e fazer infiltrações. Isso acabou comigo. Não tenho mais a cartilagem do joelho. Por te pagarem mais, os dirigentes acham que podem te explorar e não olham seu condicionamento - recorda.

A fase calma de agora contrasta com os momentos vividos em 2004, pouco depois de receber dos médicos a notícia de que não tinha mais condições de jogar. Vágner estava treinando no Atlético-MG, mas tinha tudo acertado com o São Paulo para disputar a Taça Libertadores quando soube que não poderia voltar aos gramados. Aposentado repentinamente, o jogador entrou em depressão.

- Foram momentos de muito sofrimento. Não tinha vontade de sair de casa, não tinha vontade de falar com as pessoas. Fui me fechando no meu próprio mundo. Achava que todo mundo queria me ver pelas costas. Felizemente, superei isso com a ajuda da minha família e de Deus.

Foi no Brasil que Vágner viveu seus melhores momentos. Revelado pelo Arapongas-PR, passou por Paulista-SP e União São João-SP até chegar ao Santos, em 1995. Ao lado de Edinho, Giovanni, Macedo e Jamelli, levou o Peixe à decisão do Campeonato Brasileiro. Uma suspensão dias antes do segundo jogo da final, entretanto, faz o jogador levantar suspeitas sobre um esquema para favorecer o Botafogo, adversário na finalíssima. Dentro de campo, o árbitro Márcio Rezende de Freitas anularia um gol em posição legal de Camanducaia, validaria outro em impedimento de Túlio e os cariocas sairiam do Pacaembu com o inédito título nacional. - Fui expulso durante a primeira fase por segurar o Sávio em um jogo contra o Flamengo, no Maracanã. Depois de muito tempo, fui para julgamento exatamente na sexta-feira anterior à final. Como peguei a punição, não pude jogar, assim como o Gallo (volante e atual técnico). Sei que fizemos falta. No jogo, todo mundo viu o que ele (Márcio) fez. O cara estava mal-intencionado. Acho que aquilo estava tudo armado – acusa.

O título da Libertadores no Vasco e as polêmicas no São Paulo

Em 97, Vágner foi negociado com o Roma-ITA, mas permaneceu por lá apenas um ano. Na temporada seguinte, acabou emprestado ao Vasco, onde conquistou a Taça Libertadores jogando como lateral-direito. Mas, por teimosia e rebeldia, optou por não seguir os conselhos do técnico Antônio Lopes. - O Vítor se machucou, e o treinador não tinha outro para a posição. Então, me colocou, e fui bem. Ele (Lopes) me dizia que eu iria para a seleção brasileira na lateral. Mas aquela não era a minha posição. Eu achava que estaria me rebaixando se mudasse de setor só para ser convocado. Queria ir como meio-campista. Aquela conquista da Libertadores foi muito marcante, algo especial - diz.


Do Rio de Janeiro, Vágner foi emprestado ao São Paulo para viver uma das fases mais brilhantes e polêmicas de sua carreira. Em 2000, conquistou o Campeonato Paulista vencendo seu ex-time, o Santos. Meses depois, ficaria fora dos dois jogos da decisão da Copa do Brasil frente ao Cruzeiro. O Tricolor precisaria comprar o passe dele do Roma para mantê-lo, mas um atrito com o técnico Levir Culpi dificultou a permanência.


- O Levir queria levar o Ricardinho (ex-Cruzeiro) para o São Paulo, já que dizia que eu não fazia gols. Ficou um clima ruim entre nós. Como ele não brigou para que eu ficasse, também não briguei por ele. O São Paulo teve o ano todo para me comprar e deixou para a última hora. Quando veio acertar os salários comigo, eu pedi mais. Era um direito que tinha. Como o Roma não quis me emprestar outra vez, fui para o Celta. Mas queria muito fazer parte da história do São Paulo. Venceríamos a Copa do Brasil comigo – projeta.

A crise com Leão na seleção e o adeus ao sonho de ir à Copa

Levir Culpi não foi o único treinador com quem Vágner entrou em rota de colisão. Pouco tempo depois, em 2001, finalmente teve a oportunidade de ser convocado para a seleção brasileira. O sonho, contudo, virou pesadelo nas mãos de Emerson Leão, durante trágica campanha na Copa das Confederações. No primeiro jogo, contra Camarões, Vágner foi escalado pelo treinador para jogar como armador. No intervalo, não resistiu: pediu para deixar a equipe por não estar conseguindo se adaptar à nova função. Nunca mais voltou. - Ele me colocou como ponta-direita praticamente e eu o cobrei dizendo que não estava acostumado naquela função. A dupla de volantes era Fábio Rochemback e Leomar.


Com todo respeito a eles, todo mundo queria ver jogarem Vágner e Vampeta. Não foi a oportunidade que eu esperava. Admiro o Leão e queria ter ajudado mais. Sei que foi ali que ele perdeu o emprego - ressalta. Vágner acredita que o problema o prejudicou em uma possível chance com Luiz Felipe Scolari, substituto de Leão logo após a competição. Fim do ciclo com a camisa amarela e do sonho de disputar uma Copa do Mundo. - Eu só falei aquilo para o Leão porque queria muito ganhar uma Copa. Com certeza, o Scolari ficou sabendo da minha rebeldia e não poderia aceitar coisas erradas ainda mais naquele momento que a situação passava. Essa é a maior frustração da minha carreira – completa.