terça-feira, 30 de março de 2010

Luiz Carlos Barreto: 'Armando é que nem Garrincha e Pelé. Toque de eternidade'

Companheiros em coberturas de Copas do Mundo, cineasta revela que dá de presente para os netos textos do poeta do jornalismo esportivo

Luiz Carlos Barreto: parceria com o mestre Armando Nogueira vai deixar saudades

Amigos há mais de meio século, Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto costumavam dividir quartos quando eram setoristas da seleção brasileira. No Maracanã, a dupla foi responsável por realizar uma das primeiras entrevistas com Pelé, então um garoto de 16 anos. Fora de campo, havia a identificação de dois estudantes pobres que migraram do Acre e do Ceará, respectivamente, para o Rio de Janeiro.

Para ressaltar a importância do mestre, Barreto revelou que costuma dar de presente para os netos textos de Armando Nogueira.

- O Armando é que nem Garrincha e Pelé. Ele tem aquele toque de eternidade. O texto dele devia ser adotado em todas as escolas brasileiras. Foi uma pessoa que revolucionou o jornalismo na televisão. Não só na linguagem escrita, como na visual. Ele foi mais que um cronista. Pode ser considerado um pensador da sociedade nacional. O Armando não era monocórdio. Escrevia bem sobre futebol, basquete, vôlei e tênis. Também exaltou mulheres como, por exemplo, a Paula, a Hortência e a Isabel - garantiu o cineasta, que teve o prazer de trabalhar junto com Armando Nogueira na elaboração do filme "Garrincha, a alegria do povo".

A amizade entre os dois começou em 1953, nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1954, e estendeu-se até poucos dias antes do falecimento do jornalista. Apesar de no início terem trabalho em veículos concorrentes - Armando, no "Diário Carioca", e Barreto, na revista " O Cruzeiro"-, a relação entre ambos era cordial.

- Foi amor à primeira vista (risos). Cobrimos juntos as Copas do Mundo de 1954, 58 e 62. Lembro-me de que na Suécia nos encontramos com um grupo de jornalistas brasileiros e fomos a uma sauna na expectativa de vermos mulheres nuas. Mas, chegando lá, era tudo separado. Homens pelados de um lado e mulheres do outro. A turma ficou revoltada e queria pegar o dinheiro de volta. O Armando amenizou o clima, pedindo para todos esperarem o segundo tempo. Então, aguardamos mais um pouco e acabamos ficando na saudade - contou, às gargalhadas, o cineasta.


Luiz Carlos Barreto não se esquece de quando ele e Armando Nogueira entrevistaram o Rei Pelé pela primeira vez. O outrora garoto de 16 anos esbanjou confiança e deu uma pista do que viria a se transformar um dia no futebol.

Coroa de flores enviada por Pelé ao velório

- O Armando perguntou: "Em quem você se inspirou para jogar tão bem?" E Pelé respondeu: "Em mim mesmo". "Quem é seu ídolo?" E o menino: "Dondinho, meu pai". "Quem é o melhor jogador do Brasil?" E o jogador do Santos disse: "Eu". Então, o Armando disparou: "Você ainda não é. Mas vai ser o maior.". Essa entrevista ficou marcada na memória do Pelé. Até hoje ele lembra dessa conversa - afirmou Barreto.

Os ministros do Esporte, Orlando Silva, da Comunicação, Hélio Costa, e da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, chegam ao Rio de Janeiro nesta terça-feira, às 9h. Eles vão direto para o velório de Armando Nogueira no Maracanã. Em seguida, seguirão para o sepultamento, às 12h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul da cidade. Entre políticos, clubes de futebol e personalidades, o jornalista recebeu cerca de 50 coroas de flores com homenagens. Armando faleceu na manhã desta segunda-feira, aos 83 anos, vítima de um câncer no cérebro.

FONTE: GLOBO