domingo, 28 de março de 2010

Petkovic: 'O pior do Flamengo são seus dirigentes'

Meia diz que sua permanência na Gávea é difícil

Jogador recebeu nossa equipe no seu escritório (FOTO: Pedro Kirilos)

Jogador recebeu nossa equipe no seu escritório (FOTO: Pedro Kirilos)

Carlos Monteiro
Carlos Monteiro RIO DE JANEIRO
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Erich Onida
Erich Onida RIO DE JANEIRO
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Sentado à mesa em seu escritório, na Barra, de onde comanda seus outros negócios, Petkovic, laptop Macintosh à frente, recebeu a equipe de reportagem do LANCE! para uma entrevista exclusiva. Com sinceridade impressionante, falou abertamente sobre tudo. Da polêmica suspensão imposta por Marcos Braz, vice de futebol, aos recentes episódios com Adriano e Vagner Love, passando pelo orgulho de ser rubro-negro, Pet admitiu estar desconfortável no clube e decepcionado. O sérvio revelou que encerrará a carreira no fim de 2011 e que a vontade de permanecer no clube não é mais a mesma.

CARLOS MONTEIRO: Em recente entrevista, Andrade comentou que você está menos participativo e que não teria motivo para estar magoado. Você mudou mesmo?

PET: Fiquei decepcionado, mas mágoa não guardo. Quando se trata de mim, as pessoas preferem levar tudo à imprensa do que falar comigo. Se o Andrade tinha algo para me dizer, teria de falar comigo e não com a imprensa. Mas isso não aconteceu. Quando dou entrevista não emito opinião sobre as pessoas. Falo do grupo, do clube, que é o que verdadeiramente interessa.

CM: Seu relacionamento com o Andrade mudou, então?

PET: Ano passado, ele conversava muito comigo, mas este ano, nada. Não tivemos nenhuma briga. Não entendo o motivo. Não me meto porque vi que não sou mais consultado para nada. Ano passado ele me consultava bastante. Se estou diferente é porque não há mais liberdade. Então me limito a fazer o meu trabalho dentro de campo. É uma coisa lógica: se dou abertura, a pessoa vem falar comigo e, se a pessoa me dá abertura, vou falar com ela.

ERICH ONIDA: Há jogador que se incomoda com o banco e com ser substituído. Como você se enquadra nessa questão?

PET: Já sentei no banco, entrei, fiz gol, sentei de novo. É normal. Mas por que sou o único que senta no banco? Por que sou o único a ser substituído sempre? Vocês lembram qual foi a última vez que joguei os 90 minutos? Foi contra o São Paulo, no ano passado. Não sei porque acontece isso. Sou substituído sempre, até quando arrebento com o jogo. Estou contando os fatos. Não bato boca, não brigo com ninguém.

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EO: Você acha, então, que por sua condição técnica não deveria ser tratado dessa maneira?

PET: Prefiro nem pensar nisso para não ficar sem dormir. Impossível ser eleito o melhor jogador do Brasileiro do ano passado, pelo LANCE! e outros veículos, e sempre ser substituído. Todos têm o direito de jogar mal, se machucar, sair, voltar. Isso é normal. Quando estou mal fisicamente sou o primeiro a falar que não dá para aguentar o jogo inteiro e sento no banco normalmente. Foi isso que aconteceu no início do ano. Nunca briguei com técnico. Teve jogadores que discutiram e continuam jogando.

CM: Como vê o desentendimento com Marcos Braz no Fla-Flu? Imagina a pior hipótese: fui sorteado para o exame antidoping, mas fui embora. O que aconteceria?

PET: Sofreria uma punição. Mas não aconteceria nada com o clube. Por que, então, foi levado à imprensa que o clube seria prejudicado? Prejudicaria a mim mesmo. Não deixo de estar errado, por não ter respondido ‘vou voltar’ para o dirigente.
Assumo isso. Prejudicaria o clube indiretamente, se não fizesse o exame, porque ficaria suspenso e não poderia ajudá-lo com as minhas atuações. Mas desde o momento que ameaçaram rescindir o meu contrato é porque o clube não precisa mais de mim.

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EO: Você acha, então, que foi uma coisa orquestrada?

PET: Pedi desculpa e mesmo assim fui punido, de uma forma absurda. Isso me magoou muito. Fui suspenso por dez dias, mas fiquei duas semanas treinando sozinho, como se estivesse de quarentena por estar com a gripe suína. Os companheiros no Ninho e eu na Gávea. Não sei se foi uma coisa orquestrada e não me interessa. Dava vontade de falar, mas não podia para não prejudicar a imagem do clube. Roupa suja se lava em casa, mas tem gente que prefere lavá-la em público.

CM: A negociação para renovar o seu contrato está em curso. A vontade de ficar no Flamengo é a mesma do ano passado?

PET: Não. Absolutamente não. E não me sinto mais confortável no clube. Ano passado falaram que iam renovar em dezembro e isso não aconteceu até agora. Para muitos, pode parecer normal, mas para mim não. Quando foi conveniente acertar comigo, na minha volta, o clube acertou. Quando não é conveniente, os dirigentes não encontram a hora certa e ficam esperando. Mas é claro que há possibilidade de renovar, se for bom para ambas as partes.

EO: Como é seu relacionamento com Adriano e Vagner Love?

PET: Muito bom. A gente não sai à noite, mas nos damos bem. O Adriano é uma pessoa muito boa.Tem um coração muito grande e isso às vezes é mal explorado. Isso aconteceu aqui e lá na Itália. O Vagner Love está se comportando muito bem. É um cara tranquilo, brincalhão, profissional. Não deu nenhuma mancada desde que chegou. Nunca usou de regalias. Chega, treina e tem jogado muito bem. Cada um tem seus problemas fora de campo, mas dentro não tenho o que dizer do Vagner Love. Adriano tem seus problemas, que influenciam dentro de campo, mas com Love isso não aconteceu.

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CM: Você é um jogador diferente, por sua bagagem cultural. Com você vê essa cultura do futebol brasileiro de dar regalias a jogadores?

PET: Esses comentários sobre regalias chegam à imprensa porque os dirigentes falam. Eu não me importo. Faço o que tenho de fazer para honrar o clube que defendo. Não tento ser correto, eu sou correto. Sei o que tenho de fazer para ser correto. Não me importo o que acontece com os outros. Se alguém não quer treinar, isso não é problema meu, é problema dos superiores, dos dirigentes, dos gerentes. O que importa é que o cara, dentro de campo, se entregue e tenha o mesmo objetivo. Um dirigente admitir isso é um absurdo. Na Europa nunca vi disso.

CM: O que você considera o melhor e o pior do Flamengo?

PET: O melhor, sem dúvida, é a torcida. O pior são os dirigentes. Desde minha primeira passagem, o Flamengo é assim. Trabalhei no Vasco, no Fluminense e no Flamengo. No Vasco, você tinha um cara que decidia tudo. Você tinha o Eurico. Isso é bom. Sabíamos quem fazia as coisas. No Flamengo todo mundo faz e ninguém tem responsabilidade. Muita gente mandando dá problema. Sei lá, talvez pelo tamanho, tem sempre mais gente no Flamengo do que nos outros clubes.

EO: Depois do Zico, você foi até mais ídolo do que Romário e Adriano, pelas conquistas que teve. Você tem a medida exata do que representa para o torcedor?

PET: A medida exata é difícil ter, mas sei que a importância é muito grande. Com o passar dos anos, vi que minha passagem pelo Flamengo se concretizou com títulos. Primeiro o tetratri, a Copa dos Campeões e, agora, na minha volta, com o maravilhoso hexa. Tenho muito orgulho de ser comparado a uma figura tão grande e importante para o futebol brasileiro e mundial como foi o Zico. Quando lembro que o Zico fez mais de 300 gols no Maracanã, percebo o quão grande ele foi. Queria mesmo é agradecer por me compararem com um jogador tão marcante e tão craque como ele é.

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EO: Você se arrepende de algo que tenha feito ou deixado de fazer?

PET: Não me arrependo das coisas. Poderia ter feito algumas coisas diferentes. Vejo coisas muito erradas, mas fico quieto e não comento porque não posso. Sou um jogador de bola, nada além disso. Enquanto jogar bola não posso fazer certos comentários, certas coisas que poderia e deveria reagir, mas infelizmente não posso, porque sou funcionário, tenho um contrato em vigor e comprometimento.

EO: Depois de parar, você pensa em ligar sua imagem ao Flamengo, como dirigente ou treinador?

PET: O Flamengo tem seus problemas como qualquer clube brasileiro. No futuro, os que passarem têm de pensar mais na instituição, que merece ter pessoas mais comprometidas, mais responsáveis, porque atrás delas têm uma torcida enorme e maravilhosa. Então, como vai ser o meu futuro não se sabe. Tudo vai depender de quem estiver gerenciando o clube e isso muda de três em três anos.

fonte: lance